"Vós que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele. "
-Victor HugoCharlotte Collins
Chaterlley Hill, Brighton, 1837
O caos em Brighton estava instaurado naquela tarde. Charlotte Collins estava se debulhando em lágrimas, enquando Bridget tentava fazer com que a filha compreendesse sua decisão.
-Continuaremos a trocar cartas, filha. -Sua mãe disse.
-Mas mamãe, eu...
-Esta decisão não está aberta a discussões! -Bridget dizia.
Charlotte tinha sido acabada de informar através de sua mãe e sua tia que iria passar uma temporada na Northumbria com os primos. Tal ideia parecia formidável, mas não para a menina.
A garota não via consolo algum.
-É o melhor para você, querida. -A Viscondessa de Chaterlley tentou intermediar a situação.
-Mas eu não quero! -Protestava.
-Isso não importa! -Rosnou Bridget. -Eu e a sua tia sabemos o que é importante para você.
-Esta conversa está encerrada. Você irá para a Northumbria e ponto final. -Marli dissera.
-Por quê? -Perguntava Charlotte, em prantos em sua cama enquanto as empregadas da casa faziam suas malas.
A sua mãe segurou as suas mãos, enquanto Marli estava ao seu lado.
-Minha filha, escute: Brighton não oferece futuro para você. Tudo o que faço é para o seu bem, sabe muito bem disso. Não quero que acabe sozinha como eu. Para o seu futuro, é essencial que se case com alguém influente e rico.
-Mas...
-Não se esqueça que o núcleo da nossa família está em North Castle. Winston, Mary, eu, Marli, Jacques, Klaus e Anne fomos nascidos e criados naquela propriedade. Nosso sangue é mais forte na Northumbria, jamais se esqueça disso. Minha filha, já tens vinte anos! Como pretende se casar? Brighton é um lugar sem futuro para você. Os homens da família a ajudarão, querida. Não se esqueça que a Northumbria é o núcleo da família.
Em seguida abraçou a sua única filha, pesarosa.
-Quero que você entenda uma coisa: eu sempre estarei ao seu lado, não importa a distância. Sua mãe sempre estará com você. -Charlotte assentiu, enxugando as lágrimas. -Marli, vamos. Lotte precisa de um tempo sozinha.
As irmãs saíram do quarto, tristes pela reação que Charlotte tivera. No quarto, cercada por empregadas que fingiam não ver seu deplorável estado, ela ficou secando as lágrimas durante um tempo, pensando no que faria dali em diante. Então, saiu com apressadamente do seu quarto, rumo à cozinha.
-Sra. Brown, onde está ele? -Perguntou a dama, desesperada, perguntando para a cozinheira de Chaterlley Hill.
-Nos jardins. Cortando madeira para abastecer a lareira, querida.
Naquele momento, ela não se importou com seu vestido extravagante ou seus sapatos. Saiu correndo pela grande casa até os jardins da parte traseira do casarão. O seu desespero era gritante.
-Albert! Albert! -Charlotte gritou, correndo até a clareira.
Ele virou-se para ela, que se jogou em seus braços fortes.
-Está tudo acabado! -Dizia, em prantos.
-Acalme-se, Charlie. -O moreno esbelto disse, preocupado ao ver o estado da garota. -O quê houve?
Os dois se encararam por vários segundos intensos, sentindo a proximidade um com o outro.
-Estou indo embora.
-O quê?
Ela assentiu veemente.
-É uma decisão da minha mãe. Eu vou para a Northumbria.
-Como?
-Ela decidiu que eu não conseguirei me casar com um bom partido em Brighton, e pensa que tenho maiores chances no seio aristocrático da família, no norte. Você sabe, Albert... -Ela disse, com a voz embargada outra vez. -Se dependesse de mim, eu não iria.
Durante minutos, Albert andou em círculos. Ele se aproximou dela e segurou suas mãos.
-Você me ama? -Perguntou. Charlotte assentiu veemente.
-Albert... eu amo você, mas minha mãe é tudo o que eu tenho. Não posso decepcioná-la.
Ele se afastou.
-Então você está partindo.
-Sim.
-E vai se casar com um completo estranho.
-Talvez. Mas nós dois sabíamos que as chances disso acontecer eram altas! Sempre foram!
-Mas continuamos juntos. -Retrucou Albert, calmo. -Charlie, não temos mais nada a tratar.
-Eu...
-Esta provavelmente será a última vez que nos encontramos.
-Não! Eu irei...
-Charlie, não. Seja feliz. -Sussurrou contra o seu rosto. -Encontre alguém que a ame e a faça feliz.
-Eu já encontrei. -Ela murmurou, chorando, acariciando o seu rosto.
Ele balançou a cabeça.
-Não, ainda não encontrou. Eu fui apenas uma pessoa no barco que leva você para o seu verdadeiro amor. Chegamos no cais, e você deve desembarcar e deixar as bagagens para trás.
-Não! Isso é uma coisa horrível de se dizer!
-Algumas pessoas são apenas uma ponte e tudo bem. -Ele murmurou, ao seu ouvido.
Charlotte Collins preferiu mais nada dizer, e os dois ficaram abraçados durante um tempo, despedindo-se um do outro. Desde quando fizera suas dezesseis primaveras, os dois tinham um caso oculto, que ninguém jamais descobrira. Eram confidentes, amantes, e apesar do imenso abismo social entre eles... Perfeitos um para o outro.
Duas horas depois de chorar compulsivamente em seu quarto, Charlotte por fim aceitou seu ínfimo destino. Agora ela se preparava para colocar sua máscara de sedução e arrasar corações na Northumbria. Jamais conseguiria desapontar a sua mãe, mesmo que lhe ferisse a alma.
Ela era uma Collins, isso era sinônimo de sucesso e poder. A sua família era a mais poderosa ao norte da Inglaterra e ela faria jus ao título. Seria deslumbrante, graciosa e voltaria com um marido à Brighton, fosse o que custar.
O cocheiro a esperava do lado de fora. Bridget despedia-se tristemente da sua única filha, doía muito a separação. O sol escaldante tornava quase obrigatório o uso de chapéis.
Charlotte inspirou fundo, tentando ocultar a sua dor. O seu coração sangrava, mas ninguém poderia saber.
-Vais encontrar o mundo, minha filha. -Bridget por fim se despediu, soltando a mão de sua filha.
Então, Charlotte se foi.
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Amor e Ódio
Roman d'amourA Família Collins é uma das mais importantes ao norte da Inglaterra no século XIX e chefia o Condado de Northumberland. Na grande propriedade de North Castle, vivem os irmãos Collins. Annabeth Collins, a caçula da família, é a antítese perfeita do q...