Capítulo 01 - TIM

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Algumas semanas depois...

— Não importa o que você tenha que fazer, Murilo, convença-o a nos ajudar. Diga a ele que a Sampaio Inc. está falindo, que se o ajudar, você consegue para ele um emprego aqui. Diga qualquer coisa que ele queira ouvir, mas chegue até essas imagens. Um jovem inocente será condenado por um capricho da sua ex patroa, Murilo, um jovem que é seu amigo. Não se esqueça disso!

Encerro a ligação com a certeza de que dessa vez vou finalmente colocar as mãos nessas imagens e provar a inocência do Ulisses. Em pensar que esperei que este fosse mesmo o seu destino, parar atrás das grades por roubo. Estive por muito tempo alerta para o caso de Ayla pedir ajuda por seu irmão, e quando isso aconteceu, foi uma armação porque ele estava nos ajudando. De forma que é minha responsabilidade, mais do que isso, minha obrigação, tirá-lo de lá.

Meu celular apita pela terceira vez uma mensagem, desta vez é Lorena, a recepcionista da Reymond. Rolo a tela observando as fotos das três mulheres que me mandaram mensagens hoje e escolho uma delas. Acabar com a regra idiota que proibia relacionamentos entre funcionários da empresa foi a única coisa sensata que meu irmão fez por amor.

— Hoje é você, Lorena, terei tempo para as outras duas — escolho combinando um horário com ela por mensagem, quando um resmungo próximo demais me faz levantar os olhos até ela: a bruxa!

Ela deposita a xícara com o café que pedi de má vontade e vira-se sem olhar meu rosto, mas finge um espirro onde entendo a palavra idiota antes de sair pela porta.

Sabrina Lima é, sem dúvidas, talentosa na cozinha, os lanches na empresa melhoraram cem por cento desde sua chegada, mas é uma pessoa cruel, convencida e metida a dona da razão. E desde o dia em que deu um belo nó na minha cabeça, não consigo olhar em seus olhos. É como uma magia, por mais que eu tente, algo me impede e acabo desviando o olhar. Provavelmente, algum feitiço dela, tenho certeza que é bruxa!

E cada vez que a vejo, mesmo que de longe, me lembro de cada uma das suas malditas palavras. Cada acusação, e cada deboche. Porque em parte, ela estava certa. O meu amor por Ayla me cegou a ponto de não enxergar o óbvio: Eros a ama. Acabei fazendo o que essa bruxa mandou e indo até a casa dele poucos dias depois de falar com ela, e confirmei, como ela havia alertado, na maneira como Eros olhava para Ayla, como se movia ao redor dela, como a tocava e sorria para ela, que ele a amava de verdade. Aquilo que julguei ser impossível, que interpretei como uma maneira de tê-la sem pesar sua consciência, nada mais era do que uma medida desesperada dele para tê-la para sempre. E funcionou. Ele admitiu para si mesmo, para ela e para quem quiser ouvir que a ama. Desde então estou tratando de manter-me afastado dela.

Não sou apaixonado pela esposa do meu irmão. Não sou apaixonado por ninguém. Mas realmente acreditei que fosse.

A tela do celular acende e o rosto da minha mãe aparece, depois de tantos anos, isso ainda é estranho para mim, ter seu contato e ver seus olhos negros na tela me faz sentir aquele medo irracional que me toma às vezes. O medo de ser como ela. Afasto esses pensamentos que são culpa dessa bruxa da Sabrina e combino um café da manhã com a mamãe.


Finalmente, a ligação que tanto esperava nesses últimos dias vem, seguida das imagens das câmeras de segurança da Sampaio Inc. que provam a inocência de Ulisses das acusações de roubo. Dou a notícia a Ayla por telefone e procuro Eros para contar a ele, mas ele não está mais em sua sala. Ayla também não está então imagino que estão juntos e que ela vai contar a ele a boa notícia. Quando estou voltando para minha sala, avisto Lorena conversando animada com Sabrina. Não olho o rosto da bruxa, mas Lorena exibe um sorriso de satisfação e conta a ela sobre nosso encontro de hoje à noite.

Curioso, acabo observando o rosto de Sabrina, e ela faz uma careta, como se Lorena estivesse dizendo algo nojento a ela. Ao passar por elas, seguro sua mão e a provoco:

— Posso reservar a cama para você amanhã, se quiser, Sabrininha.

Ela observa minha mão na sua com uma careta ainda maior e olha em meus olhos ao responder:

— Nem que você fosse o último homem do planeta! Eu iria para Marte, procurar um marciano, mas jamais ficaria com você.

Desvio meus olhos dos seus nessa magia estranha que ela lançou sobre mim, e não permito que isso me abale ao responder:

— Você só diz isso porque sabe que não faz meu tipo.

Seu sorriso é tão bonito, que por um minuto me pego confuso com sua mudança.

— Esse foi um dos melhores elogios que eu poderia ter recebido. Muito obrigada, senhor Reymond! — Puxa a mão da minha e se afasta satisfeita como se fosse a inatingível última bolacha do pacote.

— Feiticeirazinha convencida!


Lorena observa atenta o enorme quarto, e seu olhar não demora a cair sobre a cama no centro dele. Ela se aproxima da janela e aprecia por um curto tempo a vista da cidade abaixo de nós, o que de alguma maneira me incomoda. Elas sempre fazem isso, ignoram o presente que é uma vista como essa! Comenta a falta de móveis no ambiente, mas não me dou ao trabalho de explicar que este não é o quarto onde durmo. É apenas meu quarto de visitas. Tira a blusa enquanto me observa e sua expressão curiosa passa para maliciosa em segundos. A ajudo a tirar o sutiã, e quando nossas bocas se tocam, meu telefone toca.

— Desculpe, querida.

Observo a tela e é Ayla, ela pergunta se vi Eros em algum lugar, e desliga rapidamente, mas parece preocupada. Jogo o pequeno aparelho sobre o criado-mudo ao meu lado e quando meus lábios tocam os de Lorena, ele toca de novo.

— Você pode desligar isso? — pergunta irritada.

— Claro! Farei isso, desculpe.

Desta vez é minha mãe, e esperei por tantos anos suas ligações, que atendo, irritando ainda mais a bela mulher diante de mim.

— Não posso falar agora, mãe!

— Filho, se você vir o Eros, por favor avise.

— Ayla já me disse isso. O que está havendo?

— Não tenho certeza, ela parecia bem nervosa ao telefone.

— Coisas de casal. Se eu o vir aviso. Vou desligar agora, está bem?

— Você está com uma mulher aí, não está?

Pondero o quão estranho é falar disso com minha mãe.

— Não tenho certeza se quero falar sobre isso com a senhora.

— Ah, meu filho! Cada dia uma mulher? Onde acha que vai chegar assim?

— Mamãe, eu realmente não posso responder essa pergunta. Vou desligar, está bem? Nos vemos amanhã pela manhã.

Encerro a ligação, desligo o telefone e finalmente tiro o bico emburrado da minha recepcionista com um beijo sem maiores interrupções.

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora