Lute! Só assim provará da vitória.

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Eu sempre admirei pessoas fortes. Tentava entender o motivo pelo qual elas levantavam todas as manhãs e carregavam os filhos nas costas por longas estradas, a pé e sem nenhum tostão no bolso. Em minha antiga vida, quando morei com meu pai, não me faltava nada, tudo na mesa era sempre servido em grandes proporções e cada mês o modelo do carro na garagem era substituído. Eu não tinha essa realidade de não conseguir algo com o dinheiro da empresa do meu pai, a não ser, a coragem. Ela, sim, não tem preço, se não adquirida, a vida só é mais uma aventura futilmente desperdiçada, como os olhares perdidos na rua naquele embalo de sentimento de eu-conheço-essa-pessoa-de-algum-lugar, sem perceber que se a curiosidade não for enfrentada, será apenas uma boa história a ser desperdiçada.

Às vezes, eu sinto como se tivesse sobrevivido, sido arrastado pelo destino depois de algumas bofetadas na cara até entender o que eu me tornaria para Chanyeol mais tarde, umas estações depois. E se eu tivesse conseguido fugir dele? Das manhãs em que ele me pedia para ir ao treinamento? E se eu não tivesse assinado aquele contrato ou se tivesse sumido para outro país? A história seria a mesma ou eu estaria apenas andando um pouco morto de vivência por aí? Eu ouço murmúrios em cantos desolados com afirmações convictas de que o amor não salva, de que ele não cura, de que é uma mentira ou uma lenda alimentada, uma boa desculpa para poéticos, de que é só uma fase, um surrealismo com limite de perímetro, mas eu queria entender o quão doentes essas pessoas estão em não ver que o que nos resta é o amor. Nada mais vai sobrar quando fechar os olhos e as batidas do coração te questionar o que resolveu levar daqui. E não levar nada é como não ter vivido.

Todo mundo ama, não é nem meio, nem um pouco ou em pequenas porcentagens, tem que ser completamente amor. Há pessoas que amam até mesmo sua própria ignorância, sua razão, sua coleção inestimável de corações partidos, mas tudo bem, afinal, são memórias e o que se levar dela, te faz o que é por dentro.

Suspirei alto, tentando liberar aqueles pensamentos para fora de minha mente. O vento que entrava pela janela batia contra meu rosto e o sol fazia com que meus olhos se comprimissem pela dificuldade de observar a paisagem daquela tarde tão tranquila. Era como se eu estivesse recebendo anestesiante da natureza diretamente em meus poros, como se o barulho dos galhos das árvores se movimentando fosse aplicado em minha audição como antídoto.

Não havia nada pelo que gritar do último andar daquele hospital, afinal, quem ouvisse de lá debaixo, me julgaria como um louco e me ignoraria, imaginando que aquilo era somente mais uma de minhas alucinações. Eu só queria ser um porto seguro para Park Chanyeol, queria ser o primeiro a estar ali para que quando ele abrisse os olhos, todos ao redor me apontassem e dissessem que eu me mantive firme como uma rocha.

Mesmo já tendo se passado cinco dias desde o acidente, o lutador continuava deitado na maca com algumas picadas de agulha num braço e o soro em outro. Nos últimos dias, eu tinha notado o quanto seus cílios eram grandes e atraentes, e as veias de seus dedos, aparentes. Notei também que o vermelho estava desaparecendo e o preto original de seus fios cabeludos belamente surgiam, me fazendo questionar se realmente eu gostava de como eles eram antes sendo que sua cor natural era ainda mais marcante.

Olhei-o de canto, buscando controlar a preocupação que estava escondida por debaixo do tapete, tentando me convencer que era inexistente, quando na verdade, ela me sufocava aos poucos. Ele parecia tão calmo, sereno, como manhãs geladas, como chuviscos pela tarde e silêncio pela noite. Ele parecia estar dormindo, mas não é como se esse fosse um dia qualquer onde ele levantaria, viria até mim arrastando os pés descalços pelo chão frio e me abraçaria pela cintura. Eu continuava esperando que ele fizesse aquilo, que voltasse e me acordasse daquele pesadelo.

Não havia flores nos vasos no quarto em que eu estava, como nos outros tantos que havia naquele lugar. Tinha a impressão que elas eram colocadas lá de uma forma fúnebre, simbolizando principalmente sua própria morte por serem arrancadas da terra em que se mantinham. Não queria que elas secassem na estante ao lado de Chanyeol, não queria que o lutador as tomasse como exemplo, muito menos que acordasse com flores falsas colorindo seus olhos. Eu preferi pinturas, pequenos quadros com pinturas de cores vibrantes em contornos finos, sutis, recostados na parede e prontos para serem analisados por ele.

CLINCH | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora