Capítulo 6

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          Orlando... Era a primeira vez que eu vinha até aqui. Sentia-me tão realizada neste momento! Estava um lindo dia ensolarado e diversas crianças entravam dentro do parque da Disney sorrindo e muito entusiasmadas. Eu usava um vestido azul claro bem leve e com cabelos soltos ao vento. Havia logo na entrada os personagens mais marcantes, Pato Donald, Pluto, Miney e o mais famoso Mickey. Ah, eles eram tão bonitos e bem altos! Corri para abraça-los e senti um acolhimento enorme. Eu estava com o coração vazio e sem preocupações, como se um grande peso tivesse saído dele.

          Avisto Jonatan um pouco mais à frente dos personagens. Ele estava mais lindo do que nunca! Usava uma camiseta regata amarela e um short jeans cinza! Corri e dei-lhe um beijo bem demorado. Eu me sentia tão feliz naquele momento! Caminhamos de mãos dadas em direção ao castelo das princesas, a atração principal do parque. Ele era de longe a coisa mais linda que eu já havia visto em toda minha vida.

           Ao olhar para o lado esquerdo, de onde Jonatan estava, vejo uma pessoa de branco vindo em minha direção. Era Daniel.... Ele caminhava com um sorriso de canto a canto da boca, enquanto segurava algo nas mãos, era uma rosa, também da cor branca. Ao parar em nossa frente ele sorri! Seu rosto estava com um brilho surreal, parecia que havia passado em alguma sessão para limpeza de pele com um pouco de purpurina. Ele estende as mãos, me oferecendo a flor, até que abre a boca para dizer algo.

           - Jenny? – Escuto a voz suave de minha mãe saindo de seus lábios. – Jenny? – Escuto novamente como se tivesse querendo me chamar a atenção. Observo com estranheza, afinal, não era minha mãe que estava ali.

           Logo, tudo começa a escurecer, vejo-me caindo lentamente em frente a Daniel e Jonatan, eles me observam, porém não fazem nada. Tudo fica escuro! Gelado! A voz de minha mãe, que antes estava mais distante, agora parecia soar em meu ouvido, porém suave, como se estivesse tentando me acordar. Não enxergava mais nada, até abrir os olhos lentamente e ver minha mãe sentada em uma cadeira próxima a cama onde eu estava. O quarto todo branco e bem iluminado, desenhavam um ambiente calmo e tranquilo. Havia um guarda-roupa embutido ao redor de minha cama e uma televisão em frente estava ligada. Havia também um sofá grande no canto esquerdo da cama. Era um hospital. Concluo.

           - Jenny, minha querida? Você está bem? – Minha mãe estava segurando minhas mãos com suavidade. Sua aparência estava triste e seus olhos inchados e lacrimosos. Minha boca não se movimenta para nada naquele momento.

            Daniel estava morto! Era apenas o que vinha em minha mente. Eu simplesmente não acreditava no que havia escutado, mas lembro-me perfeitamente quando minha mãe me disse no telefone após eu apagar.

           - Daniel? Cadê o Daniel? – Sussurro quase sem voz. Esperando não ter a confirmação do que eu já sabia.

           - Jenny... Acredito que você precisa descansar mais um pouco... Você teve um sábado muito difícil. – Ela me responde, sem me dar sinais do que eu queria saber.

          Mas eu já sabia, ela me disse antes de tudo escurecer. Estava fazendo aquilo para não me causar algum outro desconforto. Eu não conseguia pensar em mais nada.... Viro-me para o canto da parede e observo o criado-mudo que estava com um copo de água e alguns remédios em cima. – Como isso pôde acontecer? O que será que aconteceu de fato? Será que tudo é mentira? – Me questiono mentalmente. Minha mãe resolve mudar o canal da televisão para tentar distrair minha mente. Mesmo após várias horas virada para o canto, eu não me mexia. Apenas escutava a novela e as bobagens que estavam passando na televisão.

            Passado cerca de uma hora, meu pai entra no quarto. Senta-se na beira da cama e faz um carinho em meus pés que estavam cobertos pelo edredom branco.

           - Filha.... Precisamos conversar! – Eu sabia o que ele queria falar!

           Mas eu não conseguiria se quer responder, isso não estava mais em meu controle. Apenas queria não pertencer mais a este mundo. Após alguns minutos, eu me viro para ele. Ele me observa, tentando criar forças para me dizer algo.

          - Filha, como sua mãe te disse.... – Ele respira fundo antes de continuar. - Seu amigo Daniel, faleceu! – Fico em silêncio, sem demonstrar nenhuma reação. Meu corpo inteiro se arrepia neste momento. Sinto meus sentimentos se estilhaçarem ainda mais. – Realmente, é difícil o que está acontecendo e acredite que eu não gostaria de estar aqui te falando isso.... Mas sua mãe não consegue. Ela também está muito abalada.... – Ele começa a acariciar o edredom em estado de nervosismo. – Mas, eu sei que gostaria de se despedir dele... e o quanto não nos perdoaria se não te chamasse para isso.

             - Me diga quando. – Digo rispidamente sem demonstrar nenhuma reação. Algo dentro de mim começa a congelar. Era como se meus sentimentos estivessem sendo congelados para evitar uma dor maior.

            - O velório será daqui duas horas. Você precisa se alimentar e depois devemos ir. – Ele não conseguia olhar em meus olhos. Estava olhando para algum ponto em meu rosto, mas definitivamente, não era em meus olhos.

             Concordo com a cabeça. Após algumas horas eu já havia me arrumado e estava de pé. Inerte em meus sentimentos e sem dizer uma palavra. Apenas com o olhar distante e vazio.Minha mãe havia trazido algumas roupas pretas para mim. Saímos do hospital no centro da cidade. Dentro do carro de meu pai, observo os ambulantes na rua.Pouco estava me importando o fato de estarmos, meu pai, minha mãe e minha madrasta juntos. Olho para o céu e observo que estava um dia nublado, como se fosse chover logo mais. Ao aproximarmos do cemitério, haviam diversos carros estacionados e reconheço o carro da mãe de Daniel. Desço e avisto alguns colegas de escola que eram pouco próximos a nós. Penso no quanto são hipócritas em estar aqui, nunca foram de falar com a gente. Mas deixo meus pensamentos ao me aproximar do portão de entrada. Antes de entrar, paro e observo o velho portão.Era um portão enferrujado e seu formato parecia daqueles filmes de terror. Sinto um arrepio em todo meu corpo, mas nada conseguiria me abalar mais neste momento.

Alice - Um Desejo de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora