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William não se despediu, desligou, enfiou o telefone no bolso da bermuda jeans e com três passadas largas me alcançou, eu estava de braços cruzados e ele me abraçou por trás, beijando e beijando minha bochecha.

— Desculpe, minha morena linda.

— Tudo bem. — William nos parou, me virou para ele e encostou as costas da mão em minha testa.

— Tá doente? Não vai perguntar nada, logo minha curiosa incurável?

— Não e não. Não estou doente e não vou te perguntar nada.

— É mesmo?

— São detalhes... — minha Nossa quanta mentira! Estava a ponto de ter um treco!

Entramos na cozinha pelos fundos, tia Ana e as ajudantes preparavam o almoço, mas ela nos serviu de café, bolo, pão doce e iogurte, ficamos à mesa da cozinha e por algum milagre, tia Ana não sentou-se conosco para trocar informações. Na verdade estava reclamando um bocado, não estavam acertando parte de uma receita nova que ela queria servir no almoço.

— Tia Ana, sabe da Pietra?

— Saiu cedo com a Mônica. — sabia! Mônica era prima da Luiza e era sabido que ela era bissexual.

— E meus primos?

— Alan ainda não saiu do quarto com a namorada, Alessandro está na piscina com Guilherme, e Rosane foi na rua com a Pietra e Mônica.

— Tio Bento, tia Emília? ...

Tia Emília era irmã de tia Ana e Rosane e Alan, seus filhos, não eram meus primos de sangue, mas era como se fosse. Muito embora Rosane fosse uma dessas periguetes...

— Bento não sei, Emília acho que na horta arrumando a tela que despencou.

— Hmm...

— Mais que droga!! — tia Ana vociferou de um jeito que fez a mim e ao William olharmos espantados.

— Tia, que tanto a senhora tenta fazer?

— É o molho da caçarola de frutos do mar, não está ficando bom!

William esticou os olhos na direção dela e sorriu balançando a cabeça.

— Que foi, William?

— A pimenta está errada.

— O que disse? — tia Ana tinha um ouvido muito bom! Credo! William falou tão baixinho...

Se levantou ainda mastigando o bolo de laranja, parou ao lado de tia Ana, caramba, ela era muito pequenininha perto dele, William empurrou o bolo para o canto da boca.

— Dona Ana, a pimenta branca é muito branda pra este prato. — Muito branda? — Precisa estar... — William pensava estalando o dedo — più caldo! ... bem... bem ardente! Ardente no final da colherada, capisce?

Olha, que porra isso... Sempre que esse homem abre a boca pra se expressar em italiano, quase molho a calcinha... — Tô capiscando, — tia Ana me arrancou uma gargalhada e outra do William — mas a receita diz pimenta branca!

Questa ricetta não está bem traduzida, veja tia Ana, isto é Caldeirada Mediterrânea, é um prato muito comum na Toscana, lá chamamos de Caldo...

Lá chamamos de caldo, pensava que ele havia aprendido italiano por ter se relacionado com alguém de lá, ou... que se relacionava, afinal... pela vida que tinha...

Agora isso me surpreendeu, ele viveu na Itália, talvez até tenha nascido lá... vá saber... Vá saber é o caralho!

Levantei-me disfarçadamente enquanto William explicava a receita para tia Ana e fui saindo de fininho. Sandro fez uma cara feia, mas não abriu os olhos.

Aluga-se um noivoOnde histórias criam vida. Descubra agora