Capítulo 3

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Pela primeira vez eu estava pisando os meus pés dentro de um avião. Esperava tanto esse momento que estava tão ansiosa que estava até com dor de barriga, mas eu sabia que era psicólogo e tratei de ficar calma. Devia ter tomado um calmante também para viajar dormindo o tempo todo que nem Amy. Por sorte, tinha levado um livro para estudar durante o caminho, então assim que as turbinas do avião foram ligadas, a primeira página foi aberta e mergulhei no idioma coreano.

🐾

35 horas.

Foram 35 horas até que o avião finalmente pousasse na Coréia do Sul. Minha bunda estava até quadrada e super cansada. Amy estava agitada dentro da gaiola implorando para finalmente ser solta, o efeito do remédio tinha passado e ela corria sem parar tornando difícil carrega-la.

- Calma, estamos chegando. Falta muito pouco. – Sussurrei olhando para ela enquanto estava o meu táxi chegar.

Estava anoitecendo e eu não tinha noção que dia estava e nem que horas eram, quando chegasse ao apartamento precisava correr para atualizar o meu celular e também passear com Amy para que ela não estragasse qualquer roupa minha ou me dar as costas sempre que falar com ela.

Não queria o seu mau humor agora que estava tão esgotada da viagem, só queria dormir em uma cama confortável e quente. Diferente do Brasil que estava poderia estar fritando ovos na calçada de tão calor, aqui estava tão frio que eu estava acreditando fielmente que estava no Alasca, não na Coréia. Quer dizer, no Alasca poderia ser mais gelado, mas como eu não estava acostumada com tanto frio que o mínimo ventinho dali estava congelado. Agradeci por ter colocado uma enorme manta na gaiola para Amy dormir, ela estava enrolada no tecido enquanto eu congelava ali.

Por sorte, no táxi o ar condicionado estava ligado e consegui relaxar a minha coluna e os dedos dos pés. Estava aliviada, mas estaria mais em casa.

As chaves do imóvel já estavam em minhas mãos, eu desceria do carro e já pularia para dentro. O taxista por sorte entendia um pouco de inglês, então o que eu ainda não sabia em coreano, eu falava em inglês que era mais pratico. Eu era insegura demais de como e com quem eu deveria usar certas palavras e certos jeitos. Não queria ser mal educada com ninguém.

O senhor era tão bonzinho que ele me ajudou a carregar duas malas de 30 quilos até a entrada do pequeno apartamento que ficava no segundo andar de um prédio perto da faculdade e algumas quadras da clinica que trabalharia.

Estava tudo fechado e escuro, havia até poeira em alguns moveis me questionei se alguém morava ali ou quando foi a última vez que alguém morou ali, quando deslizei o dedo pelo aparador da entrada o meu dedo ficou preto. Amy chamou minha atenção mais uma vez, antes que eu finalmente a soltasse.

- Ok, ok. Parece não ter ninguém aqui, mas mesmo assim, não apronte por favor. – Eu abri a gaiola e ela correu para fora e começou a vasculhar o local antes de mim.

Conforme observando cômodo após cômodo, conheci o pequeno apartamento que eu moraria durante um ano inteiro. Aquele lugar precisava de limpeza urgentemente.

Uma porta entre aberta revelava um quarto que possuía apenas uma cama, um guarda roupa e uma cômoda. Imaginei que aquele fosse o meu quarto já que a outra porta estava fechada e possivelmente trancada. Um bilhete escrito a mão estava colado nela.

"Olá nova colega de apartamento.

Eu espero que você goste de morar daqui assim como eu, apesar de passar mais tempo fora do que aqui. Eu viajo muito, então provavelmente quando você chegar estarei longe por um tempo, mas prometo voltar logo para nos conhecermos. Por favor, só peço para que o meu quarto fique fechado de resto aproveite a casa. O seu quarto já está pronto para uma nova moradora. Espero que não se revolte com a minha ausência como as outras. Eu agradeço desde já e até já."

Eu estava um pouco nervosa ao imaginar em morar com alguém que não conhecia, mas depois de ler aquele pequeno bilhete fiquei mais aliviada em saber que ela era legal, pelo menos parecia na escrita. Estava curiosa para saber quando ela voltaria e quando a conheceria.

Como estava muito cansada, apenas coloquei Amy de volta em sua gaiola perto da minha cama e por sorte, havia roupa de cama e cobertores limpos empacotados no guarda roupa. Usei o mais grosso para me enrolar e dormir pelo menos dois dias. Não estava acostumada com viagens de avião ou tão longas assim. Meu corpo estava no limite, só me levantaria para comer, alimentar Amy e ir ao banheiro e nada mais.

