Na infância, Sehun me ensinou a como prender a respiração embaixo da água. Éramos apenas dois garotinhos competindo para saber quem conseguiria segurá-la por mais tempo com todo aquele peso sobre o corpo, os braços abertos e as pernas soltas abaixo da água enquanto nos encarávamos segurando o riso dentro da boca. Era divertido, eu me sentia único, dono do mundo inteiro. Era como se aquela fosse nossa terra do nunca, nosso chão intocável. Mas quando eu cresci, a água tornou-se símbolo de morte, símbolo de perigo, eu me alagaria de recordações e tudo voltaria a espancar meu coração com bordoadas.
Na adolescência eu poderia dizer que minha vida se tratava apenas de lembranças, esta respirava disso. Meu corpo simplesmente era vago e oco andando de um lado para outro enquanto os pés mal tocavam no chão pelos cacos impregnados na ponta de meus pés. Oh Sehun não era o único causador daqueles machucados, mas meu coração inocente era o grande vilão burlando minha mente numa ilusão arrebatadora. Sempre tão controlador, as veias pulsando pelos nossos momentos na infância me levava até as alturas, eu abria os olhos e era como cair de lá de cima, calhando diretamente pro chão, assistindo meu destino me mostrar o pára-quedas cada vez mais longe das minhas mãos. Ataduras são como memórias que nunca cicatrizam como devem, elas apenas tapam com acidez e apertam, sufocando-nos até deixar marcado o que deveríamos nos desatar e continuar em frente como soldados feridos, porém, invencíveis, afinal, qualquer que seja o tombo, este sempre será transformado em apenas um arranhão na chegada. Eu estava ali para lutar quando sem perceber apenas tinha me entregado para perder. Perdia tudo ao meu redor, meu tempo, minha mente, meu coração, meu eu, minha alma. Perder era viciante, perder era sufocante, perder era como olhar nos olhos de Oh Sehun embaixo da água e quase sorrir, perder era subir na superfície da piscina onde brincávamos e dizê-lo "Você venceu, Sehun" pela milésima vez na semana e ainda com um sorriso esperar que ele se gabasse por isso. Perder era receber um golpe no rosto antes da aula e voltar pra casa tentando entender o que nem ao menos se mostrava fazer sentido. Perder era perder e Chanyeol odiava perder. Park Chanyeol odiava abaixar os olhos numa luta assim como eu naquela piscina, mas Chanyeol não abaixava por sentir demais, Chanyeol abaixava por querer ganhar com a força que sempre treinou para ter, e ele obteve tanto desta que eu sentia que era bem mais forte do que eu nesse sentir, em se consumir.
Chanyeol sabia nadar sobre os sentimentos, havia treinado melhor do que eu nesse quesito. Correnteza traduzia-o. Ele me levava pelos braços, arrastava-me em ondas turbulentas, me fazia fechar os olhos apenas para permitir-me ser puxado sem intenção de voltar. Chanyeol era a cura para minhas memórias, era o tratamento intensivo para que eu respirasse fundo e continuasse sem pensar em perder, sem me prender ao que havia me deixado solto.
Enquanto eu passeava com meus olhos do queixo até os lábios entreabertos que suspirava com lentidão pela sonolência, minha visão apenas agradecia a cada detalhe que eu analisava. Meu corpo estava recostado ao dele que se encontrava com todo o peitoral desnudo. Chanyeol estava abraçado a mim, acho que tinha o feito desde que havia me trazido para sua casa e dito que eu poderia dormir com ele naquela cama que eu havia sentido saudade.
Uma das pernas compridas do boxeador estava no meio das minhas, eu até tinha vontade de acordá-lo e perguntar se estava com dores pelo corpo por ter me suportado a noite inteira dormir em cima de seu braço ou pelo fato de estarmos dividindo o mesmo cobertor, mas assim que o percebi absorto pelo cansaço, não ousei despertá-lo.
Com cuidado, eu tirei um dos braços dele de cima de minha cintura e quando ouvi o suspiro baixo, me assustei, acreditando que tinha o acordado, porém, ele continuou virado em minha direção enquanto eu me retirava de seu corpo e da coberta para me levantar da cama.
Cocei os olhos, andando descalço pelo salão e sentindo o cheiro de chuva impregnado pela minha roupa. Meu corpo ainda parecia estar sonolento quando este deu alguns impulsos para o lado em desânimo.
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CLINCH | ChanBaek
RomansaO nome sempre repetido pelos torcedores era o mesmo, Park Chanyeol, o melhor lutador de boxe da atualidade. Era óbvio que eu me lembraria de suas inúmeras tatuagens, de seus olhos intensos e de sua atitude convencida. A tentativa de ir contra todo a...