Capítulo 50

739 29 8
                                    

Marcella

Um mês depois

Dezembro é o meu mês favorito do ano! Eu amo ter a minha família toda reunida, amo o cheiro da comida sendo preparada, amo o sentimento de esperança que vejo no olhar das pessoas, amo as luzes de Natal, as decorações, eu amo tudo a respeito do Natal!

Esse é o primeiro ano que eu e meus pais passamos o Natal no Brasil. Há diferença na forma que os brasileiros celebram o Natal para a forma como os europeus comemoram. Na verdade, dentro da própria Europa temos diferenças. Por exemplo, lá costumamos comer mais frutos do mar e o peru é acompanhando por castanhas. No Brasil não vejo ninguém comendo salmão que nem fazíamos, e eles comem muito arroz com farofa.

No início achei que não iria gostar muito dessa combinação de arroz e feijão, pois não é algo muito comum para mim. Sabe qual é a realidade? Eu amei! Não é atoa que eu só tenho engordado desde que cheguei.

Outra diferença cultural entre o Brasil e o meu país, lá distribuímos os presentes na manhã do dia 25. É mágico acordar e descer para ganhar presentes. Aqui no Brasil na madrugada do dia 24 para o 25 eles distribuem os presentes, e ainda tem uma coisa chamada amigo oculto. É engraçadinho até.

Ainda não é Natal, e meus pais vão chegar no Brasil somente no dia 15. Vamos passar um tempo juntos e conhecer outras cidades brasileiras. Vovó está histérica de felicidade porque eles veem.

Minha avó sempre mantém meus pais a par do que acontece comigo. Sei disso porque já ouvi diversas vezes vovó falando com eles sobre mim, apesar de ela jurar de pé juntos que não é fofoqueira. Meus pais, por outro lado, estão felizes em saber que estou bem, e eu realmente estou. Aquela dor lancinante no meu coração tem diminuído aos poucos. Eu to bem. Pela primeira vez na vida eu realmente sinto que minhas escolhas vão afetar só a mim e mais ninguém, não tenho que pensar que vou magoar alguém se escolher tal coisa. É egoísta, eu sei, mas é a primeira vez que me sinto livre. Quer dizer, em partes.

Alguns dias me pergunto como vão as coisas com os meus amigos e com Charles. Quando quero saber algo pergunto para a minha mãe como. Minha mãe disse que ele não pergunta mais por mim tanto assim, o que pode ser algo bom, mas me deixa triste ao mesmo tempo.

Já estou seguindo em frente e estou amando essa fase da minha vida, mas não quero mais ninguém nela por enquanto. Apesar de já ter falado isso, vovó sempre vem com umas conversas fiadas de que tem uma amiga dela que tem um neto lindo e que está louco para me conhecer. Vovó é uma figura, e boa parte da minha recuperação se deve a ela.





Charles

"Charles, para de enrolar. A mamãe está esperando por nós dois", grita Arthur lá do meu quarto para eu sair logo do banho.

Minha mãe disse que quer conversar conosco. Não faço ideia do que seja.

"Já saí do banho, seu pentelho. Anda, se manda daqui para eu poder trocar de roupa"

"Você está com medo de eu ver isso daí que você chama de píton? Tá mais para uma minhoca", o idiota do Arthur me diz rindo.

Jogo minha toalha nele e no mesmo instante ele sai correndo do quarto, dizendo que não era obrigado a ter essas visões que o deixariam com pesadelo para sempre. Babaca.

Arthur e Stefano tem sido grades amigos para mim. Sim, Stefano. Quem diria que um dia eu ia passar a gostar mesmo do cara. Desde que Marcella foi embora eu estou em um looping eterno de treino, bebedeira e transar com seja lá quem for. Pelo menos eu estava.

Arthur sendo a pessoa sensata que é me deu uma bronca pelo o meu comportamento, e disse que se eu não quisesse perder também o meu contrato com a Ferrari era bom eu começar a maneirar, pois toda hora saia no jornal sobre alguma bebedeira minha ou as "orgias" que diziam que eu fazia. Resolvi maneirar então. Ele estava certo, não é assim que eu quero que Marcella me veja, não é assim que eu quero recupera-la.

Não quero ficar com ela porque preciso mais do que oxigênio, mas sim porque somos parceiros e amigos verdadeiros e eu a amo. Não dá pra ficar o tempo todo rondando a mãe dela para descobrir algo, realmente já estava virando um vício.

Meu coração ainda está partido, pois é isso que acontece quando você perde o amor da sua vida, mas eu tenho fé, assim como diz na música non ho mai smesso, Laura Pausini, que Marcella e eu ainda vamos ficar juntos. Isso é só um aprendizado para nós.

Eu também tenho ouvido aquelas músicas que Marcella sempre tentou me fazer ouvir, mas que eu sempre detestei. Até Kardashians eu tenho começado a assistir mais. Acho que é a forma que eu encontrei de fazer parecer que ela está por perto. Isso e andar 24h do dia com o carrossel de pingente que ela me deu.

"Charles Leclerc, se você demorar mais eu vou sem você encontrar nossa mãe. Você que se vire para encarar a fúria dela", grita Arthur para mim.

Saio dos meus devaneios e corro para procurar alguma roupa descente. Dona Eleonor me mataria se eu aparecesse de qualquer jeito naquele restaurante chique que ela tanto ama. Não vejo nada de mais nele.

Estou procurando a minha blusa branca predileta, aquela que sempre uso por debaixo da minha jaqueta de couro, quando encontro as luvas roxas de Marcella. Sinto um aperto no peito. Encontro também a caixinha de joias com o anel que eu tinha comprado para minha mãe de aniversário. Cara, como eu tinha deixado essa caixinha aqui, mas nunca consegui encontrar? Que burro que eu sou.

"Charles, boraaaaa!", grita Arthur mais uma vez. Esse moleque tá me dando nos nervos. Ainda bem que estou pronto.

Pego a caixinha para dar de presente atrasado para minha mãe e coloco as luvas da Marcella no bolso da jaqueta.

             "Pronto, estou pronto. Para de ser idiota", digo para Arthur.

O meu melhor amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora