Faísque seu melhor olhar.

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CHANYEOL

Incalculáveis, os golpes que eu dava no heavy bag eram dados um seguido do outro. Minha respiração ensaiada era soprada para fora de meus pulmões com truculência, meus cabelos atrapalhavam minha visão, mas tudo bem, aquele sentimento perturbava meu coração também e nem por isso ele havia se retirado, pelo contrário, ainda que eu tentasse, a artimanha permanecia lá, contínua e intocável.

Apertei os dedos sobre a bandagem, pressionei os pés afastados no chão ganhando ainda mais flexibilidade entre a agitação. O suor escorria pelo meu rosto, mas não substituiriam lágrimas que se sufocavam em mim.

Ofeguei, pausando apenas para fixar meus olhos naquele objeto vermelho de socar. Imaginei que o interior deste fosse preenchido com sentimento, carregado e preso por um fio, semelhante ao meu eu de agora e ao mesmo tempo tão diferente da minha versão de alguns meses atrás.

Pausei quando senti meu coração disparar feito louco e havia motivo. Ah sim, sempre houve muitos! O sorriso de lado, o costume de andar distraído, o jeito teimoso de persistir no que aquela cabecinha acreditava, a rebeldia, o dom em me deixar mais anêmico de opções e uma forma de ver o mundo diferente de tudo que eu tinha lidado até então.

Nunca desejei me fazer de derrotado para aqueles batimentos, mas eu estava cansado, minhas pernas sucumbiam pela fadiga em tentar lutar contra. Sentei-me no chão e tomei um gole de água da garrafa, assistindo o heavy bag no teto balançar de um lado para outro.

Silêncio, eu sempre me acostumei á tê-lo como companheiro de vida, por tanto tempo existi por mim sem enxergar ou ouvir as vozes ao meu redor, e caramba, dessa vez aguçar meus ouvidos realmente havia feito um estrago e tanto. Eu o ouvi, o ouvi desde o momento em que botou os olhos em mim e não tirou mais. Era como escutar a música alta em seu fone de ouvido ainda que eu estivesse de costas naquela noite, porque desde o momento em que ele apareceu, trouxe consigo e levou-me tudo. E é engraçado pensar que eu acabaria assim, sozinho, mas por outro lado é deprimente pensar que isso ocorreria depois dele, pois nunca imaginaria que pesaria tanto.

Apertei a garrafa já vazia, fazendo-a se tornar apenas um objeto de plástico socado entre meus dedos e permiti que caísse ao lado de meus pés, deixando o barulhinho roubar todo o ambiente.

Olhei ao redor e lembrei-me das palavras, de quando ele havia me questionado o motivo por eu gostar tanto desse lugar, por não trocar o que muitos chamariam de velho e ultrapassado. Senti um arrepio incomodante me dominar. Não estava frio, mas ainda assim eu sentia falta de me recostar á ele sem licença, das vezes em que o pegava sorrindo de algum programa de televisão, da voz baixa que me aborrecia quando não ouvia direito, do assovio pelos cômodos e até mesmo do arrastar de tênis pelo salão.

Abaixei a cabeça entre meus joelhos e ali recostei minha testa, no meu próprio breu. Nada de lágrimas, mas também não havia golpes que o trouxessem de volta quando eu me sentia no chão, imobilizado por tudo que ele me fazia experimentar. Seu baixinho irritante e de beijos inigualáveis! Responda-me como te odiar? Porque se acha que não o digo o contrário, qual seria sua dúvida de que eu seria capaz de assim fazê-lo? Eu era tão humano como ele, sim, eu era a droga de um humano que se calava, o que tinha de incrível nisso?

Levantei-me e enquanto guardava a bandagem, algo saltou de meus pertences e caiu diretamente ao chão. Era um dos desenhos. Eu sorri de canto, peguei o papel em mãos e me recostei ao armário ao notar a devoção em cada detalhe, as linhas perfeitas e a assinatura no canto.

Aquela arte em minhas mãos não era descartável como a garrafa, não, aquele fino papel tinha um poder tão grande sobre minhas ações que assim que o contorno surgiu em minha visão, o coração voltou a se desfiar em agonia, meus pés quiseram correr o máximo que eu podia apenas para resgatá-lo da ausência e trazê-lo de volta antes que sumisse de uma vez.

CLINCH | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora