the Z of my question

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Eu não consegui me decidir se botava as definições no final ou no começo, então acho que vão ficar no meio mesmo. Aliás, você é alguém novo e não está dentro de mim para saber como as coisas funcionam. Só posso dizer que é tudo meio confuso. Porque eu tenho dias estranhos às vezes, mas eu vou explicar. Só preciso que fique aí por um tempo.

E olha só, eu preciso mesmo contar isso para alguém, tá legal? Eu sei que você deve ter coisas importantes, mas o mundo não gira só ao seu redor! Então se liga em mim por um tempo e tenta tirar algo disso depois, vai ser rapidinho, a gente pode começar agora com mil palavras.

Li 6 livros especificamente sobre romance em toda a minha vida. Digo especificamente porque é quase impossível que qualquer história já contada, seja ela de aventura ou de qualquer outro gênero, não tenha uma abordagem longa (ou até mesmo um capítulo inteiro) sobre o romantismo que acompanha a humanidade. Esses que li, então, eram completamente sobre amor, e os melhores deles começavam todos da mesma forma; com um homem, uma mesa de bebidas e uma mulher.   Bem, a minha começa comigo aos 17 numa bicicleta, depois num gramado que não é meu,  e por último com outra mulher de 18 que pretendia me ensinar que se consegue fazer qualquer coisa se é capaz de fazer uma garota rir pelas razões certas.

Tá ok, não me chame de esquisita, mas eu costumava mesmo pedalar à noite. Às vezes eu faço isso pensando no sono polifásico, e aí tento me convencer a aderir esse estilo de vida, mas nunca dá certo porque sou uma admiradora de camas. Teve um dia que eu estava pensando na teoria de Arquimedes enquanto sentia o gelo que envolvia o guidom de inox da minha bike, aí disse para mim mesma: qual o problema desse cara? Acho que ele não tinha uma bike. E teve outro dia que eu pedalei em silencio durante todo o quarteirão porque minha cabeça estava vazia e eu não prestava atenção em nenhuma música que tocava nos fones. São os dias estranhos.

É que eu sempre ouço uma frequência, melodia, o tempo inteiro. Não incomoda, eu sei que é incomum, e eu gosto. Mas raramente eu me vejo dentro de uma situação não habitual de não escutar; é o que eu chamo de dias estranhos. Isso se dar simplesmente quando eu não ouço todo aquele acervo musical, e às vezes, quando os ouço desafinados. Ah, como aquela vez que eu estava no ônibus e o cobrador dedilhou uma perfeita escala musical ao contar as moedas, foi tipo dó, ré, mi, fá... e aí ele pareceu ter escorregado o dedo em uma tecla podre. Me rendeu uma baita dor de cabeça.

Eu sempre quis um da edição especial da Sony, mas era caro, então me contentava com o antigo Walkman do meu pai. Já tinha sido difícil o suficiente convencê-lo a me emprestar durante a noite, imagina lá me dar um novo. Então tudo o que eu podia fazer era escutar ao rádio e decorar as melodias e letras, para tê-las na cabeça e repeti-las mentalmente durante o dia, já que eu não podia de fato ouvir música o dia inteiro.

É, eu sei que eu estou enrolando para chegar no ponto principal, não reclama, mas é que você precisa me conhecer e eu preciso desabafar. É anos 80 e eu ainda sou meio antissocial. Mas não vamos entrar em outro caminho, devo respeitar os sinais e seguir em linha reta, não vou entrar nas curvas porque isso pode ter mais de mil palavras e como sou uma garota de palavra e disse que seria algo rápido, não quero tomar o seu tempo. Mas o fato é;

Eu sempre escutava músicas pedalando. Mas teve uma vez que foi diferente, e foi como se Deus estivesse falando comigo. Digo, seja lá quem seja Deus, algo poderoso transbordou daquela música para os meus ouvidos. E achei que meu estado de espirito não estava condizendo com o meu corpo físico naquela bike, aí resolvi parar de pedalar e deitar na grama em frente a uma casa qualquer, porque precisava absorver todos aqueles sons e palavras e não achei que conseguiria fazer isso enquanto estivesse em movimento.

