Aproximo-me do corpo inerte e sem vida de Daniel. Meu corpo se arrepia e meus olhos se enchem de lágrimas, mas continuo fria e sem demonstrações de afeto. Meu coração era o que sofria mais naquele momento e eu não conseguia expor nada para fora. Haviam várias rosas brancas ao seu redor e apenas uma coroa de flores com uma faixa escrita "Saudades Eternas", deixando aquele cheiro de velório, que particularmente eu não gostava nem um pouco. Fazia muito anos que não ia a um velório, estava sendo realmente perturbador, ainda mais por ser de uma pessoa que era tão especial para mim. Algo me chama a atenção em Daniel. Seu pescoço estava totalmente coberto de flores. Me aproximo e afasto algumas, dando a visão a várias marcas em seu pescoço, como se ele tivesse sido estrangulado. Eu não sabia ao certo o que havia acontecido com ele, mas certamente isso não teria sido uma morte natural. Mas poupo-me em saber, para não me causar mais dor naquele momento.
- Como puderam fazer isso com ele? – Olho para trás e vejo a mãe de Daniel sentada em um dos bancos que estavam encostados na parede, chorando no ombro de uma amiga. Alguém o matou. Concluo. Mas por que alguém faria isso? Me questiono.
Eu parecia estar em total estado anestésico. Talvez seja pelos remédios, ou simplesmente por não estar acreditando que isso fosse verdade. O silêncio perdura durante vários minutos. Muitas pessoas que acredito serem familiares de Daniel paravam em frente ao caixão e derramavam algumas lágrimas. Este estava se tornando o momento mais perturbador de toda a minha vida e meu desejo era apenas sair daquele lugar. Meus pais ficaram o tempo inteiro no canto da sala. Eu, me sentei nos bancos e fiquei ali por todo tempo, até o momento em que o padre chega. Era o padre da igreja no qual costumávamos ir quando éramos menores, com cerca de sessenta anos, cabelos brancos e vestia sua túnica preta.
A oração de despedida foi feita, após isso Daniel foi levado para onde seria sua "nova casa". Fazia muito frio lá fora e começava a garoar. Os guarda-chuvas tomaram conta do ambiente enquanto caminhávamos lentamente até a cova e seu corpo era levado em um dos carrinhos do cemitério.
Após todo o sepultamento, caminhamos em direção à saída do cemitério. Antes, observo a mãe de Daniel, vou até ela e a abraço.
- Meus sentimentos dona Luciana. – Foi apenas o que saiu de minha boca. Ela retribui o abraço, mas continua em silêncio. Seus olhos estavam muito inchados de tanto chorar.
Volto para a casa de minha mãe. Eu não suportava mais ficar naquele cemitério. Mesmo que fosse onde o corpo de Daniel estava, ele sabia o quanto aquilo estava me dilacerando por dentro. Vou até meu quarto e vejo algumas fotos dele na parede. Por um breve momento penso em Jonatan. Ele não me deu sinal de vida o dia inteiro. Mas o pensamento sai da cabeça ao lembrar que ele pudesse estar empenhado no futebol e de verdade, eu não queria sequer tocar no assunto de Daniel novamente. Isso só me consumiria cada vez mais.
Passo a noite inteira olhando pela janela de meu quarto. Sem nenhum pensamento, sem nenhuma expectativa e apenas observando. Vejo a vizinha em frente começar suas gritarias noturnas, ela sempre fazia aquilo. Mas dessa vez reparo bem no que estava acontecendo. No meu quarto dava para ter uma visão ampla da rua. Vejo através da janela da vizinha, seu marido dando um tapa em seu rosto, e depois ela corre para o quarto chorando. Na rua, alguns jovens passam chutando algumas latas. Fazendo o maior barulho possível. – Hipócritas! – Sussurro.
Daniel me vem à cabeça naquele momento.... Lembro do dia em que estávamos indo ao centro da cidade para comprar algumas coisas, que iríamos usar em uma festa. Em uma das ruas principais, fomos surpreendidos por dois homens que começaram a insultar Daniel, chamando-o de "viadinho". Ele ficou muito triste aquele dia, e eu não sabia o que fazer para mudar essa situação. Me dizendo inclusive, que não tinha culpa de ser diferente do que a sociedade estava acostumada.
Mas de fato, o que era ser diferente? Se amar é tão errado assim, como eu poderia amar Jonatan? Me questiono e em seguida penso na resposta. O erro não estava no amor e sim naqueles que se julgam superiores ao próximo só por que amam alguém do mesmo sexo e consecutivamente buscam a felicidade plena.
- Mas o que seria a felicidade, de fato? Sussurro enquanto observo as estrelas. O silêncio toma conta de tudo neste momento. Talvez fosse a hora de me deitar, pois se não há felicidade, não há vida que possa suportar sua ausência!
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Alice - Um Desejo de Vingança
Ficțiune generală"Observo aquele homem com desprezo enquanto o sangue escorre de seu pescoço. - Eu sabia que ele merecia aquilo. E eu ainda não havia acabado com ele completamente. - " Este livro não possui nenhum vínculo com a realidade. Todos os fatos que coincida...