5 - parte 02

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DISPONÍVEL ATÉ 23/01.

Ayla finalmente voltou à empresa esta manhã. A expressão cansada e desconfiada é um reflexo perfeito do que guarda dentro de si. O cansaço pelo segundo mês em que tem vivido naquele hospital e o medo do que a aguarda à frente da empresa no lugar de Eros. Enquanto Andrea a abraça e diz palavras de carinho para acalmá-la, Sabrina me puxa em um canto preocupada.

— Se a Louisa ousar falar com a Ayla qualquer coisa ao menos parecida com o que disse aquele dia, não respondo por mim. Eu juro que a mato!

Quero rir de seu olhar assassino e sua preocupação, mas seguro sua mão e decido apenas tranquilizá-la.

— Não se preocupe, ela foi muito bem avisada. Sequer vai chegar perto da Ayla.

As pessoas começam a se aproximar de Ayla para cumprimentá-la, a grande maioria com palavras de carinho, dizendo que Eros logo vai acordar, que tudo vai ficar bem. E me sinto aliviado pela boa recepção, pois sei que este é um passo difícil demais para ela.

— É tão estranho voltar aqui sem ele — comenta enquanto caminhamos até a sala dele, que será dela por enquanto.

— Você quer dizer que é difícil, não é? Também foi assim para mim, ainda é, na verdade, não querendo desanimá-la. Mas vamos pensar positivo, na próxima vez que voltar aqui, você virá com ele.

Ela sorri e observo Louisa conversando com Raquel, assim como algumas pessoas em volta delas que fazem caretas quando Ayla passa. Convocamos uma reunião onde explico que até que Eros se recupere, Ayla estará à frente da empresa e que precisará do apoio de todos nós para isso. É aí que Raquel abre a boca para dizer o que Louisa não pode dizer por estar muito bem avisada:

— E o golpe deu mesmo certo, vai se sentar na cadeira do chefe.

Ayla dirige a ela um olhar cansado apenas e sequer responde, deixando a sala. Lanço a Louisa meu olhar de advertência, porque sei que isso partiu dela, e pego Sabrina pelo braço, a arrastando para fora da sala antes que essa pequena reunião acabe em caso de polícia.

— Você precisa se controlar! — ralho com ela. — Vai deixar a Ayla pior se perder o controle.

— Eu sei! Apenas por isso não acertei um tapa na cara daquela lá também. O que é isso, agora? Louisa está recrutando seguidores?

— É o que parece.

Ela se solta do meu aperto e parece muito séria quando me adverte:

— Eu vou matá-la. Estou apenas te avisando de antemão, vou matar a Louisa e não vai demorar.

— Eu a demitiria se pudesse, Sabrina, mas a tia dela é minha empregada em casa. Prometi ajudá-la, a tia tem muita esperança neste emprego. Só posso demiti-la se ela desobedecer ao meu aviso.

Ela cruza os braços como se desconfiasse da minha palavra.

— E de repente você é tão bonzinho, não é?

— O que quer dizer esse tom de ironia em sua voz?

— Você não se preocupou com a pobre tia quando levou a sobrinha vaca dela pra cama! Em nenhuma das vezes!

Não consigo impedir o sorriso que surge em meu rosto, o que parece deixá-la completamente sem graça.

— Você está com ciúmes, Sabrina?

Ela parece tão indignada que gagueja antes de conseguir formular uma resposta. E antes que o faça, avisto um movimento pelo canto do olho. Vejo Louisa parada na frente de Ayla, algumas pastas estão no chão entre elas, e deixo Sabrina para verificar o que está havendo. Ayla apenas se abaixa e pega os papéis e Louisa foge antes que eu consiga alcançá-la. Se ela jogou esses papéis de propósito, vai se ver comigo. Sabrina ajuda Ayla a pegá-los e a segue até a sala de Eros, onde os outros dois arquitetos da empresa a aguardam para que concluam dois projetos atrasados. Embora Sabrina não seja assistente de Ayla, não deixa a sala dela e quando vejo pela parede de vidro sua expressão tornando-se cada vez mais zangada, decido acompanhar a reunião.

Não queria ter que fazer isso, queria deixar Ayla livre, sem sentir que está sendo vigiada, mas parece que algumas pessoas não entendem a posição dela aqui. Monteiro, um de nossos arquitetos, está sendo desagradável com ela propositalmente. Ao término da reunião, nada está esclarecido, pois ele se recusou a ajudar. E Ayla pede que a deixemos sozinha para que possa fazer os esboços dos projetos conseguidos por Eros.


Uma rodinha de funcionárias está concentrada na copa quando me aproximo.

— Meninas, quem de vocês quer ser assistente da Ayla por esses dias? É só até o Eros voltar.

Todas se oferecem e estou prestes a escolher Lorena, quando me lembro de Sabrina ter comentado que ela foi hostil com Ayla na festa do Eros, então encaro Sabrina, em um canto, lavando algumas xícaras e ela entende onde quero chegar. Aproxima-se e observa cada uma delas, então diz:

— Eu vou ser a assistente dela, não se preocupe.

Concordo com um gesto de cabeça, e Lorena protesta baixinho quando me viro para deixar a copa:

— Claro! Vai pelo mesmo caminho da amiga assassina, daqui a pouco está com o outro chefe e algum acidente acontece com ele.

Lanço um olhar para Sabrina, lembrando-a que deve se controlar para que esse tipo de coisa não chegue aos ouvidos de Ayla e anoto o segundo nome na minha folha.


Ao final da tarde, aproximo-me de Bruna, minha segunda assistente e entrego a ela a folha com os nomes de Lorena e Raquel.

— Bruna, vá ao RH e diga a Andrea para providenciar as demissões dessas duas funcionárias. Não as quero aqui amanhã mais. Não deixe ninguém ficar sabendo, tudo bem?

Ela assente e vai imediatamente cumprir minha ordem. Quando me viro, Sabrina está aqui observando-me.

— Quais os nomes naquela folha?

— Lorena e Raquel — respondo baixinho.

Um sorriso lindo surge em seu rosto e ela me abraça, num gesto inédito dela. Afasta-se rapidamente ao perceber que estamos sendo observados, mas o sorriso ainda está ali. Um sorriso carregado de alívio.

— Obrigada — diz baixinho e se vira para ir até Ayla, mas seguro sua mão.

— Sabrina, é melhor que Ayla não saiba disso.

Ela assente e solta a mão da minha indo até sua amiga. 

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora