Capítulo 15

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POV Shivani

Então tudo se resume à câmera amarela descartável que sobrou do casamento da minha mãe. Se as fotos do lago ainda estão lá dentro, sem terem sido reveladas, então Joalin vai ter que admitir que essa coisa de Facebook é de verdade. 

Ficamos olhando para a imagem da tela, para a minha bunda com o biquíni que comprei há pouco tempo no shopping center de Lake Forest. E então, no mesmo momento, voltamos nossa atenção para a câmera em cima da minha escrivaninha. 

– Você acha que nós devemos...? – começa Joalin. 

– A que horas a Photomat fecha? 

– Às dez – diz Joalin. – Fica na praça da SkateRats. 

São 20h53. A Photomat garante cópias em uma hora.

– Vamos pegar o seu carro. – diz ela. 

– É arriscado demais – respondo e faço um gesto para o andar de baixo. Se minha mãe ouvisse a gente saindo, ia dizer que é tarde demais, porque amanhã tem aula. 

– Patins e skate? – pergunta ela. 

Faço que sim com a cabeça e pego meu moletom das Cheetahs nas costas da cadeira. Ainda estou vestindo o uniforme de corrida, porque não tive forças para me trocar. 

– Preciso pegar meu skate na garagem. – diz Joalin. 

A tela continua aberta em "Lembranças da escola". 

– Será que a gente fecha isso? 

– Com certeza. – responde ela. 

A maneira como fala, com tanta clareza e de um jeito tão direto, me dá arrepios. Joalin está começando a acreditar que é de verdade. 

... 

Chegamos à Photomat às nove e dez. O sujeito que está atrás do balcão tem cabelo ralo e olhos cansados. Preencho meu nome e coloco um telefone falso, depois coloco o filme em um envelope. 

– Dá para revelar isso aqui antes de fechar? – pergunto, rolando com os patins para a frente e para trás. 

O sujeito lança um olhar cansado para mim. 

– Vamos ver. 

Saio para a calçada. 

– Acho que ele não consegue entender como isso é urgente. 

– Ele disse que ia tentar. – responde Joalin. 

– Não, ele disse "vamos ver". "Vamos ver" significa que ele vai deixar que o universo resolva essa questão. E isso não depende do universo. Depende dele! 

Joalin dá impulso em cima do skate e eu vou atrás dela atravessando o estacionamento. Nós nos acomodamos em um pedaço de grama embaixo do relógio giratório que marca a hora e a temperatura. Está escuro aqui e os vaga-lumes piscam pelo gramado. Tiro os patins, deito na grama e fico olhando para o céu. 

– Lembra quando a gente vinha aqui para jogar taco? – pergunta Joalin. 

Eu me ergo sobre os cotovelos e olho para a extensão do parque Wagner do outro lado da rua, na frente da praça. Teve um ano em que meu pai foi o técnico do nosso time de beisebol infantil. Minha meio-irmã, Rachel, só tem cinco semanas de idade, mas fico imaginando se ele vai treinar o time dela quando ela tiver idade para jogar. 

Aponto para uma casa branca toda arrumadinha no meio de uma fileira de casas térreas. 

– É ali que Sofya mora. – digo. 

– Eu sei – responde Joalin. 

– Sabe? 

– David andava com o irmão mais velho dela. Nós íamos lá para festas na piscina. É estranho, mas o irmão dela não é tão insuportável. 

– Sofya não é insuportável! – retruco. – É só que você não conhece ela. 

– E você conhece? 

Resolvo não dizer a Joalin que, durante vários meses antes do baile de formatura, alimentei a fantasia de que Sofya iria chegar para mim e me convidar para ir com ela. Ela foi com Meredith Adams, que estava com um vestido prateado minúsculo. Elas chegaram tarde e saíram cedo. Fui com Bailey, apesar de já estar bem cheia do nosso relacionamento àquela altura. Ficamos com o grupo de amigos dele, apesar de eu não conhecer a maior parte das pessoas. 

Hina, Josh, Any e algumas outras meninas foram juntos, dividiram uma limusine e ficaram dançando descalços e juntos o tempo todo. Eu me juntei a eles por algumas músicas, até Bailey se intrometer e me puxar de lado para dançar uma música lenta. Joalin nem foi. Ela ficou em casa babando em cima de vídeos do Tony Hawk a noite toda. 

Depois de alguns minutos olhando para os vaga-lumes, Joalin coloca uma folha de capim entre os polegares e se inclina para a frente para assobiar. 

– Não faça isso! – grito. – Você sabe que odeio isso. 

Joalin larga o capim e se vira para mim. 

– Desculpa por antes. – diz ela baixinho. – Aquilo que disse sobre Bailey passar as mãos nos seus... você sabe. Fui uma grossa. 

– Tudo bem – digo e giro uma roda do meu patins. 

Volto a me deitar na grama e olho para o céu. Vênus apareceu, e um pedaço da lua também. Enquanto olho para as estrelas, fico pensando em Plutão. Será que foi atingido por um meteoro? 

– A gente precisa ir andando – comenta Joalin apontando para o relógio. – A Photomat fecha daqui a cinco minutos. 

... 

– Paliwal? – pergunto e empurro a porta. 

O sujeito passa com o polegar os envelopes com P e tira o meu. Quando ele nos entrega o pacote, os lóbulos da orelha de Joalin ficam cor-de-rosa. Dou uma nota de dez dólares para o sujeito e ele conta o meu troco. 

Saímos e passamos pela frente de algumas lojas, até estarmos bem embaixo do poste de luz. Rasgo o pacote para abrir. Com os patins nos pés, fico mais alta que Joalin. Durante um segundo, a perna dela toca na minha, mas ela a afasta bem rápido. 

As primeiras fotos são da minha mãe e de mim na cozinha. Joalin coloca o dedo na pilha como quem diz: mais rápido, mais rápido. Mas agora já não sei se quero saber. Se aquele é mesmo o meu futuro e eu não sou feliz, talvez seja melhor não saber até chegar lá. 

Joalin pega as fotos de mim. Ela passa para a foto seguinte e lá estamos todos nós no lago. Josh jogando Hina na água gelada. Um close-up de Joalin com os olhos vesgos. Hina e eu nos abraçando pela cintura. E a metade de baixo do meu biquíni novo com a extensão do lago a distância. 

Os bons e velhos tempos.

The future of us {shivlin version} Onde histórias criam vida. Descubra agora