🐾

Depois de mais de um dia descansando tudo que tinha amanheci com as minhas energias recarregadas e bem cedo peguei todos os produtos que encontrei e limpei toda a casa. Só parei quando tudo brilhava e o cheiro que predominava dos produtos misturados tornando apenas um agradável. O cheiro da limpeza.

No próximo dia eu começaria na clinica, então tinha que prepara tudo naquele.

Com Amy na coleira, andei com ela pelas as ruas e quando entrei na loja mais próxima, ela se enfiou dentro da minha calça até que eu terminasse a compra. Um carinho cheio de todas as comidas que eu conhecia ou que eu achava que conhecia.

Acabou bocejando algumas vezes ao dia, imaginava que o jetlag não ia me pegar tanto já que treinei algumas vezes a troca do dia, mas não tinha funcionado, quando a experiência é vivida de verdade é bem diferente.

Aproveitei que a casa estava limpa, já tinha brincado com Amy e a alimentado, e eu também comi até a minha barriga querer estourar, desfiz as minhas malas depois de lavar a louça suja. Tinha levado roupa para todas as estações, só achava que as de invernos são seriam suficientes. Coloquei todas as peças em seu devido lugar no guarda-roupa até que ele estivesse cheio e as malas mais que vazias. Os meus livros e cadernos já estavam ocupando toda a escrivaninha e o meu uniforme branco estava preparado na cadeira para acordar e ir direto para o primeiro dia.

Estava nervosa, estava, mas já tinha trabalhado em clinicas antes e tinha certeza que me sairia bem, principalmente porque tinha estudado até os termos médicos em coreanos para me sair tão bem que me formasse com honra e voasse para o meu país queridinho. Aguentaria aqueles 365 dias para realizar o meu sonho.

Antes de dormir, fiz vídeo-chamada com os meus pais e tive que contar tudo que tinha feito até agora e mostrar todo o apartamento. Eles ficaram felizes por ver que eu iria ficar em um bom lugar. Desejaram muita sorte e pediram para ligar para eles quase acontecesse algo não importando a hora e sempre mandasse noticias. Já imaginava que isso iria acontecer. Depois de me despedir dez vezes, finalmente desliguei e me enfiei no cobertor.

Não sei quantas vezes o meu despertou tocou, ou se ao menos havia tocado, eu acordei em um susto e quando olhei a hora estava muito atrasada. Tomei um banho correndo e me vesti pulando com um pedaço de pão na boca. Deixaria o cabelo preso em um coque para que não perdesse tempo demais escovando os fios, apenas ajeitei os rebeldes.

Uma caixinha roxa que não tinha percebido antes estava na minha cama de mão, era um perfume com a letra da minha prima na embalagem: "Se conhecer um cara legal, use isso." Revirei os olhos, como se eu tivesse tempo para isso.

Corri em direção a clinica, por sorte eu não tropecei em nada, nem mesmo nas próprias pernas. Estava com tanta pressão que nem pude notar o caminho e admirar o lugar, só tinha o foco de chegar o mais rápido possível. Estava atrasada pelo menos trinta minutos.

Tive que parar e respirar fundo quando cheguei à entrada, o meu coração estava batendo tão forte que eu o sentia pulsando em minha garganta, cabeça e até orelhas. Não devia ter corrido tanto.

Quando me aproximei, as portas eram automáticas e se abriram, a clinica apesar da localização era enorme e parecia muito bem equipada. Meus olhos se iluminaram ao ver tanta coisa e como o local era lindo. Uma recepção estava logo a frente, uma moça muito bonita conversava com um rapaz que estava de costas para mim. Com passos lentos e calmos e me aproximei. A moça de antes agora olhava para mim, sorrindo.

- Bom dia, como posso ajuda-la?

- Eu sou a nova estagiaria do Dr. Park. – Disse as palavras cuidadosamente tentando lembrar todos os modos corretos. Eu tinha estudado muito, mas era a primeira vez que estava colocando em pratica.

- Você está atrasada. – A voz grossa do rapaz ao meu lado se fez presente me dando um susto. Ele continuava escrevendo em um papel e sequer se deu o trabalho de me olhar. – Muito atrasada. – Ele enfatizou a última vez e desta vez me olhou e ele estava sério. Eu tive que engolir seco quando aquele olhar se fixou em mim. 

Doutor Pet 》EXOOnde histórias criam vida. Descubra agora