A Tempestade

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              "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum."
                            -Shakespeare

Annabeth Collins

Condado de Northumberland, 1837

      O céu estava mais escuro que normal às cinco e meia da manhã enquanto Annabeth galopava à toda velocidade pelas terras de sua família. Ela tinha total conhecimento de que seu irmão mais velho a puniria por este comportamento "devasso" quando ela retornasse para casa, mas não dava a menor importância. Ela adorava o amanhecer.

     Seus longos cabelos ondulados eram jogados para trás com a força do vento gélido da madrugada enquanto Annabeth pensava sobre a vida. A garota que havia acabado de completar suas dezoito primaveras não tinha uma conduta comum como era esperado das mulheres de sua época. Filha mais nova de Winston Collins, o Conde de Northumberland,  foi criada por seus irmãos mais velhos, pois a mãe faleceu logo após seu parto e seu pai foi acometido por uma grave tristeza, morrendo um ano depois.

        Nunca lhe faltou nada, visto que a Família Collins detinha muitas posses. Benedict Collins, avô de Annabeth, era um homem de respeito na Inglaterra e possuía títulos. Atualmente ele vivia com a esposa na França junto de alguns netos, sem mais vínculos com a política inglesa. Seu filho mais velho, Winston, recebeu o condado. E com sua morte, os arrendamentos foram passados para o irmão mais velho de Annabeth: Axel Collins.

        Tão pomposo quanto o último Rei da França,  Axel teve que amadurecer rapidamente para conseguir manter a família em pé e Annabeth sentia culpa por isso. Seu irmão mais velho odiava as responsabilidades de seu título, possuía um vínculo profundo por bordéis e não queria se casar muito cedo. Annabeth percebia que ele ainda carregava ressentimentos em virtude da morte dos pais e secretamente a culpava por isso, não estabelecendo vínculos com a irmã mais nova. Era um homem já feito e detinha uma boa noção de política e economia, cuidando dos negócios da Família Collins.

       Havia outros Collins espalhados pela Inglaterra. A família era grande e todos viviam espalhados pelo país, cada um chefiando um condado, sendo proprietário de empresas bem sucedidas ou comerciantes riquíssimos.

       O passatempo preferido da garota estava entre ler romances de Sir Arthur Conan Doyle e Walter Scott, e andar a cavalo. Apesar de não fazer gosto das suas obrigações, a Srta. Collins nutria um fascínio inexplicável por música. Ela possuía um piano em seu quarto e fazia parte da sua rotina tocar Schubert ou um clássico de Chopin antes de dormir. Annabeth também adorava ficar com seus cabelos soltos, dispensando os tradicionais penteados elaborados da época e não era grande apreciadora de danças. Se ela pudesse, largaria tudo para viver isolada, sem regras ou condutas morais a seguir.

       Nesse exato momento, ela se sentia livre. Livre de regras, padrões de comportamento, decoros, falsa cortesia e o fingimento constante da aristocracia. Por ora, em seu cavalo preto, a garota dos cabelos castanhos descansava a cabeça, não conseguia pensar em absolutamente nada. A vista era maravilhosa.

         O sol começou a aparecer e Annabeth abriu um sorriso enquanto cavalgava velozmente pela propriedade. A luminosidade engolindo a escuridão, não havia nada mais bonito para ela. Porém, logo começou a chover. Annabeth não se importou em ficar molhada, continuou apenas ali admirando. Ela amava a natureza.

         Após apreciar a paisagem por um certo tempo, ela decidiu voltar para casa, não podia gripar. O quanto antes melhor. Às seis da manhã, a caçula dos irmãos Collins retornou ao seu lar.

-Pare, MacLean. -Sussurrou para seu cavalo, reforçando o aperto.

      O animal relinchou e parou logo em seguida. Graças a Deus Annabeth não era adepta a espartilhos ou saiotes, portanto detinha uma mobilidade invejável em comparação à outras mulheres.

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