Minha casa

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- Como é? Ela riu baixo afastando o copo da boca e olhou para todos ali.

- Seu pai vai fazer um jantar de Natal. James falou entrando no quarto calmamente e se sentou ao lado de Jeffrey. – Ouvi que é tradição dos Curtis...

- Ah sim. Ela concordou sorrindo fracamente. Imaginou que o pai gostaria de fazê-la acreditar que nada havia mudado, mas ele estava muito errado quanto à isso.

- Vamos para casa, preciso terminar de arrumar as malas. Julie falou por fim se levantando da cama da amiga. – Nos vemos amanhã de manhã. Ela sorriu se despedindo de Stacy com um beijo no rosto e saiu com Guilherme e Alissa.

- Por que parece tão decepcionada? Tom perguntou enquanto Jeffrey e Johnny saiam para comer algo na cantina.

- Não queria passar por um jantar desses... Só vou perceber o quanto tudo mudou. Ela desabafou vendo James sorrir de lado e caminhar até sua cama.

- Às vezes mudar não é tão ruim. Muita coisa nova vai surgir no seu caminho agora. Sei que é fácil dizer isso..., Mas precisa lutar. Sei que consegue.

- Concordo com ele. Tom falou sorrindo e se sentou na cama da garota.

- Lembra o que eu te disse no seu primeiro jogo? O da final? James ergueu a sobrancelha olhando para ela em seguida.

- Ainda não acabou. Ela sussurrou se lembrando vividamente daquele momento e sorriu. – Não sabia que ouviria isso de novo...

- Algumas coisas acontecem para nos tornar mais fortes. Mais corajosos. O garoto disse colocando o braço sob o ombro de Tom. – E para nos fazer entender que sempre é possível, mesmo que as chances sejam mínimas.

- Qual é, Davies! Passou a noite lendo livros de auto-ajuda? Tom brincou olhando para o amigo com um sorriso torto no rosto e James gargalhou baixo negando.

- Essa era uma letra que fiz para minha mãe. Quando ela faleceu... Ela costumava usar esse discurso comigo toda vez que eu me entristecia por não conseguir algo. James sorriu como se lembrasse claramente daquele momento.

- Aonde está essa música? Tom arregalou os olhos curioso com o que acabara de ouvir. – Por que não entrou no álbum?

- Porque Harry quer fazer uma edição especial com as músicas que foram descartadas. Achei interessante. Ele deu de ombros percebendo o olhar de Stacy sob si. – Mas enfim... Não pense que acabou.

- É o nome da música? Ela perguntou de modo divertido e os três começaram a rir em seguida.


          Harry abriu a porta do quarto do garoto e percebeu a bagunça que se alastrava ali. Caixas de pizza espalhadas pela casa, roupas no chão, pares de sapatos por todos os lados e um forte cheiro de cigarro e álcool. A Universidade havia ligado para os pais do garoto, para que o retirassem dali, mas ninguém além de Harry foi paciente o suficiente para entrar no quarto e arrancar o garoto de lá de dentro. David havia conversado bastante com a esposa e os dois entraram em acordo para voltar a internar o rapaz em uma clínica de reabilitação, na esperança de que houvesse alguma mudança. O ex militar e agora diretor se sentia terrivelmente envergonhado frente ao seu velho amigo. Gabriel tinha participado do que acabou com o sonho de Stacy para sempre. O homem seguiu andando pelo quarto em busca da figura do rapaz e o encontrou no que deveria ser seu quarto. Os móveis estavam jogados pelo cômodo, haviam vários pedaços de garrafas quebrados no chão e ele estava sentado no canto da parede, como se estivesse se protegendo de alguém.

- O que deu em você? Harry perguntou se aproximando e Gabriel lhe olhou com um sorriso apagado.

- Não consegue ver que estou ótimo? Ele riu tragando o cigarro e soltando a fumaça perto do amigo. – Por que veio?

- Porque mesmo agindo como um idiota, eu me preocupo com você. O homem falou tomando o cigarro das mãos deles e o jogou no chão, apagando o mesmo com um pizão. – Agora se levante. Há quanto tempo não toma um banho? Harry fez uma careta puxando-o pelo braço e levou Gabriel para o banheiro. Enquanto ajudava o rapaz a tomar banho e observava seu péssimo estado, Harry se lembrou das inúmeras vezes que havia aconselhado o rapaz, mas ainda assim ele cometera um grande erro.

             Os pais de Gabriel o levaram logo após Harry trocar suas roupas e deixar o garoto apresentável. Jessie sugeriu que voltassem para a Transilvânia, aonde ele já havia iniciado um tratamento antes. Mesmo relutando muito, David aceitou e naquela tarde mesmo partiram para o novo destino do rapaz. Lhe pesava muito ver o amigo assim, mas naquele momento era tudo que podia ser feito por ele. A polícia havia solicitado um valor exorbitante de fiança e havia marcado uma audiência em que ele terminaria recebendo uma sentença de trabalho voluntário e tratamento por anos.

- Não fique assim. Joyce disse acariciando os ombros do homem quando ele passou pela porta com um olhar mais vazio do que qualquer coisa.

- Eu quis tanto que ele não se metesse em confusão e olha aí para ele... O homem sussurrou abraçando Joyce pela cintura e ficou em silêncio, deixado que o carinho que ela lhe fazia nas costas e seu aroma tomassem conta dele.

- As pessoas escolhem o próprio destino Harry. Gabriel escolheu o dele... Não havia como você ajudar.

- Me sinto péssimo por Stacy. Ele confessou ainda sem olhar a mulher. – Não tive coragem de vê-la ainda.

- Poderíamos fazer isso antes da viagem. O que acha? Você já vai estar bem preparado. Joyce sorriu se separando dele e lhe deu um beijo no nariz. – Vai aguentar essa.

- Vou fazer de tudo para ajudar ela e a família. Me sinto responsável por Gabriel. Harry falou sorrindo ao perceber que Joyce estava afastando sua camisa com as mãos e lhe beijando o pescoço. – Não tenho certeza se vou aguentar essa...

- Achou que eu não iria vir, não é? Jéssica disse sorrindo e entrou no quarto da garota com o resto do time. A escola inteira estava sabendo do acontecido com a estrela do time e a estória se espalhava cada vez mais.

- Não esperava que viesse. Nenhum de vocês. Stacy confirmou apontando para as colegas. – Não deveriam estar em casa? Aproveitando o Natal.

- Metade do time é daqui, e digamos que eu passei o natal com meu novo namorado. A líder de torcida sorriu divertidamente se aproximando da cama. – Fico feliz que você esteja bem. Me contaram que vai embora... Esperava te ver por mais tempo. A garota confessou um tanto entristecida.

- Eu preciso de um tempo. Talvez algum dia eu volte e visite vocês. Mas saibam que foi muito bom jogar nesse time. Obrigada por tudo e boa sorte para vocês. Ela disse de coração, com um sorriso sincero no rosto. Assim como as Red Devils, o time a abraçou ao mesmo tempo e falaram várias coisas encorajadoras antes de partirem.

- Curtis? Uma voz conhecida chamou na porta e Stacy pode ver Thai surgir com James em seu quarto.

- Ela queria te ver. Ele sorriu enquanto a garotinha corria até a cama de Stacy, escalando com uma habilidade surpreendente.

- Oi. Thai sorriu acenando para Stacy e logo estava ao seu lado segurando sua mão. – Papai me contou o que aconteceu com você. E acho que você vai ser forte e guerreira como Carinae. Ela disse fazendo James e Stacy rirem baixo.

- Ela é uma grande fã. Sinto muito. James brincou se sentando na poltrona ao lado da cama. – Cadê o presente que você fez? O garoto perguntou para a irmã enquanto ela procurava algo no bolso de seu casaco moletom rosa.

- Isso é para você. Thai sorriu entregando um pedaço de papel em forma de rolo. Haviam alguns desenhos em linhas ao longo do papel e Stacy franziu o cenho confusa, prestes a agradecer quando a garota sussurrou: - É uma lagarta. Como você nesse momento..., Mas se cuidar bem dela... A garota fez menção de rolar o papel nos dedos de Stacy e duas asas cor de violeta surgiram ao redor. – Ela é capaz de se tornar o que ninguém espera. Thai sorriu enquanto James observava a garota à sua frente. A mãe tinha razão, ela era sim muito especial.

- Muito obrigada por esse presente lindo. Stacy sussurrou quase chorando e a pequena abraçou a garota com cuidado.

- Não chore muito. Logo você vai ser uma linda borboleta de novo. Thai declarou se afastando e desceu da cama. – Vou comer algo com o tio Jeff. Ela disse correndo para fora e James apenas concordou enquanto a porta se fechava.

- Você ajudou ela com isso? A garota perguntou observando minuciosamente a borboleta. – Foi muito inteligente.

- Não foi ideia minha. Infelizmente. James acrescentou com um sorriso. – Ela costuma fazer essas coisas com Yumi.

- Por que Thai está com Jeffrey? Stacy quis saber curiosamente enquanto James se aproximava de sua cama.

- Por que Johnny provavelmente está jogando os charmes dele em Yumi. O garoto riu baixo vendo a expressão de espanto no rosto de Stacy.

- Não acho que ele tenha chance... Ela sussurrou pensando naquele assunto de repente. – Talvez Jeffrey...

- Yumi curte bad boys, acredite ou não. James gargalhou vendo Stacy se mostrar surpresa. – Eu sei, nem eu acredito.

- Ela é tão séria... A garota falou vendo o rapaz dar de ombros.

- Uma médica precisa de diversão. Ele sorriu torto e observou o rosto dela, parecia muito melhor. – Pronta para voltar para casa? James perguntou enquanto Stacy concordava com um sorriso.

- Me desculpe por ter sido grossa.

- Faz parte. Ele riu baixo e tirou o celular do bolso em seguida. – Estava pensando...

- O que vai tentar me convencer agora? A garota riu baixo vendo James lhe mostrar a língua.

- Lembra disso? Ele mostrou a foto da escadaria de sua casa e rapidamente Stacy se lembrou daquela barreira. Como iria subir até o quarto? – Seu pai me contou que precisa fazer umas adaptações na casa. Eu pensei que... Vocês poderiam ficar lá em casa até tudo estar pronto.

- Na sua casa? Mas e o seu pai... Ela disse já imaginando todo o transtorno causado.

- Está vazia desde que entramos em turnê. Eu e minha família vamos ficar no Darin. Digamos que tem uma casa secreta nos fundos... Ele riu baixo vendo como ela ficara surpresa. – Está tudo bem?

- Eu nem sei como te agradecer por isso. Você tem pensado em tudo... E até me aguentou sendo uma idiota... Mesmo depois de tudo que te fiz passar. Stacy disse se lembrando do que Gabriel dissera sobre o pedido de casamento.

- Águas passadas. Ele sorriu e estendeu a mão para ela. – Trato?

- Trato. A garota concordou apertando a mão do rapaz e encarou os olhos negros de James com atenção. – Não sente raiva de mim? Por não ter sequer escutado sobre o pedido... Ela arriscou vendo a surpresa preencher os olhos do rapaz.

- Como... Ah Harry. Aquele boca aberta. O garoto rolou os olhos rindo em seguida. – Para ser honesto, eu fiquei com muita raiva quando você foi embora. Mas não foi o suficiente para que eu te odiasse. Eu só estava triste. Talvez... Tenha sido até melhor você não ter ouvido. Porque seria mais doloroso ouvir um não. Ele sorriu e se levantou da cama ao escutar um pigarro de Taylor na porta.

- Davies... O homem disse em tom firme e riu logo em seguida. – Obrigado pela proposta. Taylor sorriu se aproximando do garoto e lhe dando leves tapinhas nas costas.

- Não me custa nada. Ele deu de ombros e sorriu para o homem ao seu lado. – Significa muito para mim poder ajudar.

- Imagino. O pai da garota falou de um modo sincero e encarou a garota, que ainda parecia silenciosa demais.

- Hora do banho. Um grupo de enfermeiras surgiu na porta e os dois partiram logo em seguida, deixando Stacy sob os cuidados da equipe.


- Soube que Gabriel foi internado. Guilherme comentou na hora do jantar e os outros garotos da banda ficaram em silêncio. Ninguém parecia querer opinar sobre o assunto, principalmente Johnny, que havia se sentido a ponto de matar alguém.

- Ele vai precisar de muita ajuda. Julie respondeu cortando um pedaço de carne e Tom encarou os amigos perplexo.

- De que lado você está? O garoto questionou parando de comer e encarou a mulher, como se fosse alguém do time adversário.

- Quando você faz algo ruim... Isso pode te corroer muito também. Eu o odeio pelo que fez a Stacy, mas também vejo que ele mesmo deve estar se odiando agora. E com o tanto de problemas que tem...

- Ele não vai se suicidar, se é isso que quer dizer. Johnny rolou os olhos entediado e virou o copo de vinho de uma vez. – Não é idiota em tirar a própria vida. Eu só espero que aquele motorista de merda apodreça na cadeia. E se Gabriel pensar em se aproximar de Stacy... Juro que eu mesmo arrancarei a cabeça dele. O rapaz esbravejou vendo como todos pareceram surpresos com sua raiva contida. – O que foi?

- Só nunca vimos você defender tanto alguém. Jeffrey deu de ombros voltando a comer sua carne.

- É Stacy de quem estamos falando. Ela é como uma irmã. Para todos nós. Não banquem os hipócritas quando se trata de Gabriel quando todos vocês estão se sentindo mal. Johnny declarou levantando da mesa e finalizou: - Deveria ter ido jantar com os Davies.

- É o temperamento dele. Não estranhem. Guilherme disse quando o rapaz partiu batendo a porta com força. – Mas sou obrigado a concordar com Johnny. Eu não me sinto mal por ele, na verdade, eu sinto muita raiva agora.

- Todos nós. Tom confessou terminando de comer e encarou a porta, pensando no que James lhe dissera mais cedo. – Nós deveríamos cancelar a surpresa no bar.  Ele disse de repente fazendo todos franzirem o cenho.

- Por que? Julie perguntou sem entender onde ele queria chegar. – Ela vai adorar....

- James me disse que Stacy não está confortável com a ideia do jantar... Imagine como vai ser para ela entrar no Curse e ter aquele monte de gente olhando para ela. Como se fosse algum tipo de aberração. O rapaz explicou lembrando das palavras de James. Ela vai ficar muito mais triste.

- Não tinha pensado nisso... Julie confessou e sorriu sem graça. – Foi uma ideia idiota.

- Você só quis fazer algo legal. Guilherme consolou a garota acariciando-lhe os ombros. – É só que nenhum de nós pensou na nova condição dela.

- Ao contrário de outras pessoas. Jeffrey brincou divertidamente vendo a carranca no rosto de Tom. – Qual é.

- James não está com essas intenções. Se é o que quer dizer. Corta essa, cara. O garoto retrucou se levantando e indo para o quarto em seguida. 

- Hoje não está sendo um bom dia. Guilherme retrucou e os outros dois concordaram seguindo em silêncio.
              
                Os rapazes acordaram logo cedo no dia seguinte, Julie já estava de pé amamentando Alissa e Harry preparava o jatinho para que viajassem o mais rápido possível para casa. James levou Yumi e Thai consigo, o pai havia prometido viajar na manhã seguinte para passar o natal com eles. Ainda tinha alguns pacientes para cuidar antes de poder viajar.

- Todos prontos? Harry perguntou sorrindo quando os garotos surgiram com Stacy na entrada do aeroporto. – A equipe está preparando o jatinho. Vamos indo, sim?

- Obrigada Harry. Stacy falou enquanto ele se aproximava dela e lhe sorria, ela parecia abatida e apagada, mas aquele brilho que reluzia ao seu redor ainda estava ali.

- Conte comigo para o que precisar, Curtis. O empresário falou caminhando para a área onde o jatinho estava sendo preparado para ir à Los Angeles. 

                  Os garotos cantaram durante a viagem, houve um excesso de fofocas sobre a turnê passada, onde Johnny e James tinham sido os garanhões da vez. A irmã olhou incrédula para James que sempre fora mais na sua e o rapaz apenas riu dando de ombros enquanto explicava para os pais de Stacy sobre a casa que cedera para ela ficar.

Fighter: Uma Luta Pela VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora