Capítulo 3

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          Sento-me na cadeira da cozinha enquanto minha mãe prepara o almoço, é feriado em plena quinta-feira e Daniel não havia me dito mais nada. Na verdade, ele estava incomunicável, pois não me respondia e o celular estava aparentemente fora de serviço. Não sabia bem imaginar o que ele estava fazendo, mas de certa forma isso me preocupava. – Onde será que ele está? - Penso. Minha mãe em seguida olha para mim e diz:

          - Filha, seu pai ligou ontem à noite, ele gostaria que você passasse um final de semana com ele, mas não disse qual. – Fico em silêncio mexendo nos talheres em cima da mesa. – Acho que seria bom para você esfriar a cabeça. – Ela tinha razão. Por mais que eu estivesse apenas com estudos em mente, apesar de não gostar muito de estudar, ir até a casa de meu pai seria uma boa opção nesse final de semana.

          - Avisarei a ele que vou este final de semana. – Continuo mexendo nos talheres sem olhar para minha mãe. Ela sorri e continua fritando algo na frigideira, que eu ainda não sabia o que era.

          Desde quando eu era criança, nunca tive uma aproximação tão forte com minha mãe. Ela sempre foi mais fechada e quieta. Ao contrário de meu pai, que sempre me levava para sair, enquanto minha mãe só gostava de ficar em casa, arrumando as coisas ou simplesmente assistindo suas novelas favoritas. Talvez tenha sido este o motivo que ele a largou e resolveu ir morar com a amante.

          Levanto-me e vou até a sala, ligo a TV e observo que estava passando o noticiário. Era o aniversário de Nova Glória, haviam muitas pessoas na rua comemorando. Todos os anos a população da cidade fazia caminhada pelas ruas do centro, para demonstrar o amor à Nova Glória, coisa que eu nunca soube entender o porquê. – Por que eles comemoram tanto? São tão felizes assim? Ou eu que estou ficando ranzinza? Sussurro. – Mas não há respostas a estas perguntas, somente o barulho de minha mãe batendo a colher de madeira na panela. Após o almoço, minha mãe me chama para ir até o centro da cidade comprar algumas roupas para eu passar o final de semana com meu pai. Apesar de tudo, ela sempre gostava que eu fosse bem arrumada para a casa dele. Acredito que seja para mostrar que não estamos tão mal assim. O que de fato é verdade. Pois apesar de não termos mais meu pai sustentando a casa, minha mãe trabalhava como arrumadeira em um hotel no centro da cidade e com a pensão dele, dávamos para viver bem.

          - Filha, olha essa blusinha, que linda! – Observo, mas não respondo. Algo lá fora me chamava mais a atenção neste momento. Eram três homens do outro lado da rua, carecas, com blusas de couro pretas e cheios de tatuagens e piercings, que pareciam muito ser alguns daqueles que gostavam de bater em pessoas indefesas. Eles me observavam também.

          - Mãe, tem outra loja ali na frente. – Digo após um deles comentar algo e continuar olhando para mim, como se estivessem insinuando algo a meu respeito. Mas parece que minha mãe achou que eu realmente não queria nada daquela loja.

          - Tudo bem, vamos ver em outra então. – Diz minha mãe colocando a blusa no cabide e arrumando-a junto às outras.

          Ao caminhar pela calçada da loja, olho para trás procurando os três homens, mas parece que eles haviam sumido no meio da multidão. A rua onde estávamos era a mais movimentada do centro, onde haviam grandes comércios, principalmente de roupas. Continuo caminhando e algo me chama atenção. Um restaurante da rede de fast-food mais famosa da cidade, onde tem o melhor sorvete, na minha opinião.

          - Mãe, será que podemos fazer uma pausa para tomar um sorvete? – Pergunto entusiasmada. Minha mãe sorri e me acompanha sem dizer nada.

          Definitivamente não era um bom dia para estar fazendo compras, Daniel estava me preocupando muito. Eu havia ligado duas vezes para sua mãe, mas ela me disse que ele não tinha chegado ainda. Não demonstrei preocupação para não causar nada a ela. Afinal, ela já havia sofrido muito na vida com o pai superagressivo e preconceituoso de Daniel.

          Quando já estávamos voltando para casa, avisto Jonatan sentado em minha varanda. Acredito que esteja me esperando. Ao menos que esteja esperando outra. Penso.

          - Você realmente me ama, não é mesmo? Me viu ontem, hoje e já está aqui novamente! – Brinco. Abraço ele bem apertado, seu perfume forte e marcante adentra meu nariz. Ele não me abraça, pois parecia estar escondendo algo atrás de si. Até que estende suas mãos e me entrega um buquê de flores pequeno. – Que lindo Jow! – Meus lábios vão de canto a canto, mostrando enorme felicidade, afinal, ele sabia me conquistar muito bem!

          - Eu te amo! – Sussurra Jonatan no meu ouvido, o abraço novamente e entramos para dentro de casa. Ficamos assistindo televisão enquanto eu aguardava ansiosa por algum sinal de Daniel.

          Após um longo tempo meu celular toca.

          - Jenny! – A voz de Daniel soa do outro lado da linha.

Alice - Um Desejo de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora