A Campina

223 26 4
                                    

"A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade. "
-Cecília Meireles

Annabeth Collins

North Castle, 1837

    A mais nova da Família Collins cavalgava velozmente sem rumo pela propriedade, com as lágrimas inundando sua face. Ela nunca foi importante para a família. Axel nunca a considerara como irmã verdadeiramente.

     Pelo que ouvira da conversa entre os irmãos mais velhos, ela tinha sido um estorvo para a família durante todo esse tempo. Não era algo da sua cabeça, como Victoria sempre lhe dizia. O sentimento de insuficiência nunca tinha lhe parecido tão real.

    À toda velocidade, seu cavalo MacLean cavalgava pela imensa campina que rodeava a propriedade de North Castle. A paisagem era agradavelmente bela, mas no momento Annabeth não pensava em mais nada.

    Sua existência era apenas um fardo. Em toda a sua vida ela fora uma inútil. Annabeth sempre sentiu que o irmão mais velho a tratava de forma diferente, mas não sabia que era o puro e simples desprezo.

   Annabeth Collins tinha perdido o eixo norteador de sua vida quando escutou a fatídica conversa acidentalmente. Todas as suas decisões de vida eram tomadas em prol de sua família, e agora ela obteve o pleno conhecimento de que nunca fora importante.

    Ela pretendia permanecer solteira para não ter o mesmo destino da mãe e desejava viver na propriedade de North Castle para honrar as memórias dos seus finados pais. Mas tudo em vão, já que Axel a considerava a escória dos Collins.

    Se ela não era querida em seu própria família, o que lhe restava?
Ela não prestava atenção no caminho que seu cavalo percorria, sua mente borbulhava ao pensar nas coisas que tinha ouvido.

   Ela tinha subido para colocar suas bagagens no quarto após chegar da exaustiva viagem Brighton, mas parou bruscamente ao ouvir seu nome sendo mencionado por Axel e Camila. Os dois aparentemente estavam numa discussão intensa e não deu para entender muita coisa, no entanto, a aversão de Axel pela irmã mais nova fora a mais explícita possível.

   Annabeth sempre estaria sozinha.

    A garota dos cabelos ondulados queria chorar, mas não conseguia. Era como se os seus dutos lacrimais estivessem bloqueados, e ela não aparentava sentimentos, pois aprendeu a mascarar suas verdadeiras emoções desde pequena.

    Mas ela sentia. E como sofria. Ela estava inconsolável, fora dos eixos e a incerteza que sentia era gritante. As concepções sobre sua família estavam tão erradas, como ela pôde acreditar que era importante?

    O sol já estava se pondo, vagarosamente se escondendo por detrás das montanhas. Os seus últimos raios banhavam o horizonte da campina verdejante, dando-lhe um ar de paraíso. O céu era tingido lentamente em tons de amarelo, laranja e azul, uma pincelada nostálgica e saudosa, como uma pintura há anos esquecida pelo tempo.

    A hora do amanhecer fascinava Annabeth, no entanto o pôr do sol causava-lhe espanto e admiração constante. Ela não conseguia acreditar em tamanha perfeição da natureza. Era um cenário mágico, indescritível.

    Quando percebeu o que estava acontecendo, era tarde demais. Ela tinha se distraído em demasia com seus questionamentos e reflexões internas, e MacLean saiu completamente de seu controle. Annabeth já não conseguia mais frear a égua e o caminho que se seguia terminava em um desfiladeiro. A queda era inevitável e seria fatal.

     O animal era muitíssimo bem treinado, no entanto perdia o seu controle facilmente. E uma vez perdido, indomável para sempre.

-MacLean! -Annabeth gritou, tentanto domar sua égua novamente. Mas ela não tinha força o suficiente para controlar o animal.

      O vento batia em seus cabelos com força e ela entrou em desespero. O quê seria dela? Este era o momento de partir? Sua última experiência vivida tinha sido escutar do seu irmão que ela não era suficiente? Não era possível que tivesse um fim tão miserável quanto este que batia às suas portas.

     MacLean começou a relinchar violentamente e Annabeth teve de agarrar às crinas para não cair e ser pisoteada. A égua estava em alta velocidade e não teria como ela escapar sem sofrer graves ferimentos. Não havia escapatória. Ela gritava desesperadamente com MacLean, mas tinha ciência que seria inútil.

      Annabeth estava sozinha, ninguém da família costumava vir ali, exceto ela. A garota fechou os olhos, tentando inspirar fundo e conter seu desespero, mas era em vão.

      O desfiladeiro se aproximava cada vez mais e ela não fazia ideia de como sair dessa enrascada, não tinha nenhum plano racional. Rezar não seria de muita serventia, desistir muito menos. Por um mísero segundo de descuido, ela afrouxou o aperto que fazia nas rédeas e antes que ela se desse conta, caiu de seu cavalo.

     Annabeth sentiu instantaneanente o impacto da queda e suas costas bateram com força no chão. Assim que conseguiu olhar para cima, percebeu que seria pisoteada, pois a égua voltou a relinchar violentamente. Qualquer coisa que ela fizesse iria piorar o cenário.

     Porém, ela escutou um barulho e virou-se para o lado.

-Acalme-se! -Ela escutou uma voz masculina dizer. Tomada pelo susto, ergueu os olhos e viu que MacLean não mais relinchava.

     Um homem estranho montado em um cavalo preto tinha conseguido domar as rédeas de MacLean e impedido que o pior acontecesse, freando o animal. Em estado de choque, Annabeth Collins permaneceu estática encarando a cena, sem acreditar no que via.

     Aquele estranho havia salvado a sua vida. E tinha conseguido controlar seu animal, quando nem ela conseguira tal proeza.

      Ele conseguiu controlar MacLean em questão de segundos e a puxou para debaixo de uma árvore relativamente próxima, e só então desmontou do seu cavalo imponente e foi até a garota, que ainda não tinha total ciência do que acontecia ao seu redor. Com a iminência do acidente, Annabeth entrou em um estado catatônico e não soube o que fazer.

      Durante instantes, ele ficou paralisado ao olhar para a garota misteriosa, com seu olhar oblíquo e firme. Ela também ficou sem ação, observando atentamente o belo rosto do homem desconhecido à sua frente. A sua cabeça ainda latejava pela pancada.

-Permita-me... -Ele começou a dizer, mas ela o interrompeu, levantando-se:

-Não é necessário. Sei me cuidar perfeitamente bem sozinha. -Annabeth Collins o respondeu de forma ríspida, alisando o seu vestido e o encarando desafiadoradamente.

-Na verdade, eu gostaria de me apresentar. Qual é o seu nome? -Perguntou.

       Sentindo o rosto corar de vergonha, ela desviou o olhar para o lado.

-Annabeth. -Decidiu dizer o primeiro nome a fim de não revelar sua posição.

-Edward. -Ele disse, passando a mão por seus cabelos escuros.

      Então, ele sorriu.

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora