Capítulo 1

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Marcella

Em 1 de maio de 1994, o grande ídolo do meu pai faleceu. Ayrton Senna da Silva, considerado um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1 e três vezes campeão mundial, morreu no mesmo dia em que eu nasci. Para o meu pai, que é um grande fã de corridas, 1 de maio de 1994 foi um dia muito triste, porém feliz também por causa do meu nascimento.

Meu nome é Marcella Senna da Silva Pellegrini. Marcella e Pellegrini foram dados por minha mãe, minha mamma nascida e criada em Gênova, Itália. Já Senna da Silva foi escolha do meu pai, em homenagem ao seu ídolo brasileiro. Meu pai é brasileiro também, ele é de Brasília. Meus pais se conheceram durante a faculdade, na Universidade de Bologna. Os dois cursavam engenharia, meu pai um intercambista brasileiro que cursava engenharia automotiva, já a minha mãe uma italiana que cursava engenharia elétrica. Minha mãe tinha o sonho de trabalhar com motos, e quem sabe chegar a trabalhar na MotoGP. Meu pai queria mesmo era trabalhar com carros, seja na indústria automobilística ou em campeonatos como a Fórmula 1. Esse foi o motivo pelo qual o meu pai resolveu fazer intercâmbio na Universidade de Bologna, pois na Itália ele teria diversas oportunidades.

Eu nasci em Nice, na França. Em 1993, os meus pais mudaram-se para lá, pois tinham acabado de ser contratados pela grande família Bianchi, responsáveis por ter uma equipe que treinava jovens garotos talentosos para um dia se tornarem pilotos da Fórmula 1. Meu pai sempre me contava sobre seu grande ídolo Ayrton Senna quando eu era mais novinha. Minha mãe sempre me levava para as corridas de motocross e MotoGP, e essas coisas fizeram com que eu me tornasse fã de corridas também. Mas apesar de amar a sensação que elas me trazem, além de treinar motocross com os meu amigos de tempos em tempos, ou fazer rachas quando eu era mais nova, eu não segui essa paixão para o lado profissional. Eu preferi me formar e trabalhar com algo que sempre amei mais do que corridas: livros. Eu trabalho em uma editora, e sempre tenho que viajar para procurar novos escritores, ou ir a feiras de livros e trazer algum bom livro que pode nos trazer mais leitores. É o emprego dos meus sonhos.

Meu pai e minha mãe ficaram meio decepcionados quando perceberam que eu não seguiria, assim como eles, a carreira de engenharia. Um dia eles acabaram aceitando que eu não era 100% como eles e pararam de pegar no meu pé por eu trabalhar no mundo editorial. Jules e Charles, meus melhores amigos, também ficaram um pouco decepcionados por eu não querer trabalhar próximo a eles. Claro que eles nunca me falaram isso, eu os ouvi um dia falando sobre a saudade que sentiriam por eu não estar mais tão perto.

Jules é cinco anos mais velho do que eu, e por meus pais e os dele trabalharem juntos até mesmo antes de eu nascer, acabou que nós dois crescemos juntos. Ele sempre me defendia como um irmão mais velho ciumento, principalmente quando o pessoal na nossa escola implicava comigo por ser tímida e só ficar pelos cantos lendo. Charles é três anos mais novo do que eu. Como Jules era seu mentor desde o dia que ele pisou os pés na equipe dos pais de Jules, eu me tornei amiga dele também. Nós três éramos inseparáveis! Conforme fomos crescendo e os dois foram ficando bonitinhos, todas as meninas morriam de ciúmes de mim. Algumas juravam que eu era namorada de um dos dois, mas nós nunca nos vimos como mais do que irmãos. Nossas famílias sempre passavam os feriados juntos. Eles me viram crescer, ter namorados, ter o coração partido... Não, definitivamente não somos nada além de irmãos.

No dia 17 de julho de 2015, Jules acabou falecendo em decorrência de um grave acidente que sofreu em uma corrida no Japão. Esse foi um dia muito difícil para mim, Charles e nossas famílias. Ele foi o primeiro piloto a morrer em decorrência de um acidente no automobilismo, desde o acidente do Ayrton Senna. A morte de Jules fez com que eu virasse um caco em forma de gente. Eu acordava todas as noites chorando, e em quase todas elas Charles estava lá pra me acalmar, apesar de ele está destroçado também. Depois de tudo que passamos juntos, Charles e eu fizemos um pacto de nunca nos separarmos, mesmo que nossos trabalhos e a vida nos levasse para lados opostos. Foi aí que decidimos morar juntos, apesar de sempre estarmos viajando, sempre estaríamos juntos. Meu pai e minha mãe juravam que a gente ia acabar se apaixonando, mas isso nunca aconteceu, pois somos irmãos, não o vejo assim e nem ele me vê como uma namorada em potencial. Nunca vai rolar!

O meu melhor amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora