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"Fodi e bebi a noite toda.
Eu fiz tudo direitinho.
Não tive a necessidade de lutar."

— GO FUCK YOURSELF, Two Feet

NOVA YORK, VINTE ANOS ATRÁS

E R O S

Era verão em Nova York, fazia uns trinta graus, quando chegara às ruas elétricas e pulsantes da cidade. Pessoas corriam de um lado a outro em plenos anos noventa, vestindo sobretudos e macacões diversos, com penteados abrangendo cabelos volumosos.

Fazia tempo desde que não descia ali, estive infelizmente muito ocupado com Afrodite e os deveres entediantes de um deus.

Mas estava de volta, pronto para voltar à ativa.

E Nova York parecia um ótimo lugar para a mágica acontecer: tinha pessoas bebendo pelas ruas, bares lotados de gente, boates fervilhando. Pessoas que precisavam de festas melhores, as quais eu podia proporcionar com grande honra em meu novíssimo apartamento em Manhattan.

Apolo me dissera uma vez que o futuro daquela cidade seria esplêndido.

E podia tirar minhas conclusões de que, de fato, era.

A campainha não parava de tocar enquanto era um bom anfitrião, o que me proporcionava muitas idas e voltas até a porta. O apartamento estava lotado, em sua maioria, por garotas por volta dos vinte anos. Eu preferia essas, embora não recusasse uma boa transa.

Mulheres mais velhas também estavam ali, a minoria.

Todas elas me olhavam com desejo brilhando em seus olhos frágeis, o mesmo desejo que brilhava havia centenas de anos, desde quando descobrira o quão interessante um mortal podia ser. Eu descia naquele Mundo tão frequentemente quanto podia: a cada vinte, trinta anos.

Olhei em volta do apartamento enquanto duas belas mortais estavam ao meu lado, minhas mãos descendo um pouco mais que a base das costas. Elas constantemente se olhavam entre si e pareciam querer sorrir. Talvez porque eu fosse um verdadeiro prêmio.

Não era todo dia que um deus descia ao Mundo Mortal.

Todos estavam dançando sob o disco pendurado no teto. Todos estavam se divertindo — fosse praticando a arte da luxúria ou não. Eu também era deus do amor, sabe? Embora essa fosse a parte menos interessante.

Gostava mais de pele com pele.

— Não quer subir, amor? — Uma das garotas, ambas loiras, a da esquerda, perguntou. A outra olhou em expectativa, mostrando que era óbvio que iria junto conosco. Um menage.

Eu era mais fã de menages do que de orgias. E fazia tempo desde que me aventurara em qualquer um desses dois.

Esbocei um sorriso para as duas, dizendo:

— Por que não me esperam lá?

No que elas se entreolharam e sorriram, logo assentindo em sincronia.

Antes, eu precisava ser um bom anfitrião — além disso, não havia nada melhor que duas belas moças lhe esperando na cama. Eu levantei o copo de uísque no meio da festa, gritando:

— Que a festa comece!

Porque só então eles estariam todos se beijando e trepando em locais privados. Esses mortais... Tão tímidos.

Ajeitei a lapela do meu terno, de calça boca de sino, e sorri. Era tão lindo ver o que eu mesmo criara. Não havia um santo metro quadrado no apartamento onde não havia gente praticando o que eu lhes dera como deus.

Só que, no meio disso tudo, eu senti. Senti uma brisa fria e, então, o laço de amor. Era uma sensação doce, revigorante. Virei a cabeça para todos os cantos, procurando por aquilo. Procurei por toda a festa, até finalmente achar: dois belos mortais se entreolhavam, frente a frente, as testas quase coladas, perto da extensa janela.

Como dois meros mortais podiam se amar tanto a ponto de me levar até eles?

Eu nunca havia sentido tão intensamente.

Os dois se acariciavam, sorrindo um para o outro, como se o mundo inteiro fosse só deles naquele momento. Eu observei, observei e observei. Nunca havia presenciado tamanho amor, em todos meus anos como deus.

Pareceram não reparar em mim.

Só então percebi.

Percebi que também queria aquilo.

...

n/a: essa foi mais uma att dupla! 05.3 e 06 juntinhos :)

sobre os capítulos serem curtos: vão ter bastante, então não se preocupem!!

beijos e até quinta

Eros: Um amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora