Sentimento Voraz

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"Quando a boca não consegue dizer o que o coração sente, o melhor é deixar a boca sentir o que o coração diz".-Shakespeare

Annabeth Collins

North Castle, Northumbria, 1837

    O dia amanheceu, e com ele, trouxe as memórias do dia anterior. Annabeth se remexia na cama desde que se deitara nela, sem saber como processar tudo o que havia ocorrido naquela noite. Em seu íntimo, ela estava feliz. Muito feliz. Mas é claro, ninguém jamais poderia saber do que havia acontecido. Ela abriu um leve sorriso, observando uma das gardênias em sua mão.

   A garota já não tinha mais forças para negar o efeito que Edward Wessex causava em si. No entanto, tinha que forçar a se lembrar dos motivos que a levara optar por uma vida solitária. Por mais que o seu coração quisesse o contrário, não havia como ela ceder à inconstância voraz dos sentimentos da alma. Só a faria sofrer mais e mais.

    Lutar contra os sentimentos não era uma escolha. Era uma obrigação. Ela não queria ter o mesmo fim dos seus pais.

   Annabeth inspirou profundamente, resolvendo ser prática. Não havia mais o que pensar, Edward já deveria estar em Wessex. Portanto, a vida tinha que continuar seguindo o seu ritmo. Caso contrário, seus irmãos estranhariam sua mudança temperamental e até mesmo diriam que ela havia cedido à paixão.

   Nas palavras de seu irmão George, o acontecimento do milênio. Não, decididamente ela não deixaria que eles tivessem o gosto doce como fel da vitória em seus lábios. Ela comandava o seu próprio destino, e também suas emoções, sejam elas quais fossem.

     Com este pensamento determinado, pôs-se a arrumar. No horário usual, decidiu ir até a Campina como sempre. Ela precisava de um tempo consigo, não estava mais suportando guardar tanta coisa para si. Ela não se considerava como parte legítima da família, não se sentia acolhida e queria somente ficar em paz consigo mesma. Annabeth Collins se sentia uma forasteira em todos os lugares. Somente o seu lugar favorito poderia diminuir suas angústias. O som do canto dos pássaros, a relva, tudo aquilo a fazia se sentir em casa.

   Porém ao se aproximar do carvalho, deparou-se com uma figura familiar sob a árvore. Certa pessoa não tinha partido.

-Edward? -Perguntou, saindo do transe e correndo em direção a ele. -Mas...

-Annabeth! -Exclamou, sorrindo.

   Os dois se abraçaram rapidamente, sem ter sido necessário mais palavras. Annabeth inspirou profundamente, aproveitando o momento. Edward transmitia uma segurança que ela jamais pensou encontrar em alguém que não fosse Camila ou George.

-É o seu último dia aqui? -Perguntou, se afastando. -Pensei que não fosse mais vê-lo!

-Sim. Eu também pensei, mas achei que devesse voltar aqui outra vez. -Disse, observando Annabeth atentamente.

    Ela abriu um sorriso, segurando a sua mão.

-Sabe quando voltará a Northumbria? -Perguntou ansiosa. O seu olhar era diferente, sua postura era diferente de quando saíra de North Castle. Ela agia de modo diferenciado quando estava na presença dele e mal era capaz de perceber.

-Não em um futuro próximo.

-Uma pena. -Lamentou, olhando para o sol nascente.

-Só uma coisa me impediria. -Ele sussurrou, mas ela ouviu.

-Diga-me. -Pediu, com os olhos brilhando.

-Annabeth, eu...

-Sobre ontem, eu gostaria de dizer que... -Ela o interrompeu.

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