North Castle

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"A vida sem a música é simplesmente um erro." -Nietzsche

Axel Collins

North Castle, 1837

      De acordo com o grande romancista Honoré Balzac, as grandes festas na França eram como duas em uma. Nas primeiras horas a festa se enchia de nobres repletos de trejeitos esbanjando seus títulos e alguns na esperança de encontrar alguém que endossasse sua beleza e status.

      Após a maioria dos convidados terem ido embora, a segunda festa começaria. Ali as risadas sinceras substituíam a atmosfera empolada e todos retiravam as suas máscaras nobres e negavam os bons costumes aristocráticos, sem o menor rigor de etiqueta. Tal exímia descrição caía como uma luva em relação aos famosos bailes dos Collins de North Castle.

      E, louvado seja o bom Deus, Axel pensou ao despedir-se do último arrendatário, a verdadeira festa havia dado início.

    O respeitado Conde de Northumberland indubitavelmente fazia maior gosto da segunda festa. Ali, reunido com seus amigos mais íntimos e família, podia por fim, relaxar um pouco do peso das obrigações e título dos ombros, entregando-se ao clima festivo e contagiante. A música estava mais alta e as quadrilhas eram dançadas de forma animada, não havia ninguém sentado nas mesas.

    A madrugada havia chegado quando Axel e George despediam-se do último arrendatário restante na festa. Restaram amigos íntimos da família, parentes, alguns vizinhos da Northumbria e uma parca elite intelectual.

-Já está tarde, não acha? -Axel indagou para George, assim que seu último sócio entrou na respectiva carruagem.

-E você já está velho, meu irmão. -Ele lhe respondeu, dando um leve tapinha em seu ombro. -Amado irmão, receio dizer-lhe que a diversão acaba de começar.

-Refere-se às valsas?

-Decerto que sim. É uma ótima oportunidade para... Bom, perceber as melhores. -Disse sorrindo. Axel assentiu, mas revirou os olhos em seguida. Quando ele teria maturidade?

    Os dois voltaram para o salão, ainda repleto de convidados. Agora as músicas tocadas eram as tradicionais da Northumbria, não mais as que ecoavam dos bailes de Londres. Em breve, o Sr. Dickens daria o privilégio para todos ouvirem suas histórias.

    O Conde logo passou por perto de uma mesa repleta por cavalheiros, seus amigos mais próximos.

-Mais uma rodada! -Dizia um dos seus amigos mais próximos, o Duque de Norfolk.

-Cuidado, meu amigo! -Axel disse, rindo, dando tapinhas em seu ombro. -Se beber em demasia, ficaremos sabendo de todos os teus segredos.

-Eu sou um livro aberto! -Retrucou o mesmo, tomando uísque.

-George, diga-me: O quê achou da Srta. Hèlene Whittes, a joia escondida de Londres? Estou curioso acerca de seu posicionamento. -O Marquês de Crawford introduziu um assunto, fazendo os olhares fitarem o mais novo irmão dos Collins, que permanecia em pé ao lado de Axel.

-Bom... -Ele iniciou seu veredicto, refletindo a respeito da silhueta da dama. -A respeitável dama possui um bom caráter e um coração nobre. -Disse aparecendo seriedade.

    Todos os cavalheiros riram baixo, entendendo o código.

-De fato um belíssimo caráter. -O Conde de Birmingham assentiu, olhando discretamente para o decote da dama.

-Contudo... -George voltou a dizer, risonho. -Apesar de sua conduta e caráter exemplares, acredito que o essencial para o feminino é o dom da poesia, que a doce Hèlene não foi contemplada. -Disse em um tom trágico, provocando um esboço de sorriso no irmão mais velho.

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