Eu olhei para o céu, era a hora do jantar e eu adorava, mas naquela hora eu senti que só precisava ficar ali por um tempo, sentindo a grama bem cortada me espetando a pele por baixo da roupa e encarando o céu escuro. Ele estava brilhando em estrelas. Por que eu tive a sensação de que elas estavam me mostrando algo? Eu não sei. Mas certamente seria um dia especial.

Meu inglês rebuscado me falava que a música dizia; Me encontre lá, derrubando as paredes do tempo, me prometa que vai esperar somente por mim. E eu comecei a pensar que as pessoas serem pessoas nunca foi algo que bastasse. Todo mundo precisa ser (ou na maioria dos casos ter) algo a mais do que somente elas mesmas, tipo ter um nome a mais para as pessoas te chamarem, como doutora ou policial, advogada, algo que se deriva de alguma profissão (Particularmente eu queria ser chamada de srtª bilionária Lalisa Manoban, mas não tenho atributos para isso), ou ter dinheiro o suficiente para comprar roupas bacanas e isso bastaria. Por enquanto eu não basto porque sou apenas eu, bem, se eu atendesse aos requisitos de quem basta talvez tivesse amigos. Mas acho que não fui feita para estar com alguém que não fosse eu mesma, então quem estaria esperando somente por mim, já que tudo o que tenho é apenas a certeza de que sou alguém e que isso só, não basta.

Eu poderia ir mais afundo nisso, mas aí eu percebi que tinha parado de escutar a música para ouvir meus pensamentos, então voltei a me concentrar nos sons.

Até que um rosto invadiu a vista do meu céu estrelado, tinha o cenho franzido, bochechas avantajadas, boca rosa e olhos puxados.

Presta muita atenção agora porque aqui é onde fica o Z da questão.

(ah, sim, eu quis botar Z porque normalmente as pessoas usam o X e se eu botasse "o X da questão" eu iria ter a sensação de que estava seguindo os passos de outra pessoa. E por que não poderia ser o Z? Digo, ele está bem perto do X, por que ninguém pensou nele ao criar uma expressão como essa? Estou trabalhando inclusão social em sociologia e achei uma boa começar com o Z.)

Então, ela é o Z da minha questão.

(Eu também poderia usar o J. O fato de o J ser a única letra que não está na tabela periódica é meio estranho, não acho que eu deveria perder tempo pensando nisso, mas não consigo simplesmente ignorar, até porque o nome da minha questão Z começa com J, e por coincidência essa é a única letra que não está na tabela periódica - verá mais sobre isso nos próximos capítulos e vai se dar conta de como faz sentido).

Até nisso ela se destaca, ela é avessa a tudo, não atende à demanda.

Mas aqueles olhos que se curvavam, finíssimos, quando sorria. Como duas luas, ou como, mais ou menos, o formato daqueles chips de cebola. Por isso que queria fazê-la rir sempre. Não me culpe! Culpe aquelas linhas brilhantes que eram os seus olhos. Aspas são usadas para realçar determinada parte de um texto. E se ela fosse um texto, aqueles olhos eram de fato como duas aspas do seu rosto pequeno que marcavam como evidência o seu sorriso de dentes pequenos. Jennie conseguia tudo, conseguia até ser um texto e literalmente desenhar:

'sorriso'

com o rosto.

Não sei exatamente como tudo aconteceu.

Só sei que, embora tudo o que tivesse acontecido seja algo que eu considero bem difícil de lidar, se eu tivesse outras vidas, pediria Jennie em todas elas. Em uma alternativa com Anjos e Demônios ou em outra de ação com pessoas usando armas. Prometo que te daria o melhor de mim em qualquer uma delas.

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora