Lembre-se de não revidar.

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Chanyeol poderia ser resumido a um livro antigo, daqueles com as pontas das páginas amareladas e com muitos parágrafos pra contar. Os dias anteriores foram lidados pelo boxeador na base de lágrimas, escondendo a dor no profundo sótão de seu silêncio, carregando nos olhos cansados o temor de se expor para fora.

Nunca fui bom com palavras, ele também não. Quer dizer, ninguém é tão bom até estar calado, pois é na mente em que elas se aninham, se embaralham e se ajeitam, trazendo á tona as poesias mais belas, os pensamentos negativos, as lembranças cortantes e os piores momentos.

Chanyeol agia como se tivesse perdido seu guia em meio a uma multidão. Dormia na maioria do tempo, buscava apenas cessar o tédio com programas na televisão e filmes de ação.

Oito dias. Eu tenho contado, ele não. Ele havia morrido há oito dias e desde então se arrastava pelo quarto do hotel, sem saber como lidar com a morte, sem saber que não existe remédio contra esta, apenas aceitação e a mentira contada vinte e quatro horas por dia á si mesmo, tentando se convencer de que seu último dia não te dará aviso prévio, mas que está lá, pronto para furtar mais um, e até, roubar-lhe de alguém.

― Está sonhando com o quê? ― eu sussurro contra os lábios de Chanyeol, mesmo sabendo que eu não teria resposta.

Passo os dedos na franja, arrastando os fios vermelhos e aproveito de cada ação para acariciar a linha do rosto do boxeador que respira profundamente em seu sono matinal. Um dos braços do maior está entre nós dois e ao lado de sua cabeça, separando-nos. Chanyeol tem o corpo completamente virado para minha direção enquanto eu o admiro de perto. Está sem camisa, dando-me a oportunidade de admirar todos os contornos de suas tatuagens.

Está sonhando comigo, Chanyeol? Eu sonho tanto com você que me pergunto se dividimos do mesmo mundo de ilusão pelas noites, este que parece ser controlado pela invasão que os sentimentos em excesso causam em mim.

É como se ele tivesse se perdido no tempo, tentando se encontrar quando me abraçava do nada, na cozinha, ou quando com sua voz rouca me chamava pelas manhãs depois que eu sumia do outro lado de sua cama. Qual seu medo, Park Chanyeol? De eu sair por aquela porta e nunca mais voltar? Não faz sentido pensar isso, treinador! É como você mesmo mencionou uma vez. Ninguém desampara aquilo que te faz feliz, certo?

Chanyeol tem tido muitos pesadelos, soado bastante enquanto cochila e ás vezes, agarra minha cintura durante a madrugada com tanta propriedade que é como se eu fosse um analgésico pronto para curar a falta e o buraco que dá morada a solidão desde que viu sua mãe pela última vez.

Alguém daquele tamanho, em dias, teve a alma transformada na de uma criança que chora no banco de trás de um carro, na volta para casa, tudo porque o brinquedo que tanto queria não fora comprado. Ele passou a acreditar que o mundo é injusto, pois este o roubou algo que a vida mostrava por vezes o pertencer. Com uma força gigante, mas ainda assim, sensível.

― Baekhyun? ― meu nome soou pelo quarto na voz do lutador.

Ultimamente, para vigiá-lo, eu tenho ficado o tempo inteiro em alerta, sem me importar com minha vida lá fora tudo para protegê-lo com escudos fracos que possuo. Afinal, ninguém nos ensina que quando crescemos, não são dos monstros que ficam debaixo da cama que devemos temer, mas sim, aqueles que residem em nossa mente o dia todo. Estes sim causam um dano e tanto, não?

― Sim? ― respondo fraco, ainda afagando Chanyeol.

Paro por um momento para assisti-lo abrir os olhos vagarosamente, revelando as íris escuras, as linhas dos olhos grandes e perfeitamente alinhados.

― Ainda está aí?

Dou um leve sorriso, balançando a cabeça em positivo.

― Está tarde, levante, vista-se e vá para seu curso.

CLINCH | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora