Evolucionismo

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"O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado."
-Rousseau

Eloise Collins Bonneville

Londres, 1837

    Na manhã seguinte, Eloise andava a passos largos para a sua livraria predileta. A cidade de Londres estava bem agitada para Eloise, que andava com pressa. A capital estava com o mesmo ar nublado, cinzento e frio de sempre. As ruas estreitas estavam repletas de transeuntes, as lojas do comércio se abriam e as "casas noturnas" estavam se fechando, sob protestos de alguns homens bêbados que eram postos para fora dos estabelecimentos.

     A neblina da manhã, somada à fumaça proporcionada pelo fulgor industrial que repentinamente se alastrava pelo Império Britânico, acentuava a sobriedade de Londres e seu ar majestoso, de portas abertas ao progresso científico e industrial do século.

     O seu cocheiro a esperava, mas ela não queria retornar para casa tão cedo em Oxfordshire, em Collin's Hall. Enquanto não estivesse com o livro em mãos, não voltaria.

     Rumores urbanos diziam que o Rei estava gravemente doente e que em breve partiria, o que significaria a ascensão da Princesa Alexandrina Vitória ao trono inglês. Mas Eloise não quis dar créditos a meros boatos, visto que o Rei da Inglaterra estava nessa situação há cerca de cinco anos.

     Eloise decidiu numa brusca mudança de planos e passar em frente ao seu café predileto em Notting Hill, onde seus amigos mais próximos costumavam se reunir durante as horas mais calmas do dia. Um pequeno desvio de meia hora decerto não traria incômodos ao seu cocheiro.

     Olhando atentamente pela vidraça, avistou suas companhias prediletas ali tomando chá e comendo biscoitos. Eloise não se encontrava com os amigos havia mais de um mês e com a temporada de bailes anunciando sua chegada, tais encontros seriam cada vez mais obsoletos, assim como suas idas à Londres.

     O tradicional sino acima da soleira da porta luxuosa anunciou a chegada de Eloise Collins Bonneville no ambiente. O lugar era uma espécie de recanto aristocrata.

     Em uma mesa um pouco mais afastada, ali estavam eles: os cabelos ruivos e cintilantes de Felicity Hawthorne eram costumamente notórios por onde quer que ela estivesse. Ao lado da irmã, Steven Hawthorne passava cubos de açúcar para a morena Alanne Coleman, que ria avidamente de uma piada feita por Carter Sutherland, o herdeiro do estabelecimento aonde estavam presentes.

-Eloise! Veio nos fazer uma visita? -Indagou Felicity, sorridente como sempre. Apesar de tão cedo, ela trajava um vestido extravagante como de costume.

      O lugar era costumamente o ponto de encontro dos amigos.

-Não faz ideia de como sentimos a sua falta! -Exclamou Alanne, indicando um lugar vago à sua esquerda para a amiga se sentar. Eloise aceitou o gesto de bom grado.

-Nossas conversas são extremamente monótonas sem o ar impetuoso da sua prosa científica. -Comentou Carter, sorrindo.

-Como vão as indústrias de Oxfordshire, minha cara? -Felicity indagou sorrindo e apertando as mãos da amiga, sabendo da predileção de Eloise por assuntos de tal natureza.

-Peço desculpas, mas tive que dedicar um tempo à família. Mas enfim, é bom vê-los outra vez. -Eloise se justificou aos amigos de longa data, ajeitando sua postura na cadeira. -Creio que as indústrias vão bem, alastrando o sistema exploratório vigente. -Fez humor, e todos riram. Carter logo pediu um chá para a Srta. Bonneville.

-Você perdeu muitas novidades. -Alanne disse, abaixando o tom de voz em seguida. -Longe de mim fazer fofocas, mas lembra-se de Samwell, filho do Visconde de Devonshire? Ele irá se casar com a biscate da Mary Fleming!

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