Sobrou um pouco de mim em você.

3.3K 267 380
                                    

UM ANO DEPOIS

Eu gostaria de ter te enviado cartas, Chanyeol, mas já tentei caber por inteiro dentro de um envelope e o máximo que consegui foi ficar aqui, parado e pensando enquanto fito uma folha em branco que está em cima da minha mesa. Questiono-me por um instante se devo apenas desenhar e te enviar um coração, pois este poderia resumir tudo que sinto sem precisar de palavras sem sentido e preocupação em como a minha letra sairá. Seria apenas um desenho, uma pintura, tanto faz. Iria com cores e contornos por vezes tortos, assim como eu, no entanto, era só uma busca persistente de traduzir a minha saudade sem o porquê de obter perfeição.

Sem o número do seu telefone, sem o endereço do seu hotel, sem a sua caixa postal, sem os seus incontáveis beijos, eu derretia, não porque era feito de açúcar, mas porque me convertia em amargor sendo que minha composição só precisava de um sinal seu. Eu precisava das suas tatuagens passando em minha visão como um desfile recheado com arte, enquanto seu corpo estivesse tapado apenas por uma toalha enrolada na cintura. Eu precisava dos seus dígitos, indicando-me, segurando-me para não cair, marcando meu pescoço.

Um ano havia sido suficiente para que eu desse ao meu pai aquilo tudo que ele tanto queria. Ele queria que eu administrasse sua empresa e eu estudei por madrugadas inteiras como funcionava a contabilidade e suas incontáveis planilhas. Ele queria que eu aprendesse a lidar com negócios, e foi assim que eu obtive inúmeros investidores á sua organização. Ele queria que eu começasse a trabalhar feito louco, e em um mês eu o presenteei com meu primeiro projeto. Ele queria despedir funcionários, afirmando ter como objetivo cortar os gastos, já eu, o mostrei que as despesas estavam justamente nos fundos da empresa, onde tudo era jogado fora assim como a opinião dos empregados.

Meses depois, nossa empresa se tornou uma das organizações com melhores ações do mercado, e todos diziam que eu era como um milagre, herdeiro da sabedoria de meu avô que tinha fundado aquela companhia. Bando de mentirosos, eles sabiam que muitas das conquistas eram dos que suavam dia e noite nos bastidores da empresa, sem ganhar o salário que de fato mereciam, entretanto, era complicado estar num ambiente de festas e eventos que sempre tentavam apresentar á novos investidores como se fosse felinos á procura de caça.

Meu alemão melhorou bastante depois que passei a dividir experiências com os empregados de meu pai e eu acabei aprendendo sozinho o que tanto me assustava. Por vezes, eu simplesmente deixava de pensar tanto e dormia, porque sabia que se caso estivesse acordado, eu sentiria a ausência dele me domar. A única forma de cessá-la era pela televisão, quando Chanyeol aparecia durante as lutas transmitidas ao vivo, lançando o mesmo sorriso de lado, as táticas infalíveis e os olhos baixos, semicerrados, com as luvas preparadas para atingirem o inimigo assim que fosse o momento exato.

Chanyeol conquistou ainda mais lutas depois que viajou para Londres, ele sempre estava estampado na primeira página do jornal, esboçando um sorriso simpático e mostrando ser merecedor das críticas positivas.

O dia estava sendo cansativo, e se eu pudesse, gritaria a cada criança que eu ouvia pelas praças desejando ser grande, o quanto iriam se arrepender por este pensamento um dia quando assim experimentassem na prática. Bom, acontece algo parecido com o amor, certo? Ninguém está preparado até senti-lo. Sentir demais, amar demais, se lamentar demais e voltar ao primeiro passo dos outros tantos em que te levarão a tropeçar mais mil vezes.

Eu havia conquistado um escritório, o cargo de vice-presidente e a admiração de todos, o que para um jovem era um bom título, mas não o suficiente para ser maior do que o de "adolescente mais irritante que eu já conheci" criado pela mente enigmática de um lutador livre pelo mundo. Este lutador que ironizava grande parte do que eu fazia, contradizendo com todos meus objetivos e atos, conseguindo me chacoalhar pra vida e mostrar o que realmente importava nesta. Mas ele deixou-me porque sabia que eu precisava aprender pouco a pouco a como fazer isso por mim mesmo, afinal, Chanyeol havia se encontrado assim, procurando a força de dentro de si mesmo para mostrar a todos a sua volta.

CLINCH | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora