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Eu mal conseguia ouvir meus pensamentos, que dirá o que Pietra falava. Deus, que loucura estava aquela casa!

A ideia dele de uma festa intimista e pequena, contemplava música alta, gente correndo, criança gritando... me sentia dentro de um ensaio geral da Mocidade Independente de Padre Miguel.

Saí por um momento para a varanda dos fundos e mais crianças corriam desesperadas, como se o mundo fosse acabar!

De repente ouvi uma voz grave e sedutora dirigir-se a mim.

— Cousin, que faz si qui, longe de William? — minha Nossa que sotaque carregado!

Até que o cara era bonitinho, tinha olhos e cabelos castanhos e uma barba cerrada, um tipo desses bem altos e com o mesmo nariz europeu do meu noivo, ecco.... Acho que o tal Enzo me encontrou afinal.

— Olá, Enzo?

— Sì, sabe mio nome.

— Ah! Com certeza...

Não demorou nem meio minuto para que uma italiana alta de olhos e cabelos claros aparecesse na varanda também acompanhada de Enrico, que amarra o cenho de um jeito estranho.

— Cosa stai facendo qui? Riassetto problemi Anghelo? — ela esbravejou mesmo!

Ele não respondeu nada, olhou irritado na direção de Enrico, disse um tal de "permesso" e saiu de perto. A loira seguiu atrás de Enzo e Enrico encostou-se no guarda-corpo ao meu lado.

— Ele faltou-lhe com o respeito?

— Ah, não, apenas se apresentou, nada demais... E quem era ela? Não consigo guardar o nome de todos vocês...

— Sophia. Nostra prima.

— Vocês tem muitos primos... E o que ela disse a ele?

— Perguntou o que fazia aqui e se estava querendo problemas com Anghelo, apenas isso.

— Vocês não gostam mesmo dele.... William me advertiu com relação a ele, não se preocupe...

— Na verdade, acho meio difícil do meu primo não se preocupar.

— Por que diz isso?

— Desculpe, mas ele me contou que não pensa muito em crianças... e Enzo não pode ter filhos...

— Ah! Enrico, não acredito que estou ouvindo tamanho absurdo!

— Anghelo vai fazer 35 anos, Maite, o tempo passa para ele e o atormenta, ainda mais com a nonna...

— O que tem a nonna? Ela por acaso "exige" bisnetos?

— Exigir é uma palavra muito forte... Mas exerce certa pressão... venha, vou te mostrar como as coisas funcionam...

[...]

Assustador.

Fiquei abismada, com cara de tonta sem saber o que fazer, enquanto a nonna Rosilda mandava em todos! Inclusive em mim! Na primeira oportunidade corri para o banheiro e lá fiquei, tentando entender aquela loucura que acontecia pela casa inteira! Gritos, música alta, risadas espalhafatosas e era como se houvessem mais de cem pessoas, mas na verdade eram apenas vinte!

Breves batidas na porta me lançaram de volta para a realidade. A voz de Pietra era um balsamo para meus ouvidos.

Abri a porta e a puxei num solavanco para dentro do banheiro da suíte de William.

— Cara, vou te falar? Sua família nova é maneiríssima! Aquela coroa baixinha é a mais engraçada de todos! — dando-se conta do meu estado de choque, parou de falar por um instante e ficou me analisando — Que foi? Que cara de cu é essa?

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