A Partida

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"Cartas de amor são escritas não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel." -Neruda

Victoria Collins

North Castle, 1838

    Naquela agradável tarde de julho em North Castle, todas as mulheres estavam reunidas na sala, na tarde anterior ao baile da Marquesa de Garenburgh, uma senhora muitíssimo respeitada na Northumbria.

    Victoria Collins, no entanto, estava apática e triste encarando a carta que o Sr. Drummond a enviara de Portugal. Desde a partida do seu amado, ela se encontrava cada vez mais reflexiva e instrospectiva. Não tinha muito apetite e todos os seus irmãos esperavam que ela recuperasse os seus ânimos no baile da noite.

    Victoria suspirou outra vez, olhando para a carta do Sr. Drummond.

-Por que o amor brinca com os nossos corações? -Indagou  a quarta filha de Winston Collins, olhando dramaticamente para os seus irmãos. -Afrodite, por quê és tão cruel?

-Ele não está morto, Vicky. -Charlotte disse, sentada ao lado da prima.

-Só do outro lado do continente! -Victoria apelou.

     Annabeth não conteve uma risada.

-Sugiro que preste mais atenção aos mapas, irmã. -Ironizou, ainda prestando atenção no piano.

-Que seja! Mas será se ele me ama mesmo? -Victoria indagou, confusa. -Ou foi apenas uma fagulha de paixão intermitente?

-Claro que ama! -Camila respondeu de imediato, tentando deixar a irmã mais segura de si. -Esta é a nona carta que ele destina para North Castle desde abril!

-Amor é para os idiotas. -George retrucou. Ele e Annabeth trocaram um olhar cúmplice.

-Mas nós somos almas gêmeas! Não deveríamos ser separados! -Victoria dizia, na Sala de Música. Seu desalento era tamanho que fizera Camila parar o seu dueto de Chopin com Annabeth para dar atenções à irmã.

-Acalme-se, Vicky. -Annabeth falou, em vão.

-Será se ele ainda pedirá a minha mão? -Perguntou ansiosa. -Será se os sentimentos dele permaneceram os mesmos? Há tantas mulheres no mundo! -Berrou.

    George Collins, no pórtico da sala, apenas revirou os olhos, frio e impaciente.

-Longe de mim insinuar alguma coisa, mas as portuguesas são sensacionais. -Respondeu displicentemente, observando a cena. -Sabem exatamente o que fazer e têm um fogo que...

-George!!! -Todas as mulheres exclamaram em uníssono, interrompendo o seu discurso libertino.

-Não disse nada! -Ele ergueu as mãos, voltando a se calar.

-Quanta insensibilidade! -Charlotte o repreendeu.

-Será mesmo? -Victoria deixou-se afetar pelas falas do irmão. -E se ele já estiver com outra? Aquele pilantra, miserável! Eu odeio os homens! A cada vez que recebo as cartas, odeio o fato de que eu o amo!

      Victoria não conseguia mais controlar os seus sentimentos. Por ser mais passional, não apelava muito para a racionalidade quando envolvia assuntos do coração.

-O quê? -Charlotte foi tomada pela surpresa. -Já ama Otávio Drummond?

      A Srta. Collins do meio assentiu pesarosamente.

-Eu não queria, mas infelizmente eu amo. E agora ele pode estar com outra! -Ela tornou a ficar histérica.

-Respire fundo! -Camila instruiu.

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora