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Algum tempo em silêncio depois... Eis que Pietra surge e se joga de qualquer maneira ao nosso lado.

— Nossa, que animação de vocês!

Continuamos em silêncio.

— Vocês vão ficar mudos? — silêncio — Estão me ignorando?! Suas porras! Vão tomar no cu vocês dois! — silêncio e sorriso — Ah! Vão se foder! Pietra se levantou indignada e saiu batendo pé, começamos a rir, abraçados, então nos viramos, nos olhamos e nos beijamos.

— Sacanagem... Vamos falar com ela. — William apenas assentiu estalando mais um beijo em meus lábios.

Alcançamos uma Pietra bem irritada antes que chegasse à mesa em que estávamos mais cedo, me joguei em suas costas e ela quase me derrubou de raiva, mas depois começou a rir.

*~~*~~*

Estava eu modelando as pontas do meu cabelo com a pranchinha quando percebi o William, parado no meio do chalé, me olhando mais uma vez com aquela cara de quem estava pensando em alguma coisa séria.

— O que foi? Por que está me olhando assim?

— Assim como?

— Assim... — imitei os olhos semicerrados dele e a boca levemente torcida num bico.

— Desculpe, não percebi que estava fazendo isso.

— Hmm... e estava pensando em que?

— No quanto você é linda, fazendo coisas normais.

— Obrigada, gentileza sua... Coisas normais... — achei engraçado.

— Coisas normais, você é uma pessoa muito... normal.

— Isso é bom ou ruim? — Particularmente acho bom, é muito chato estar ao lado de pessoas que tentam impressionar.

— Você conhece muitas pessoas... — foi mais uma constatação que uma pergunta.

— Sim, conheço muitas pessoas.

— Conhece meu primo, não é?

— Acho que o vi uma ou duas vezes.

— Seria ruim se ele se lembrasse de onde?

— Não seria ruim, mas também não seria o ideal nesse momento.

— Nesse momento acho que nada referente a você seria ideal ser exposto. — sorri e ele entendeu.

— Tem razão. Maite me diz uma coisa, mudando de assunto... O que mais gosta na sua profissão?

— O que mais gosto? Como assim? De fazer ou...

— Por que escolheu ser gestora de contratos?

— Ah! Sinceramente, não sei. Poderia ficar filosofando aqui, mas a verdade é que não sei.

— Mas você gosta do que faz? Você parece ser muito boa nisso...

— Gosto, procuro dar o meu melhor, trabalho sempre como se a empresa fosse minha, entende?! ... Acho muito triste a visão separatista funcionário versus patrão, gosto de conduzir tudo bem dentro da Lei, dos 143 procedimentos, sou contra burlar as regras, isso prejudica muito nosso país e as pessoas não se dão conta disso...

Cara, conversamos um bom tempo sobre economia, sobre o país, sobre a minha visão, a dele, era bom conversar com o William, mesmo quando parecia que ele estava me entrevistando. Devia estar curioso pra saber o que sentia trabalhando dentro da área em que me formei. Isso me deprime um pouco, por ele.

*~~*~~*

Luiza estava muito linda em seu vestido branco, um modelo simples, inspirado na Bella da saga Crepúsculo, sinceramente esperava que Junior e ela tivessem um desfecho melhor que os atores na vida real. O buquê foi de Lírio branco, escolhido por conta de uma passagem Bíblica. Junior estava bonito em seu meio fraque de gravata cor de creme, estava nervoso, não parava de massacrar os dedos nas mãos. Ao avistar sua linda noiva, abriu um sorriso enorme e seus olhos marejaram, confesso que os meus também, meu irmãozinho estava se casando.

Olhei para William, sentado ao lado de Pietra, ele sorriu pra mim e meu coração se apertou mais uma vez, sentia que nosso tempo juntos se esvaia como a areia do deserto escorregando em uma ampulheta, aquele pensamento me doeu tanto quanto uma punhalada e senti meu rosto úmido. William sorriu pra mim mais uma vez, estava com um semblante piedoso, mas aquela ideia dele me deixando para seguir seu caminho persistia, insistia, me machucava. Pietra mandou que eu sorrisse, fazendo mímica, disse algo no ouvido de William, ele franziu o cenho e me olhou sério em seguida.

O que aquela louca poderia estar lhe dizendo? Logo ele abaixou a cabeça e prendeu os lábios nos dentes, parecia pensativo e voltou a me fitar, como se não fosse nada. Letícia e Rodrigo não se olhavam, estava claro que aquele amor da vida um do outro estava chegando ao fim, peguei o olhar de Rodrigo sobre mim duas vezes, primeiro pensei: Bem feito! Quero que se danem! Depois pensei algo como: Espero que ela esteja grávida! ...Mas por último pensei: será que o casadinho é de doce de leite? Tá me dando uma fome...

O discurso do Pastor foi mais bonito que nos ensaios, ele deu uma incrementada de última hora emocionando a todos. Tenho certeza de que meus pais estariam orgulhosos, ou estavam né?! Junior estava fazendo a coisa certa, sabíamos que sim, Luiza e ele foram feitos um para o outro, eram almas gêmeas. Gostaria que William fosse a minha alma gêmea.

~~*~~*

Comemos, dançamos e rimos e era como se não houvesse mais ninguém na festa. Luiza chamou a todas para jogar o buquê, mas Pietra e eu não fomos, ficamos olhando afastadas.

— Não vai tentar o buquê? — tia Ana surgiu ao meu lado. Olhei para o William que chegava com duas taças de prosecco.

— Não... Com certeza um buquê não vai me fazer casar.

— Pessimismo, oi, tudo bem? ... — Pietra resmungou, mas a ouvi perfeitamente.

Luiza jogou o buquê e acompanhamos aqueles lindos lírios brancos voando alto sob o pôr do sol, se o fotógrafo for bom..., lembro-me de ter pensado exatamente isso antes daquelas flores aterrissarem em meus braços cruzados.

A mulherada gritou enlouquecida! Sabe aquela brincadeira sem graça: pensa rápido! E jogam um troço na gente? Foi quase isso, quase que as flores foram para o chão, mas as peguei a tempo.

William deu uma parada com a taça, já estendendo-a em minha direção. Ficou com a mão no ar. Instintivamente olhei para Théo que apesar da expressão surpresa, sorriu e me passou a taça, tilintamos um discreto brinde e bebemos.

— A mira da Luiza está perfeita. Não acha tia Ana? — Pietra foi puxando minha tia. William e eu ficamos sozinhos. — Você é a próxima, querida.

As palavras dele não me fizeram bem, meu peito doeu, pedi licença tirando a mão livre de William de minha cintura e fui me afastando aos poucos, de volta para o chalé, precisava de um minuto, um minuto meu, um pouco de paz, tentar colocar aquela confusão toda em ordem. Acendi apenas o abajur ao lado da poltrona de leitura e me sentei, na penumbra, o buquê em meu colo, lá fora e eu, tentando desmanchar aquele nó na garganta nos goles de prosecco.

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