BÔNUS - AYLA

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DISPONÍVEL ATÉ 23/01.

— Hoje começa o sexto mês. O dia mal nasceu, então ainda dá tempo de você abrir esses olhos, ser o anjo da sorte que era e me livrar da maldição dos dois meses dessa vez. Eros... — Dou pequenos tapas em seu rosto, mas exceto os movimentos que causo nele, ele não se move. — Talvez eu devesse ficar aqui hoje, quietinha, do seu lado. Quem sabe o universo não interprete a sua presença como um amuleto da sorte?

Feliz por ter encontrado a solução, sento-me na poltrona e vou ler um livro. O sol nasce, meu café é servido na sala esta manhã e começo a pensar que deu certo. Ligo para Tim e aviso que não irei à empresa hoje e tudo parece tão bem, que de repente sinto medo.

Para me precaver, não faço o café das enfermeiras, não atendo o pedido das minhas pequenas de levá-las ao cinema, fecho a janela do quarto de Eros para o caso de uma chuva repentina começar seguida de raios e trovões e não fico perto de nenhum objeto pontiagudo.

Então eu deveria me sentir segura, mas por que não me sinto?

Volto para perto de Eros, ele precisa acordar. Ele é minha sorte, é minha proteção, eu preciso dele. Monto sobre ele na cama que estou habituada e o ameaço.

— Se você estiver me ouvindo, quero que saiba que tem exatos dez segundos para abrir esses solhos! Vou contar até dez e desligar seus aparelhos. Você me ouviu? Vou despachar você! Dez, nove, oito, sete... — minha ameaça não funciona, ele ainda não se mexe e me dou por vencida. — Tudo bem, estou mentindo, não tenha pesadelos por minha culpa. Você não está sobrevivendo por aparelhos. Você está bem! Só não quer abrir os olhos. Às vezes eu acho que você tem tanta sorte por poder simplesmente ficar aí dormindo!

Desço de sua cama e volto para minha leitura. Primeiro, analiso bem o livro para confirmar que nada nele pode me ferir. Eu até poderia provocar o universo dizendo o quanto me precavi hoje, mas não irei fazê-lo, porque tenho amor à minha vida.

É quase fim de tarde quando meu celular toca e, ao ver o nome de Tim na tela, meu estômago tem aquela reação ruim, os pelos do meu braço se eriçam e me sinto levemente enjoada. Vai acontecer. Eu não me livrei.

— Olá, Tim, aconteça o que acontecer não vou sair desse hospital hoje.

— Hum... sinto muito, querida, mas acho que você se esqueceu da reunião sobre a basílica. Você precisa vir.

— Tim, não! A maldição dos dois meses!

— Ayla, isso é coisa da Sabrina para irritá-la. Não existe qualquer maldição. Você quer que eu a busque?

— É claro! Ao menos não vou sofrer nada sozinha, sem ofensas.

Ele apenas ri do outro lado da linha e enquanto o espero, começo a calcular tudo que pode dar errado em um dia marcado para a tragédia, no caminho até um edifício de vinte e seis andares. São coisas demais!


Enquanto Tim não chega, faço a barba de Eros e me parabenizo por não cortá-lo nem um pouco desta vez. Eu não a tiro, apenas a aparo, porque quando ele acordar não quero que esteja muito diferente de como estava quando sofreu o acidente, para que não seja ainda mais difícil se habituar à passagem de tempo. Tom chega assim que termino de limpar seu rosto, e por algum motivo, parece emocionado.

Conversamos mais um pouco sobre suas viagens e me recuso a fazer o café que ele tanto gosta, explicando que hoje é o dia da maldição, o que apenas o faz rir. Mas tudo bem, melhor que meu sogro pense que sou maluca do que me arriscar fazendo o café e explodindo algo de novo.

Quando Tim chega e percebe a presença do pai, é nítida sua mudança de postura. Ele parece rígido de repente e desconcertado. Cumprimenta o pai com um leve gesto de cabeça e me apressa para irmos à empresa, alegando estarmos atrasados, o que sei que não estamos. Não entendo o que está havendo, mas o ajudo. Confirmo que estamos atrasados e deixo Tom com Eros, seguindo Tim rapidamente até seu carro.

— Então... — começo a puxar assunto — conseguiu se resolver com sua paixão misteriosa?

Um sorriso surge em seu rosto, desses de ponta a ponta pouco antes de ele responder algo completamente contrário à sua reação.

— Não. Ela não quer mais dormir comigo, terminamos antes mesmo de começar.

— Que bom que isso o deixa feliz, então.

— Ah, não, não deixa. Me deixa destruído, na verdade. Amo dormir com ela. Mas bem, isso também me dá a chance de deixá-la ainda mais maluca do que já é.

— Não entendi, achei que o fato de ela ser maluca fosse exatamente o que a tornasse proibida para você.

— Ah não, sua loucura é como um afrodisíaco para mim. É sua sensatez que me afasta dela. Preciso destruir seu juízo e poderemos então ficar juntos.

Quanto mais ele fala, menos eu o entendo.

— Tim, você tem dormido bem? Tem se alimentado direito? Está tudo funcionando na sua cabeça? Porque estou começando a achar que a loucura dessa sua paixonite é contagiosa.

— Você está certa! Loucura é mesmo contagiosa — concorda ligando o rádio em seguida e começo a temer que será meu estranho e recém-maluco cunhado quem vai me proporcionar a terceira maldição dos dois meses.


Quando as portas do elevador se abrem e piso no chão firme da Reymond, abro um sorriso. Tim não foi o causador da catástrofe, e uma vez aqui dentro, nada mais acontecerá. De forma que só voltarei a correr riscos quando estiver indo embora, do lado de fora, mais tarde. Até lá, posso respirar em paz.

Mas minha paz dura meros cinco segundos antes da cara nojenta da Louisa surgir diante de mim com a expressão azeda de sempre. Espero que faça a reclamação diária ou a indireta de sempre, mas, de má vontade diz:

— Tem um homem te esperando no terraço.

— Que homem?

— Não sei, não sou sua secretária.

— Vá até lá e peça a ele para vir aqui se quiser falar comigo, não irei encontrá-lo lá em cima — peço.

Eu é que não vou procurar terraço no dia exato da maldição.

— Como eu disse, não sou sua secretária. E nem adianta procurar sua secretária porque ela foi embora mais cedo.

Algo me diz que isso está mal contado, Sabrina sabe sobre a reunião que teremos e jamais perderia a oportunidade de importunar o Monteiro quando ele for babaca comigo, então onde ela poderia ter ido?

— Tudo bem, obrigada — respondo indo em direção a sala, mas Louisa me impede entrando na minha frente.

De má vontade revela quem é o homem que me espera lá em cima.

— O homem que a aguarda lá em cima é o senador Farias. Está com a mulher dele. Provavelmente quer pedir algo grande, só estou te falando isso porque sei que essa empresa vai de mal a pior sob sua administração e não quero ficar desempregada.

— Quanta nobreza sua me dizer isso, Louisa. Você devia receber um aumento!

Seus olhos brilham por um segundo, mas logo percebe a ironia em meu tom de voz e sai batendo os pés.

Me dirijo até a sala de Eros e deixo minhas coisas lá, então subo até o terraço para convencer o senador e sua esposa a termos essa conversa na sala do Eros, e não no terraço.

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora