Capítulo 46

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Como dormi demais na viagem, estava sem sono e Chanyeol também já que mesmo com a minha insistência para dormir, mas não, preferiu encarar as caras feias do meu pai e responder qualquer pergunta que fosse. Cheguei a conclusão que provavelmente eu estava com a mesma cara que ele estava quando encarei a sua vó de queixo erguido.

A noite caiu e incrivelmente o sono começou a aparecer. Desfiz a minha mala e levei a de Chanyeol para o quarto que ele passaria a noite. Ele estava jogado na cama que era menor que ele, deixando as suas pernas de fora. Segurei a risada para que não ficasse chateado comigo.

Como finalmente ele foi capaz de cochilar, fechei a janela e a cortina para que o sol forte não incomodasse e voltei para o meu quarto. O lugar que parecia tao distante em minha memória.

Era estranho estar ali novamente, estranho, mas não ruim.

No inicio, quando sentia muita falta de casa, eu fechava os meus olhos e fingia dormir aqui. Automaticamente tinha deixado todos os moveis na mesma posição só para lembrar mais de casa e isso não ajudava muito na saudade, só aumentava mais. Algumas vezes me peguei chorando depois de conversar com os meus pais, não deixava que isso saísse do meu quarto e que alguém soubesse do meu sofrimento, mas me sentia sozinha e isso só causava mais tristeza.

Mas agora estava aqui novamente e não estava tao alegre quanto achei que estaria quando voltasse.

Estava tudo exatamente do mesmo jeito que deixei, mas não havia um grão de pó nas cômodas ou cheiro de mofo, o que dizia que minha mãe manteve a porta e a janela aberta todos os dias e a limpeza em dia.

- Sentia falta de passar por aqui e te ver ai. - Como se soubesse que eu estava pensando nela, minha mae surgiu na porta com um sorriso de orelha a orelha.

- Eu imagino. - Peguei o meu ursinho de pelúcia que costumava ocupar parte da cama e me aconcheguei, minha mãe se juntou a mim. - Vocês estão bem? Quer dizer, eu estou longe e...

- Nós sempre estivemos preparados quando você fosse. Uma hora você ia sair do ninho e moraria longe, sorte que você nos preparou que seria mais longe. - Ela riu e se deitou ao meu lado me abraçando, como costumava fazer quando eu era pequena e estava sem sono. - Não é tao ruim quanto achamos, temos saudade, mas nós sabemos que você está feliz.

- Sabem? - Ela não via minha cara de choro todas as vezes que me ligava?

- No começo eu tinha minhas duvidas se você realmente aguentaria, mas vi que com o tempo você estava melhorando. - Sorrindo, apertou minha bochecha. - Você parece mais animada do que jamais esteve.

- Sim, eu finalmente estou me formando e eu não poderia estar mais feliz.

- Não acho que seja apenas por isso.

- E pelo que mais seria? - Minha mãe me encarou por um tempo e riu. - O que?

- Nada não, quando você quiser me contar eu estarei aqui. E a Austrália? Como andam os seus planos?

- Eu sinceramente não sei.

- É a primeira vez que eu escuto você dizer que não sabe. - Ela me olhava com espanto.

- Estou esperando respostas, la é muito concorrido, muito mesmo. Vi que a lista de espera é enorme, mas enviei e-mails para todos os lugares possíveis e assim que tiver uma resposta eu vejo a minha pós.

- E se não tiver resposta ate o começo do ano que vem? Vai voltar para casa?

Não tinha pensado nisso, eu conseguiria voltar para casa? Na verdade, eu voltaria?

- Sei que a Coréia não é o lugar que você gostaria de estar, então volte para casa e espere uma resposta aqui. Não fique longe.

- Não quero voltar para depois sofrer para ir embora de novo, mãe. Melhor eu continuar na Coreia ate ter alguma resposta, além do mais Chanyeol precisa da minha ajuda.

- E falando nele...

- O que tem?

- Você e ele?

- NÃO! - Eu saltei na cama e balancei a cabeça várias vezes. - Que isso, mãe. Ele é o meu chefe.

- O coração não escolhe.

- Mesmo assim, esse não é o meu objetivo, mae.

- Está bem, está bem. Estou vendo que minha filha vai acabar como uma velha solitária com uma casa cheia de gatos.

- Não vejo nenhum problema nisso. - Grunhi quando minha mãe beijou minha testa e se levantou.

- Eu sei que não vê, esse é o problema. Vou te deixar descansar. - Suspirando ela deixou o meu quarto. Minha mãe era como toda mãe que queria ver a filha se casando, tendo filhos e essas coisas, mas ela sabia que eu não era assim, nunca tive esse sonho. Mesmo que meu coração tivesse vacilando, eu não poderia contar nada ainda.

O meu painel de desejos acabou afastando o sono e passei muito tempo o observando. Tinha eu mudado muito desde que viajei?

Uma batida na porta tirou a minha atenção. Chanyeol estava com cara de sono e com os seus cabelos em pé.

- Posso entrar?

- Depende, quer ver o meu pai surtar? - Ele riu e passou os dedos entre os cabelos ajeitando-os.

- Ele não deixava você e o seu ex ficarem juntos no quarto enquanto estudavam?

- Meu ex não era tao bonito como você. - Eu o acompanhei na risada e o chamei para entrar. - Vem.

- O que está fazendo?

- Pensando apenas.

- Não dormiu?

- Não consegui, sem sono.

- Alguma coisa tirou o seu sono?

- Algumas, na verdade. Pensando demais.

- Quer falar sobre?

- Agora não. - Sorri e sentei na cama. - Dormiu bem?

- Bastante, desconfortável dormir de dia e acordar de noite, mas estava bem cansado. - Realmente, eu não tinha notado que já era tarde.

- Meus pais devem estar dormindo já.

- E você com medo que seu pai nos pegasse. - Rindo, ele pegou a minha mão. - Eu não os vi, eles dormem cedo?

- Acordam junto com as galinhas. - Era tao bom sentir a sua mão na minha que eu sorri mais pelo seu toque.

Os seus olhos passeavam pelo meu quarto, conhecendo cada parte do cômodo e praticamente conhecendo cada parte de mim já que tudo que tinha ali me descrevia.

Ele levantou e foi ate o meu painel analisando cada item que compunha o enorme quadro de madeira que ocupava toda a minha área de estudo. 80% eram fotos de locais da Austrália e 20% matérias da faculdade. Não era nenhuma surpresa, já que tinha aprendido na Lei da Atração que um painel dos seus sonhos os atrai. Eu tentei.

- Uau. - Foi a única coisa que ele comentou.

Ele continuou andando pelo quarto e acabou achando algo que nem eu lembrava que estava ali.

- Você toca violão? - O objeto estava enfiado entre meu guarda-roupa e a parede pegando pó.

- Não mesmo.

- Então por que tem um? - Ele tirou com um pouco de dificuldade e foi incrível o tanto de pó que saiu junto.

- Era do meu avô, ele acabou deixando aqui e bom, ficou ai. - Eu deixei risada quando Chanyeol fugiu para longe do pó e tirava o violão da capa.

- Posso?

- Vai em frente. - Levantei rápido e fechei a porta. Por sorte meu quarto era a prova de som, já que eu estudava ate tarde e isso incomodava os meus pais a ponto de colocar espumas entre as paredes na reforma.

Chanyeol afinou o instrumento que estava incrivelmente desafinado pelo tempo parado.

- Vai tocar? - Estava em choque, nunca tinha visto Chanyeol nem sequer cantarolar ou batucar os dedos em alguma superfície.

- Você se incomoda?

- De jeito nenhum, por favor. - Ajeitei-me na cama e esperei.

As primeiras notas mal saíram e meu coração disparou. 

Doutor Pet 》EXOOnde histórias criam vida. Descubra agora