Ayla - parte 02

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DISPONÍVEL ATÉ 23/01.

Os materiais de construção que na última vez tomavam quase todo o chão não estão mais aqui, e a obra no terraço está completa. É um lugar tão bonito e agradável que não faz sentido fazer qualquer reunião dentro de uma sala. O sol que até poucos minutos brilhava alto e forte não existe mais, e o tempo está se fechando.

— Senador Farias, como o senhor está?

Procuro por ele, mas não o encontro em lugar nenhum. Chamo mais alto enquanto procuro o mais distante possível da beirada, mas não há ninguém aqui. Volto para trás para matar Louisa, aquela vaca má, quando percebo que a porta está trancada. Tento mais uma vez e nada, está mesmo trancada.

— A vaca dos infernos me trancou aqui! — grito irritada batendo os pés feito a criança que não sou há uns bons seis meses. — Louisa! Sua cria do demo, eu vou matar você! Abra essa porta! Sua vaca invejosa! Abra essa porta agora mesmo!

Percebo que não vai adiantar gritar e bater, ninguém vai me ouvir. Por que cargas d'água deixei a bolsa com o celular na sala? Acaso não sei que quando algo está para acontecer preciso estar sempre com o celular para pedir ajuda?

Sem ter o que fazer, sento-me em uma poltrona confortável até que alguém sinta minha falta e me encontre aqui. Mas nem trinta minutos depois um estrondo é ouvido do céu. Penso que nem devia olhar para cima, mas o faço e sou cumprimentada com uma gota fria no meio da minha testa. Seguida de muitas outras gotas e mais um estrondo no céu. O clarão do raio vem logo em seguida e me levanto desesperada.

— Eu vou morrer eletrocutada por um raio.

Volto para a porta e bato nela.

— Louisa! Sua bruxa desalmada, abra essa porta!

Rapidamente estou ensopada, congelando e o pior são os malditos raios que parecem estar perto demais do topo de um prédio alto repleto de árvores.

— Árvores atraem raios? Minha mãe dizia que sim, eu vou morrer aqui! Socorro!

Olho para os lados, mas por conta da chuva quase não enxergo nada, fico o mais distante possível das árvores e lastimo com o universo.

— Sério isso, universo? Sério mesmo? A chuva repentina não era uma provocação!

Ando de um lado a outro tentando me aquecer e é aí que avisto movimento no terraço do prédio ao lado. O terraço ao lado possui uma cobertura cercada de vidro e um homem toma uma taça de algo enquanto observa a chuva. Subo em cima da poltrona e agito os braços chamando por ele, mas ele não me nota. Completamente contra a minha vontade, vou para mais perto da beirada, o mais próximo possível dele e grito.

Ele jamais vai me ouvir, o barulho da chuva nos vidros deve estar bem alto para ele. Busco algo que possa usar para chamar sua atenção e o que encontro não vai acabar muito bem, mas não tenho escolha. Com a sorte que tenho, vou ficar nesta chuva até a noite, ninguém vai me procurar aqui e vou morrer de hipotermia antes do nascer do sol. Quando Eros acordar, virá até aqui e encontrará uma placa com meu epitáfio: "Aqui jaz Ayla Marins Reymond, quase arquiteta, péssima esposa, derrotada pelo universo".

Não tenho escolha. Miro bem o vidro ao lado do que o homem está para não acertá-lo e torço que ele seja blindado para que faça apenas barulho sem realmente danificá-lo. Giro o braço com o máximo de força que consigo e arremesso a pedra. O que acontece depois é uma verdadeira catástrofe. Se eu temia um arranhão no vidro do prédio vizinho, o universo riu com deboche da minha cara. No momento em que a pedra atinge o vidro há um barulho e todo o vidro some. Ele se espatifa em milhões de pedacinhos e cai, voando vidro em todas as direções.

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora