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Ainda que não fosse na área de Petróleo e gás, trabalhar naquela empresa, longe pra cacete da minha casa seria algo novo e desafiador, uma multinacional courier.... Na verdade não me lembrava de ter enviado meu currículo para a Battlestar Shipping S/A., mas estava feliz por recomeçar em tão pouco tempo, a carteira seria assinada tão logo conseguisse homologar a demissão na outra empresa, mas estava me sentindo com um ânimo renovado. Há males que definitivamente vem pra bem, poderia estar naquele instante arrastando corrente por um michê canalha mentiroso e ter perdido essa oportunidade, enquanto ele simplesmente atendia a mais uma mulher. Aquela cena não me saia da cabeça, e foi por isso mesmo que me enfiei num vestido social preto bem marcado com o decote em diagonal, assim que desci do carro tirei a sapatilha baixa e calcei meu salto alto colorido da Charlotte Olympia.

Meu primeiro dia na Battlestar e não havia reparado em muita coisa, estava feliz em ter uma sala pequena só pra mim! Ricardo me recebeu muito bem e me levou para conhecer as dependências da empresa, os funcionários foram incrivelmente simpáticos e o ambiente era sempre descontraído estava mais atenta às pessoas que em qualquer outra coisa. Haviam muitos jardins internos que separavam as alas. Minha sala ficava perto da entrada do primeiro andar, era um prédio plano de sede própria, cheguei no meio de uma reforma, o nome e logo da empresa estava sendo trocados e a fachada pintada. Isso foi tudo o que havia reparado num primeiro dia. No dia seguinte, estreei mais um vestido e mantive os saltos agulha, Ricardo elogiou bastante e nos sentamos próximos.

A gerente comercial estava com uma barriga gigante, teria um bebê para logo e estava indicando Ricardo para assumir sua posição, conforme aprovado pelo diretor comercial e um dos sócios da empresa.

O diretor daria uma rápida palestra sobre os novos desafios da empresa ao final da reunião e já estava ciente, através do próprio Ricardo, que estaríamos ampliando nosso campo de atuação em mais um país na América do Sul, a Battlestar atuava no transporte multimodal de cargas e equipamentos diversos. Havia também um braço da Battlestar que alugava jatinhos particulares para viagens internacionais. Tamara, a gerente, iniciou a reunião com um vídeo, apresentando as conquistas realizadas pelo setor comercial da companhia, aproveitou também para me apresentar a todos como nova supervisora comercial, reiterando que a parte de contratação estaria sob meu comando e comunicou que estaria ligada diretamente ao novo gerente, Ricardo, e ele se reportaria ao diretor comercial, o senhor William Anghelo Di Piazzi Levy. A luz ficou mais fraca para um segundo vídeo, este sim se tratava dos novos desafios. Tamara conversava baixo num canto com algumas pessoas, mas eu estava mais interessada nos índices apresentados e inconformada por não haver luz suficiente para que anotasse aqueles dados.

Foi um vídeo rápido de cinco minutos, assim que as luzes se acenderam, puxei rapidamente o bloquinho de papel que havia levado e escrevia o mais rápido possível para não esquecer de nenhuma informação. Um deslocamento de ar ocasionado por algumas pessoas que transitavam pelo corredor a fim de tomar seus lugares me fez lembrar do perfume dele. Então o diretor William Anghelo, nos deu Buongiorno já iniciando suas falas e todo o sangue do meu corpo se congelou, deixei a caneta e o bloco caírem ruidosamente do meu colo tamanha tremedeira que me deu, meu queixo batia de tanto nervoso, a respiração suspensa e meu coração pulando. Relutei em olhar para frente pois havia se instalado um silêncio absoluto, forcei-me a encara-lo ainda que meu salto estalasse seguidamente no piso frio.

William?

Meu olhar encontrou o dele, pensei que desmaiaria. Parado, me olhava fixamente, sério, sem transpassar nenhum sentimento a não ser a surpresa de me ver ali, as sobrancelhas levemente arqueadas.

Os vinte colegas que estavam na sala começavam a me olhar e eu pálida, nervosa e lacrimejando. Abaixei-me de repente, quebrando o contato visual, peguei o bloco e a caneta, levantei com um fraco e embargado com licença e saí da sala de vídeo conferência.

Fui direto para minha sala, onde finalmente consegui soltar o ar que prendia, estava muito confusa. Por que o Théo...? Não fazia sentido! ...

Que loucura! Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus!

Alessandro.

Puxei o telefone discando rapidamente para meu primo que atendeu num segundo toque.

— Sandro, oi é May, me diz uma coisa, de onde você conhece o William?

— Ué, não falei? Ele estava no voo fretado pelo meu grupo para Milão.

— Mas como assim estava?

— Estava com o copiloto, me lembrei pela tatuagem dele, era a mesma pintada no jato.

— Você não disse que era um jatinho!!

— Ué e fazia diferença?

— Obrigada, Sandro, depois a gente se fala...

— Espera! Vocês estão bem agora?

Não respondi, desliguei imediatamente.

Pietra!

Ela não atendeu ao meu chamado, liguei para a empresa, ela estava em reunião. Então percebi que havia uma mensagem dela no celular "precisamos conversar com urgência!".

De repente me dei conta de um monte de coisas. Corri e procurei uma folha de contrato assinado no primeiro arquivo que encontrei, lá estava, Anghelo William Theodore Di Piazzi Levy. William. Meu novo patrão. O meu Théo. Meu? Que maluquice! Nunca foi meu! Nunca foi de ninguém!

Não tinha cara pra voltar para a sala de vídeo conferência, por mais importante que fosse, ainda estava me refazendo do susto. Bebi uns dois copos d'água pensando no que deveria fazer e não cheguei a nenhuma conclusão a não ser desgastar meu salto no carpete, andando de um lado a outro.

Mais ou menos dez minutos depois a secretária tocou no meu ramal.

— Senhora Maite, o doutor Anghelo William pediu que fosse até a sala dele. — tava demorando...

— E.... onde fica? — minha voz soou insegura.

— Atravesse o primeiro jardim interno e siga até a sala de reunião 2, vire à esquerda e chegará na sala dele.

— Obrigada, Edna. — eu respondi ou sussurrei?

Foi o que fiz, logo depois de retocar a maquiagem, me olhar no espelho umas cem vezes pra ver se o meu cabelo estava bom e cuspir o chiclete, atual base da minha pirâmide alimentar. Esfreguei as mãos no tubinho verde musgo umas outras centenas de vezes, não sabia o que fazer ou o que falar. Atravessei o lindo jardim interno e segui até a sala de reunião 2, virei para um pequeno corredor à esquerda onde havia gravado na porta dupla Anghelo William T. Di Piazzi, Diretor Comercial.

O coração batia tão rápido que achei mesmo que enfartaria! Se pelo menos meus joelhos parassem de brigar um com o outro...

Como simplesmente entrar na sala dele e dizer tudo que precisava ser dito??

Ele não precisava se prostituir, ele era um completo pervertido! Caralho! O que me falta agora?? Ver macaco em cima do poste?!

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