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— A culpa disso é minha — ouço Martim repetir baixinho, completamente perdido ao receber a notícia sobre o coma de seu irmão.
Surpreendentemente, Ayla parece calma. Se apega a uma fé inabalável de que ele vai acordar em breve, que vai ficar tudo bem. Se ajeita na cadeira da sala de espera e sei que não adiantará insistir para que volte comigo para sua casa. Ela vai ficar aqui, vai morar aqui se for preciso.
Sento-me ao seu lado e seguro sua mão nas minhas.
— Lembra do que você me disse quando nos conhecemos? Quando te contei a história da minha mãe?
Ela parece confusa, mas confirma, e repito apenas para ter certeza que se lembre disso.
— Você disse: às vezes não entendemos porque passamos por certas coisas na vida, porque não temos que entender. Temos que aprender, melhorar e crescer com tudo o que vivemos, pois somos frágeis demais. Mas Aquele que pode cuidar de nós em cada momento, Ele vê muito além do que vemos e Ele sabe exatamente o que está fazendo. Lembra-se disso?
Ela assente e aperta minha mão, um pouco do peso em sua expressão se esvaindo. Despeço-me dela e a deixo aqui, perto do marido dela, onde quer ficar. Sei que rapidamente vai ganhar a simpatia das enfermeiras, médicos e pacientes deste lugar. Esta é Ayla.
Avisto Tim do lado de fora, andando de um lado para o outro, repetindo a mesma sentença sobre sua culpa. O deixo ali, ele não é da minha conta e chamo um táxi. Mas mal viramos a esquina, peço que o carro pare e desço correndo até Tim.
Aproximo-me e paro na sua frente. Seus olhos não buscam os meus, como sempre, se focam em meu rosto, em qualquer ponto dele que não seja meus olhos. Seguro seus ombros e peço:
— Olha para mim, Martim.
Finalmente seus olhos encontram os meus.
— Não é hora pra você se perder! Não é hora para sair de si e se culpar! Agora não é o momento de pensar em você! Você tem uma notícia muito difícil para dar à sua mãe, você tem que cuidar da mulher do seu irmão, porque deve isso a ele. Elas serão fracas, mas você não pode ser! Você me entendeu? Ao menos por agora, pare o mundo que gira ao seu redor e gire ao redor de quem precisa de você!
Ele fica um tempo ainda olhando em meus olhos, mas por fim assente. Segura minhas mãos tirando-as de seus ombros e parece mais calmo.
— Entendi, Sabrina. Eu entendi. Vou ser fraco só por esta noite, amanhã vou ser exatamente o que elas precisam que eu seja.
— Ótimo!
Tiro minhas mãos das suas e volto correndo até o táxi. Eu deveria cobrar dele esta corrida que vai ficar mais cara por sua culpa!
Mamãe ainda está acordada quando chego, e as flores que eu havia negligenciado sobre a mesa, estão agora em um vaso com água.
— Isso não é hora de você estar acordada — brinco observando seu cabelo castanho naquela trança perfeita que só ela é capaz de fazer. Ela se levanta da poltrona e vem em minha direção. — E você precisa parar de salvar as flores que o Ulisses manda para mim. Depois ele vem aqui, as vê sobre a mesa e pensa que estou dando esperança a ele.
— Você maltrata o pobre menino — comenta divertida. — Como está nossa menina? E o marido dela?
Conto a ela o que aconteceu, e ela leva as mãos à cabeça, inconformada.
— Pobre Ayla, o quanto mais essa criança terá que sofrer?
Ela se afasta com meu silêncio e me jogo em nosso pequeno sofá, cansada demais para fazer qualquer coisa. Logo, mamãe se aproxima com uma xícara fumegante de chá.
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DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?
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