Capítulo 5

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Um tapete de neve se formava no chão do lado de fora. Pelo vidro era possível ver cada floco de neve navegando no ar em direção ao grupamento que enchia a calçada fazendo com que algumas pessoas perdessem o equilíbrio, eu acabava rindo com uma dessas pessoas eram aquelas garotas dignas de capa de revista vestindo roupas claramente caras como os seus saltos agulhas em um tempo instável, elas acabam perdendo até o rumo quando desequilibravam com o gelo antigo. Até eu mais cedo tinha quase dado de bunda no chão quando cheguei à clinica para abrir. Yoo e o Doutor Park sempre chegavam juntos pelo menos uma hora depois de mim.

Com duas semanas ali, agora carregava as chaves do local para a abertura e fechamento, era irônico como no primeiro dia ele quase me engoliu com os olhos enquanto hoje ele que chegava depois. Talvez fosse por isso sempre marcava as suas consultas um pouco mais tarde. Enquanto isso eu passava o dia todo sentada, atendendo ao telefone e recepcionando cada pessoa que chegava ali com o seu animalzinho. No horário do almoço quando saiam para comer, eu ficava apenas acompanhada com a vasilha cheia de tentativas frustradas de preparar qualquer prato que faria no Brasil com ingredientes que eu jurava que seria equivalente. Tirando a carne, é claro, ali é muito caro que eu poderia imaginar. Aproveitava aqueles momentos na clinica sozinha e roubava alguns dos seus livros para ler e era grata por alguns deles serem em inglês. E sempre tomava cuidado ao manusear cada livro principalmente aquele que carregava um marca pagina denunciando que ele também o lia e antes que o relógio anunciando que estava próximo devolvia o livro para o seu lugar e morria de tédio até que ordenasse organizar ou preparar qualquer coisa.

Eu estava pouco animada, apesar de ser a primeira vez sendo a neve estava me sentindo extremamente sozinha e com o natal tão próximo, me perguntei porque não enrolei mais e não esperei com que o ano novo passasse para que eu não ficasse tão sozinha, nem mesmo Amy que costumava ser tão próxima agora ficava mais tempo da sua gaiola do que tentando qualquer contato comigo, nem mesmo queria sair de casa, o frio estava deixando ambas triste demais.

- Ai, homens! – Yoo se aproximou e se sentou no sofá da recepção.

- Está tudo bem?

- Às vezes eu não entendo os homens, dizem que nós mulheres somos complicadas, mas nem eles mesmo sabem o que quer.

- Algum problema?

- Até demais. – Ela suspirou e Doutor Park a chamou novamente. – O seu chefe as vezes quer saber mais do que eu.

Ela se levantou e voltou para a sala, quando a porta foi fechada ficando imaginando como os dois podiam passar tanto tempo juntos e o relacionamento permanecer tão bem, quer dizer, apesar de desentendimento deveriam acontecer, mas como estavam sempre juntos imaginava que uma hora iria desgastar, pelo menos era o que eu achava.

O pequeno poodle de pelagem preta estava ali mais uma vez, mas agora ele estava acompanhado de seus irmãozinhos, faltava apenas uma vacina para que eles fossem finalmente para os seus novos lares, menos aquele que por ter a pelagem diferente ninguém se interessou. Claro que estava apaixonada por ele, mas não poderia adotar todos os animais que apareciam na minha frente ou então eu teria que comprar uma fazenda para abrigar tantos. O que me aliviada era que os seus atuais donos cuidavam tão bem dele que ficaria bem até alguém o adotar. Depois de acompanha-los até a sala, organizei todas as raçoes e produtos que ficavam amostra e aproveitei para tirar o pó.

- Helena, pode me dar uma opinião em qual coleira é melhor para um cachorro? – Yoo se aproximou e carregava três tipos de coleiras diferentes.

- Bom, depende do cachorro é claro, mas eu aconselho essa. – Apontei para uma das coleiras. – Mas por que está perguntando pra mim? Acho que o Doutor Park poderia responder isso melhor do que eu.

- Eu sei, mas quero fazer uma surpresa para ele então não posso perguntar da surpresa para a pessoa que vou dar né? – Ela riu e olhou para a coleira escolhida. – Você tem bom gosto, obrigada, Helena.

- Estou ao seu dispor. – Ela se afastou animada, me perguntei como ela o surpreenderia com uma coleira. Imaginava que para esses tipos de fetiches tinha objetos próprios para isso.

Sacudi a cabeça afastando qualquer cena sexual entre os dois com uma coleira e voltei aos meus afazeres. Cantarolava um musica mentalmente tentando me distrair e pensando o que eu faria nos próximos dias, o natal estava chegando e a clinica não abriria naquela semana, eu ficaria desocupada todos os dias e não estava me sentindo muito animada para estudar, o que era raro demais. Compraria algumas coisas para comer e assistiria todos os filmes e séries atrasadas, teria uns três anos de serie acumulada? Talvez, se não fosse mais.

O casal saiu carregando os três filhotinhos no colo e enquanto finalizava o pagamento, percebi que aquele filhotinho que se destacava tanto não se encontrava ali, olhei para o chão e ao redor e ele não estava ali.

- Desculpa a pergunta, mas...

- Espero vocês daqui um mês para a castração? – Doutor Park saiu do seu consultório carregando o cachorro que faltava no colo do casal. O cachorro vestia a coleira escolhida e Yoo sorria animada logo atrás dele.

- Claro, muito obrigada, doutor. – O casal partiu e não consegui evitar a pergunta.

- Essa era a surpresa? – Yoo anotava no sistema a data e o horário do retorno do casal.

- Não achou incrível? Ele não para de sorrir desde que segurou aquele cachorro. – Pelo menos para o cachorro ele tinha uma cara melhor.

- É incrível mesmo. – Forcei um sorriso, estava aliviada por dentro por aquele cachorrinho não acabar ficando sozinho e apesar da seriedade do doutor, ele estaria em boas mãos.

- Você tem algum animal de estimação? – Ela começou a puxar assunto aleatoriamente, era a primeira vez que trocávamos mais do que duas ou três palavras em um curto período de tempo e ainda sobre coisas fora do trabalho.

- Uma furoa.

- Nossa, que diferente. E veio com você?

- Com toda certeza, ela é uma parte de mim, jamais poderia deixa-la pra trás.

- Poderia traze-la qualquer dia para a conhecermos.

- Ah, claro.

- E você deixou alguém no seu país?

- Meus pais, apenas.

- Não, sabe, um par romântico. – Ela riu com a minha expressão.

- Ah não, eu não tenho tempo para essas coisas.

- A melhor coisa que você faz ou não, as vezes é incrível, mas as vezes dá vontade de arrancar os cabelos. – Percebi que ela carregava um anel prateado em sua mão esquerda e a direita ainda estava marcada da aliança que antes ficava ali, ela estava noiva e fazia pouco tempo. – Quer um conselho, pense muito antes de dizer sim, esse sim pode custar o seu sonho.

Eu sabia disso, porque eu fugi tanto tempo de qualquer romance, qualquer amor ou qualquer sentimento. A única pessoa que cheguei a abrir o meu coração estava prestes a casar e viajar para a Austrália junto com a minha ex amiga e colega de classe. Perdi o primeiro ano da faculdade por essa besteira e prometi que nunca mais abriria o meu coração para qualquer pessoa que fosse. 

Doutor Pet 》EXOOnde histórias criam vida. Descubra agora