2 - parte 02

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DISPONÍVEL ATÉ 23/01.

Pela primeira vez chego mais cedo à empresa. Culpa do Ulisses e sua paixonite esquisita. Pelo menos descubro que ele é o melhor despertador que uma mulher pode ter, me fez levantar mais rápido do que qualquer som estridente faria. Não chegou quase ninguém e preparo o café dos funcionários sem açúcar e o meu café bem doce, enquanto envio uma mensagem a Ayla. Coloco o avental, e deixo o forno aquecendo enquanto separo as massas dos pãezinhos que havia deixado prontas no congelador.

Enquanto eles assam, pego uma xícara de café e decido ir até o terraço, mas ao passar pela sala do Martim, o vejo cochilando sobre sua mesa. Bem, não é da minha conta, ele que durma ali desconfortável e acorde com uma senhora dor nas costas. Só que mais uma vez, quando o elevador abre, ao invés de entrar nele e cuidar da minha vida, dou meia volta e vou acordar o babaca.

— Você devia cuidar da sua própria vida, que já anda bagunçada demais, Sabrina — ralho comigo mesma, não ouvindo meu conselho, como sempre.

Bato na porta, mas isso não o desperta. Então entro, chamando seu nome baixinho para que não se assuste. Ele sequer se move e posso jurar que até solta um ronco. Dou tapas leves em seus braços, bato mais forte na mesa, chamo seu nome mais alto, mas ele não acorda. Não dorme há dias, deve estar mesmo exausto. Minha única saída é despertá-lo na base da força. Puxo seu cabelo e grito em seu ouvido:

— Martim!

Ele acorda assustado e bate a mão na minha xícara, virando-a em mim. Grito com o líquido quente e abro os botões da blusa para me secar e quando o observo, o babaca está admirando meus seios. Percebendo que foi pego no flagra, levanta-se da cadeira e se espreguiça.

— Bela maneira de acordar um homem. Bem bonita mesmo.

— Isso! Zomba da única pessoa que teve a boa vontade de vir aqui para acordá-lo! Na próxima eu o deixo aí, roncando que nem um leitão pra todo mundo ver.

Dou a volta pela mesa, mas ele impede que eu passe pela porta, entrando na minha frente.

— Preciso da sua ajuda, Sabrina.

— Não, obrigada.

Tento passar por ele, mas ele permanece ali, e quando olho seus olhos, engulo as grosserias que ia dizer porque posso sentir o quanto está perdido.

— Preciso que você me ajude. Por favor — pede olhando-me de volta, é estranho ter seus olhos focados nos meus, ele os desviou tantas vezes, que demoro um pouco a raciocinar quando o faz agora.

— Do que você precisa?

— Que você me ajude a melhorar. Meu irmão está em coma e a culpa é minha. Minhas atitudes egoístas levaram todos nós ao que estamos vivendo agora. Não quero mais ser assim.

Afasto-me dele, tomando cuidado com minhas palavras para não ser fria demais, como minha mãe diz que sou.

— Tim, a culpa neste caso é relativa. Você não estava pilotando a moto, ou dirigindo o caminhão. Não fez cair a tempestade daquela noite e nem fez com que o Eros ouvisse o que ouviu daquela maneira. Ayla teve culpa por não ter contado sobre essa mentirinha antes. Eros teve culpa por não dar a ela a oportunidade de se explicar e por pilotar numa tempestade daquela. Uli teve culpa por ter sido ingênuo e linguarudo. Melissa teve culpa porque é Melissa e é sempre culpada. Você entende? Há muita culpa aqui, cada um tem sua parcela, o fato é que não vale a pena se prender a isso agora. Você parece horrível, por que não vai pra casa descansar?

— É disso que estou falando. Preciso que você me ajude.

Ele tenta segurar minhas mãos, mas me afasto.

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora