32

550 38 3
                                    

Terça-feira.

O sol estava alto. Eu sem forças para me levantar da cama. Quebra luz e cortinas fechadas, não consegui pregar os olhos, rolando de um lado a outro, estava me sentindo pequena, encolhidinha embaixo dos lençóis. Meu celular apitou uma mensagem e agarrada num fio de esperança o alcancei sobre a mesa de cabeceira. Pietra.

"Disse que estava muito doente, mas o chefe tá fulo! Dá notícias por favor!" –P

"Tudo bem. Vou descolar um atestado." – M

Muito a contragosto me levantei.

No espelho o reflexo tosco de um rosto inchado de tanto chorar, olheiras fundas e nariz vermelho de tanto fungar. Fechei os olhos, precisava tirar forças e não sabia de onde para resgatar a mim mesma daquele inferno. Praguejei por estar me comportando como uma adolescente, coisa que não era há muito tempo. Primeiro a gente nega, não acredita no que está acontecendo. Depois a gente simplesmente se culpa e começa a culpar o Mundo inteiro por cada passo mal dado. Ainda antes de parar de culpar o Mundo, vem a fase de sentir muita raiva da pessoa que nem ao menos nos deu a chance de explicar. E então vem a auto piedade, misturada com indignação, raiva de si mesmo e uma coragem fingida de querer seguir em frente.

Mas foi nessa fase que percebi que ele poderia estar sentindo o mesmo, pois eu, da mesma maneira, não lhe dei a chance de explicar coisa alguma e então sem dúvida ele me viu com Rodrigo e a coisa seguiu ladeira abaixo. O fato de ter apenas ido embora me dizia que ele pulou todas as etapas e foi direto para o seguir em frente, e o que eu poderia esperar de um cara como ele?

Peguei o resto de dignidade que tinha, respirei fundo e segui até uma Unidade de Atendimento 24horas, consegui um atestado de dois dias, inventei uma dor maluca e pronto, mas estava na cara que remédio nenhum poderia curar aquela dor no meu peito.

Voltei pra casa com o pensamento nas palavras de tio Bento. "Nunca vi você querer tanto uma coisa". Foi com essas palavras em mente que entrei na internet, em busca do William, ainda que ele seguisse adiante, eu precisava explicar o que aconteceu.

Mas ele havia retirado a página do seu anúncio, no número telefone que tinha, aquela maldita mulher dizendo que o número era inexistente, foi me dando um desespero, medo absurdo de perde-lo pra sempre. Era madrugada quando peguei o carro e fui para o Joá, parei na frente da casa do tal amigo, estava tudo escuro e silencioso, esperei por ele, esperei a madrugada toda, até o sol de quarta-feira me acordar invadindo o meu carro e me chamando pra vida.

Apesar do atestado válido para aquele dia, precisava voltar para o escritório, não havia retornado a nenhuma chamada da Pietra que foi até meu apartamento e deu de cara na porta. Precisava pensar com clareza, caralho! Eu não era mais uma garotinha que perdeu o namoradinho da escola! Eu sabia de todos os riscos e sabia que estava apaixonada por ele! Precisava me recompor ou a ausência do William me consumiria por completo. Pietra arregalou os olhos e a boca formou um grande O ao me ver.

— Mas que porra é essa? Vem cá! — me arrastou para o banheiro antes mesmo que eu colocasse a bolsa sobre a mesa — Caramba, eu liguei tanto pra você, fui no seu apartamento... aonde você se meteu?? Minha Nossa, que estrago!

Tio Bento me ligou, Sandro me ligou, até o Alan me ligou! Tua família tá louca atrás de você! ... Seria cômico se não fosse trágico, Pietra falando muito, tentando me maquiar, e as lágrimas apenas descendo, sem nenhuma lamentação, apenas elas, que saiam copiosas.

A recepcionista abriu a porta, levou um tempo pra assimilar a cena e avisou de uma entrega para mim.

Primeira coisa que pensei: flores! William me procurando para conversarmos! E quão grande foi minha decepção com aquele pequeno envelope pardo com meu nome apenas.

Aluga-se um noivoOnde histórias criam vida. Descubra agora