/ CAPÍTULO 8 /

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CAP. 8:

Eu não consigo dormir.

Os acontecimentos de ontem a noite não saem da minha mente, a morte de Ana Carla me persegue.
Eu poderia ter sido a próxima, já podia sentir à bala entrando na minha barriga. Eu tento me distrair de tudo, mas é quase impossível quando você não tem para onde ir e não tem o que fazer.

Apenas...viver, ou no caso, sobreviver.

Os funcionários não querem dizer o que
fizeram com os corpos, eu nem quero saber... Ana Carla não era muito sociável, ela era mais próxima do seu irmão gêmeo, Murilo. Gostávamos dela, ninguém queria que sua vida terminasse assim. Murilo não fala com ninguém, respeitamos o seu luto. Jonas tenta se aproximar dele e o confortar, mas o garoto só se afasta.

- Pensando longe Laura? Tá aqui a sua comida- Daniela pergunta, ela está trazendo meu café da manhã e o dela, ela vem junto com Isa. Nos horários das refeições devem estar todos na cantina e eu sempre fico junto de Isa, Dani e Jimmi.

- Estou pensando em Murilo, na dor que ele está sentindo, ele viu a irmã morrer, tentou impedir mas não conseguiu. Provavelmente deve estar se culpando - Digo olhando para o pedaço de pão e o copo de leite, não sinto fome. - Pode comer Jimmi, não tô me sentindo bem.

- Nada disso, você tem que comer, você passou por muita coisa ontem, tem que se alimentar bem. - Isabela diz devolvendo a comida para mim.

Começo a comer sem vontade.

- Amor - Isa fala com Jimmi - Você pode sair para eu poder falar com as meninas?

- Ok. - Ele sai tirando a mão do ombro de Isa e lhe dá um beijo na bochecha.

- O que foi dessa vez? - Digo.

- Primeiro, como você está com toda essa situação? - Fala Dani tocando no meu ombro.

- Mais ou menos... Vão logo ao ponto.

- Sabe, eu e Dani estávamos pensando se o Gabriel tem alguma coisa com você. Já que... Ele levou um tiro por você! Ele poderia morrer e...

- Eu sei, eu sei, também não gosto de ficar pensando nisso. - Falo.

- O que queremos dizer é, e se ele gosta de você? Ontem foi a segunda vez que ele te salvou. - Fala Dani rapidamente.

A ideia de Gabriel gostar de mim até passou pela minhas cabeça (claro que foi por pouquíssimo tempo), mas logo ignorei, eu e Gabriel somos diferentes... Ele sempre foi agitado e brincalhão, nunca foi um babaca... Ele é bonito, não vou mentir, sua pele escura, cabelo cacheado curto e um olhar misterioso... Lindo...

De qualquer maneira, sei que ele faria o mesmo com qualquer outra pessoa em estivesse em perigo.

- Meninas, nada haver, não tenho tempo para isso agora. Quando eu estava com ele, me pediu para conversar mas eu logo sai... Acho que era sobre... Ahh... Não sei, fiquei nervosa.

Elas gritam eufóricas.

- Parem! - Rio junto a elas. Fazia tempo que eu não ria desse jeito, sinto saudades disso.

- Vai falar com ele! - Elas falam em coro.

- Se você não for eu vou dar na sua cara. - Ameaça Isa.

- Ah tá bom eu vou. - Saio da mesa e vou procurar Gabriel. Não sei o que ele vai querer falar comigo, mas sei que não é o que as meninas pensam que é.

***

Pergunto aos amigos de Gabriel onde ele está.

- Na sala do 9° ano.

Vou até lá e o encontro olhando para a janela. Quero terminar com esse mistério logo:

- Eh... Gabriel posso falar com você?

Ele se vira surpreso:
- Laura! Não vi você ai - Ele diz passando a mão nos cabelos pretos como os meus.

- Bom, eu vim agradecer você por ter distraído aquele terrorista e também quando você levou o tiro por mim. Acho que nada vai compensar o que você fez. Obrigada mesmo...

- E-eh sem problemas, qualquer um faria o mesmo. - Ele diz com certa timidez, algo que nunca imaginei que Gabriel Ferreira fosse sentir. Dou um sorriso simples de lado e digo:

- Levar um tiro por alguém? Acho que não... Mas obrigada de qualquer maneira. - Quero perguntar o que ele queria falar comigo, mas tenho medo, respiro fundo e pergunto - Antes do anúncio da FRM você disse que queria falar algo comigo, mas aconteceu tudo aquilo... Queria saber o que era.

Ele me olha de forma surpresa, acho que não esperava que eu fosse me lembrar, Gabriel demora um pouco para pensar e diz:

- Eu só queria saber se você estava bem ou se tinha se machucado.

- Ah, eu estava bem sim - Digo sorrindo - Até aquele soldado entrar aqui e fazer tudo o que fez. Mas isso não importa, quem se machucou foi você, o ferimento está melhor? Ja fechou?

- Tá melhor sim, a linha já tá saindo...

- Ok... Qualquer coisa pode falar comigo. Certo?

- Certo.

- Amigos?

- Amigos. - Ele diz dando um sorriso largo e nesse exato momento eu sinto algo diferente, mas eu não me importo.

Fico com ele por mais alguns poucos minutos.
Não falamos nada, nem quero, gosto do silêncio que fica entre nós.

CONFINADOS - 1Onde histórias criam vida. Descubra agora