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"Insano, por dentro o perigo me deixa louco.
Não consigo me ajudar, tenho segredos que não posso dizer.
Eu amo o cheiro da gasolina."

— PLAY WITH FIRE, Sam Tinnesz

E R O S

Na tarde seguinte, enquanto bebia do meu copo de uísque e observava a cidade pela parede envidraçada paralela à entrada do apartamento, a todo tempo esperando pela sua ligação, meu celular começou a vibrar, da mesa de centro que estava entre o sofá e a lareira.

Eu decidira procurar um lugar para ficar na noite em que conhecera Psiquê. Não em um motel, pelos deuses. Meus sentidos se aguçavam tanto nesses locais que me dava enjoo. Eu não estava interessado naquilo naquele momento — o que soava um pouco estranho.

Acabara por encontrar uma placa de Aluga-se nos dois últimos andares de um prédio que continha dez. A cobertura, para ser mais exato. Perguntara para o porteiro quem cuidava dos negócios daquele apartamento e ele me encaminhara até o andar abaixo dele, um apartamento ligeiramente menor. Assim que um homem gorducho atendera a porta, o porteiro se fora, e eu jogara uma mala preta de dinheiro mortal aos seus pés, que me entregara as chaves no mesmo instante.

O apartamento era grande demais para mim, contudo, espaços pequenos me sufocavam. Estava acostumado a viver em um daqueles lugares que, se morasse junto com alguém, não cruzaria com ele com frequência. O lugar que agora me servia de estadia era revestido por um piso de mármore preto. Alguns móveis e os banheiros também acompanhavam na cor. A parede e alguns outros móveis, brancos. Era, em sua maioria, preto e branco, como em uma fotografia dos anos 30.

Tive sorte em encontrar um tão próximo dela.

— Bom dia — atendi com um sorriso.

— Aqui é a Psiquê. — Ela disse, talvez um pouco hesitante.

— Sim? — Me sentei no sofá branco e depositei meu copo em cima da mesa de centro, inclinado para a frente, encarando o fogo dançante da lareira. Gostava de admirar a dança.

— Estou livre agora à tarde e à noite.

Sorri como uma criança, satisfeito.

— E você gostaria de me mostrar a cidade?

Uma breve pausa prosseguiu. Do jeito que ela era, sabia que não admitiria. Confesso que estava me divertindo com aquilo, mais do que em décadas — talvez séculos.

As chamas continuavam dançando.

— Pode me encontrar na UC agora?

— Sempre vou ter tempo para você, princesa. — Sorri. — Chego em cinco.

Psiquê me esperava no campus da universidade, sentada embaixo de uma grande árvore, lendo um livro

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Psiquê me esperava no campus da universidade, sentada embaixo de uma grande árvore, lendo um livro. Quando me aproximei, ela me olhou e deu um sorriso branco lindo, fechando o livro quase que no mesmo instante.

Parei por um momento, para admirar ela e seu sorriso devastador.

Ela ergueu uma sobrancelha, como que me desafiando a contar o porquê da pausa. Mas logo se levantou, espalmando a bunda para tirar qualquer sujeira. Eu a observei vir até mim, enfiando o livro dentro da mochila.

Eu olhei para a árvore. Ainda bem que não precisei ir até ela, porque me preocupava de verdade que Deméter fosse fazer alguma coisa comigo. Ela nunca admirou minhas travessuras pelo Mundo Mortal. Preferia que eu ficasse lá em cima com a minha mãe.

— Que foi? Tem medo de árvores? — Psiquê debochou quando ficou frente a frente comigo. Olhei para ela e dei um sorriso. Ela vestia calças jeans pretas e uma regata cinza de algodão, com alguns adereços: dois colares e uma pulseira de ouro.

— Na verdade, eu estava as admirando. — Menti, mas não cem por cento. As árvores tanto me davam nos nervos quanto me atraíam, como se fossem uma armadilha perversa da deusa da agricultura. Pus a mão em suas costas. — Onde está sua amiga?

Psiquê deu de ombros, um pouco hesitante pelo contato nas costas, o que me fez sorrir internamente.

— Pegando algum calouro. São seus preferidos. — Ela sorriu consigo mesma.

Tirei as mãos de suas costas. Estávamos indo em direção à rua.

— E quais são os seus, querida Psiquê? — Eu queria mesmo saber.

Aquela mortal... Ela me instigava. Era a primeira a de fato fazê-lo. Todas as outras... eram meras distrações. Meras mortais. Mas Psiquê prendera minha atenção com seu jeito difícil e enigmático. Seus olhos verdes me encantavam, assim como seu corpo curvilíneo. Mas não era só isso: eu queria muito aprender sobre ela, sobre as coisas que fazia e que gostava.

Não era sexo — embora ela cheirasse a isso, talvez por causa de ontem —, o que soava estranho.

Desejei não sentir mais esse tipo de coisas. Isso me distraía. Isso fazia eu querer aquilo... o que eu quisera desde o dia em que nossos olhares se cruzaram naquele bar. Mas ela era a droga de uma missão. Tinha que ser ela?

Suspirei.

— Nós não podemos ir a pé. É muito longe — ela falou, quando estávamos na calçada.

Olhei para ela, seus cabelos castanhos dançavam. Eu sorri.

— Quem disse isso? Nós vamos de carro, princesa. — Tirei o controle do Audi prata do bolso da jaqueta de couro marrom e cliquei para que abrisse, o que produziu um som curto e baixo.

Ela me olhou, incrédula.

Fui até a porta do carona e abri a porta para ela.

— Por favor, entre.

Algumas pessoas que circulavam pelo campus e pela calçada nos olharam. Não por causa do carro, eu sabia. Mas por causa da beleza. A minha – e nem a dela, ouso dizer — não era mortal como a deles. A beleza dos deuses era extrema, nenhum mortal chegava aos pés... exceto a garota que me encarava, seus olhos selvagens como leões.

Enigmas estampados bem ali, os quais eu logo desvendaria.

...

n/a: ATT DUPLA CORAÇÕES

recadinho na seguinte!

Eros: Um amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora