Capítulo 9

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POV Shivani

Estou completamente distraída na aula de música. Depois de perder minha entrada pela quarta vez, o sr. Markowitz aponta a batuta para a seção de metais e diz: 

— Que tal todo mundo fazer um intervalo de cinco minutos? Flautas, venham até aqui para conversarmos sobre solos. 

Dou uma olhada para o pessoal da percussão, mas Bailey ainda não chegou. Às vezes ele se atrasa por causa de alguma reunião com o técnico de natação e acho que está ótimo assim. Ainda estou com medo de me encontrar com ele. Ajeito o instrumento no assento e saio na direção do bebedouro. Quando me inclino por cima do arco de água, penso sobre o que aconteceu no meu computador. Tudo parece menos real hoje, principalmente a parte sobre Joalin se casar com Sabina Hidalgo. Isso é a mesma coisa que dizer que vou me casar com Leonardo DiCaprio. 

— Adivinhe quem é? — Bailey cobre meus olhos com uma das mãos e enlaça minha cintura com a outra. 

Limpo a boca e então me viro de frente para ele. Assim que faço isso, fico sem fôlego. Ele raspou a cabeça! Todo aquele lindo cabelo castanho se foi e agora a cabeça dele é áspera e pálida. 

— O que você fez? — pergunto. 

Ele sorri e passa a mão na cabeça. 

— Lamar e Pepe foram lá em casa depois do jogo de Ultimate Frisbee e nós raspamos a cabeça. Você gostou? 

A única coisa que consigo fazer é olhar fixo. 

— Reconheça — diz Bailey, entrelaçando os dedos nos meus — você quer passar a mão no meu cabeção macio. 

Não estou a fim disso. Quando ele chega bem pertinho de mim, recuo. 

— Qual é o problema? — pergunta ele.   

— Não sei — respondo. 

Nenhum de nós diz qualquer outra coisa. Às vezes parece que, se não estivéssemos ficando, não teríamos nada em comum. 

... 

— Está na hora de terminar com Bailey — falo, olhando para o saco de papel com o meu almoço. 

Estamos no refeitório para Hina poder mandar ver no especial do dia dela: batata frita e Sprite. Hina é um pouco mais baixa do que eu, com cabelo preto brilhante e pele perfeita. E ela pode comer um monte de batata frita sem engordar nem um quilo. 

— Mas você não ia terminar com ele no parque ontem? — pergunta ela. 

Dou um sorriso para algumas meninas que passam por nós. 

— Acabei não me encontrando com ele. 

— Bom, e por que não faz isso hoje? 

Hina paga e vai para o balcão de condimentos. 

— Caso você não tenha notado, eu é que não vou impedir. 

— Você já viu o cabelo dele? 

Hina balança a cabeça. 

— Está raspado — digo. — Ele, Pepe e a equipe de natação fizeram isso ontem. Vou dizer uma coisa, meninos em grupo são capazes de fazer as coisas mais idiotas. 

— Como a guerra — diz Hina, enquanto empilha guardanapos e pacotinhos de ketchup na bandeja. 

— E pular dos telhados. 

— E tacar fogo nos peidos. — diz ela. 

Dou risada. 

Quando saímos pelas portas laterais do refeitório, Hina pergunta: 

— Então, como Bailey ficou sem suas madeixas morenas? 

— Para falar a verdade, o cabelo era a única coisa que fazia com que ele fosse gostoso. — respondo. — Agora parece um pirulito de pêssego. 

Faz sol do lado de fora e está ainda mais quente do que ontem. Começamos a atravessar o terreno em direção ao lugar onde sempre almoçamos e eu me viro para Hina. 

— Posso fazer uma pergunta de física? 

O rosto dela se ilumina à menção da matéria. No momento, ela está cursando física na Universidade Estadual Hemlock, nas tardes de terça e quinta. Faz parte do mesmo programa de enriquecimento no qual ela tentou fazer eu me inscrever para nós podermos cursar biologia na faculdade no próximo semestre. 

Passo o saco de papel para a outra mão e pergunto, da maneira mais despreocupada possível: 

— O que os cientistas pensam a respeito de viagens no tempo? 

Ela ergue a bandeja até o queixo e pega uma batata frita com os dentes. 

— Por quê? 

— Só estou curiosa — respondo. — Estava passando De volta para o futuro ontem à noite na TV a cabo. 

Hina faz uma pausa na frente de um trecho enlameado na grama e dá início a uma explicação sobre dilatação do tempo e relatividade espacial. Tento acompanhar, mas me perco em algum lugar dos buracos negros. 

— Nada está provado — conclui Hina. — Mas nada está descartado também. Na minha opinião, é possível, mas não é algo que eu ia querer fazer. 

— Por que não?  Ela dá de ombros. 

— O passado já foi. Podemos ler sobre ele nos livros de história. E, se no futuro estivermos em guerra outra vez  ou se ainda não tivermos eleito um presidente que não seja branco ou que não seja homem ou se os Rolling Stones ainda estiverem arrastando o traseiro cansado no palco? Isso iria me deixar deprimida demais. 

— Espero que o futuro seja melhor do que agora — observo, apesar de não ter certeza se vai ser. 

— Sabe aquele cara fofo que está na minha aula de física? — pergunta Hina. — Cruzei com ele no centro ontem. Falando sério, Shivani, você tem que fazer biologia comigo lá. Você não vai acreditar das pessoas que tem na Hemlock. Elas são lindas. 

— Então, você está dizendo que devo fazer biologia na faculdade por causa das pessoas bonitas? 

Hina balança a cabeça. 

— Você devia fazer biologia na faculdade porque é inteligente e não tem mulheres suficientes trabalhando com ciência. Mas você e eu podemos ajudar a mudar isso. Elas são a cereja do bolo. 

— Talvez — digo, mas estou mais preocupada com o que Hina disse sobre viagens no tempo. Se fossem totalmente impossíveis, ela iria me dizer. Mas não foi o que ela falou. 

— Além de melhorar a proporção entre os gêneros na ciência — continua Hina —, quero que você se apaixone antes de a gente se formar. Esse é um objetivo pessoal meu. 

— Você sabe o que acho do amor — respondo. — Foi inventado para vender bolos de casamento. E férias em Waikiki. 

— Meus pais são apaixonados há dezenove anos — diz Hina. — E olhe só para Josh e eu. Nós devíamos ser os dois, mas... 

— Ele partiu seu coração! Como você pode chamar isso de amor se ele deixou você tão magoada? 

Hina coloca mais uma batata frita na boca. 

— Foi amor porque valeu a pena.

The future of us {shivlin version} Onde histórias criam vida. Descubra agora