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Estava num sono tão gostoso quando fui acordado com lambidas frenéticas em meus dedos dos pés, depois de três anos...

Maite estava se superando! Puxei os pés irritado e mentalmente todos os palavrões conhecidos e alguns inventados passaram pela minha cabeça.

— Filho da Puta! Sai daqui! Sai Fedegoso! Maite!!! — não respondeu, o que me irritou ainda mais!

Ela deixou a porta da varanda aberta mais uma vez!

Puxei Fedegoso pela coleira para fora do quarto, conduzindo-o até o jardim dos fundos. Era um cão dócil, mas tinha o péssimo hábito de nos acordar e estava sempre sujo, odiava banhos e nos fazia correr pela casa inteira atrás dele sempre que via o carro da pet shop, o nome escolhido pela minha adorada esposa foi simplesmente perfeito. De todos os cães que haviam no canil, de todos os cinco Cocker Spaniels eu escolhi o mais porco!

Precisava lavar os dedos do pé e o banho de May não acabava nunca! Num contorcionismo lavei os dedos emelecados pela baba de Fedegoso na pia do lavabo. Voltei para o quarto ansiando por um pouco mais de sono, em vão, estava totalmente acordado. Rolei na cama e virando-me de lado logo meus olhos ficaram hipnotizados pela fotografia exposta na cabeceira. Ela estava realmente linda com aquele vestido de noiva, foram dias incríveis, naquele instante me peguei desejando repetir a lua-de-mel, ouvir as risadas despreocupadas dela. Suspirei pesado diante da realidade de dias engolidos pelo trabalho, por um mercado instável e cheio de incertezas. Sorte a minha ainda em tempos mais complicados tê-la comigo. Quinze longos minutos se passaram. Resolvi me levantar e enquanto me espreguiçava, Maite surgiu, enrolada na toalha e com uma cara estranha. O sorriso inicial que ofereci deu lugar pouco a pouco a uma preocupação, ela sorria com os lábios, mas os olhos me diziam o contrário.

— Tudo bem? — May cerrou levemente os olhos.

— Pensa rápido!

Realmente rápido, Maite jogou algo em minha direção e peguei por reflexo.

— O que é isso? — referi-me ao bastão branco.

— Isso é a noite de sábado ou a manhã de domingo logo após aquelas cervejas no aniversário da Pietra.

Agora pude vislumbrar um sorriso sincero, veio até mim e puxou o bastão de minhas mãos.

— Tá vendo aqui. Uma fitinha azul, significa a escalada em Minas Gerais... Lapinha não é? Em Maio? — fiz que sim, já sabia onde queria chegar

— Então, uma fitinha escalada, duas fitinhas grade na piscina e reforma do quarto de hóspedes.

Respirei fundo e soltei o ar de uma só vez.

— Acho que não vamos escalar. Fui tomado por uma felicidade indescritível, ansiedade, mas nenhum medo. Em meus pensamentos apenas a certeza de que queria conhecê-lo o mais rápido possível. Aquela mulher, a mulher que tanto amava estava me contanto que esperava um filho meu! — Acho mesmo que não vamos escalar... — senti que sua voz estava embargada, abracei seu corpo pela cintura e fechei os olhos, apenas sentindo menos de seu calor e mais da umidade da toalha com perfume de amaciante.

Os dedos de May me tocaram os cabelos, sempre gostei quando me tocava os cabelos, tão delicada e suave. Desde o primeiro minuto que estivemos juntos, eu sabia, sempre soube que era ela.

~*~~*~

E cada detalhe que construí foi pensando em conseguir mais um de seus sorrisos para minha coleção, os detalhes do pedido de casamento... hmmm, bem este não foi exatamente um sorriso, logo que a aliança tomou residência e se anelar, chorou todo o tempo!

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