3 - parte 03

5.7K 1K 63
                                    

DISPONÍVEL ATÉ 23/01.

A alcanço na porta, já vestindo seu casaco enquanto observa a rua.

— Eu posso ir de táxi. Você precisa descansar.

— De jeito nenhum! Eu a trouxe, irei levá-la.

Ela abre um enorme sorriso e finalmente olha para mim.

— Como se você se importasse com isso. Geralmente quando vou a algum lugar com você, preciso me virar para ir embora.

Levanto a mão assumindo a culpa.

— Culpado, pequena bruxa. Mas isso não vai mais acontecer, prometo. Sempre irei deixá-la segura e tranquila na porta da sua casa.

Ela dá um passo para mais perto de mim e seus olhos marrons parecem maiores quando fala de forma ameaçadora:

— Cuidado, tipinho, um homem que não honra sua palavra não pode ser considerado um homem.

— Eu honro tudo o que prometo — confirmo tocando de leve seu rosto, apenas para sanar minha curiosidade sobre a textura de sua pele, mas ela se afasta tão rápido em direção ao carro, que sequer consigo confirmar o quão macio seu rosto é.


— Que romântico! Seu namorado está te esperado na porta. Mas acho que não tem flores hoje — provoco ao parar o carro na porta de sua casa e avistar Ulisses sentado ali esperando por ela.

— Hoje não é meu dia — resmunga baixinho.

— Eu ouvi isso, sua ingrata! O jantar nem foi assim tão ruim.

— Fale por você — responde descendo do carro. — Você foi você. Eu não fui eu. Pratiquei o exercício da paciência, e parece que vou continuar a praticá-lo.

— Eu não estava dando em cima de você, se é a isso que está se referindo.

Ela revira os olhos e bate a maldita porta. Ela sempre bate a maldita porta! Arranco com o carro e durante todo o caminho até minha casa, me pego pensando o que posso ter feito durante o jantar para ter dado a impressão de que estava dando em cima dela. Até que me dou conta que além de acariciar seu rosto sem qualquer desculpa, a descrevi quando me perguntou o tipo de mulher por quem espero me apaixonar.

Me pego rindo sozinho no carro. E eu nem fiz isso de propósito.


— Acorde, Eros. Já são três semanas, cara, até quando vai ficar com isso?

Ayla entra no quarto com sua mochila e uma expressão cansada. Observa Eros ainda imóvel e o brilho de seu olhar apaga.

— Todos os dias eu entro aqui esperando encontrá-lo acordado — explica.

— Eu também. Mas não vai demorar para termos essa agradável surpresa.

Ela concorda e deposita suas coisas sobre a cadeira, tirando o que precisa ficar no frigobar e arrumando a bagunça que se encontra ali.

— Preciso falar com você, querida. A senadora está sendo bastante compreensiva por conta da situação do Eros, mas ela não vai esperar para sempre por seu projeto. Além dela, há clientes que não estão sendo compreensivos. Eros assinou três contratos antes do acidente, alguém precisa cumpri-los.

— Vou cuidar do projeto da senadora, posso acompanhar as obras por vídeo, confio na equipe que o Eros havia designado, é a empresa do primo de vocês, não é?

— Pedirei ao Nicholas para ir pessoalmente para lá então, e coordenar essas obras ele mesmo.

— Os outros projetos, peça aos arquitetos da Reymond para fazer. Tem mais dois lá que eu saiba.

— Eles tentaram, os clientes não aceitaram. Disseram que o que fizeram não se parece em nada com o que foi prometido por Eros. Temo que algum deles nos processe.

Ela se senta e observa meu irmão atentamente, esperando que acorde.

— O que você quer que eu faça? — pergunta finalmente.

— Os projetos. Ao menos tente. Uma ideia a mais antes de termos que recorrer a arquitetos de fora. Há mais uma coisa, alguém precisa acompanhar a administração da empresa, estou cuidando pessoalmente disso, contratei mais uma assistente para me ajudar no jurídico, mas tio Olavo insiste que só quem pode responder por Eros, é a esposa dele.

Ela me olha assustada.

— O que isso significa? Eu não sei administrar uma empresa, Tim.

— Eu sei, não é o que estou pedindo. Não sou presidente da Reymond, Ayla, e na verdade também sou péssimo em administração. Tenho muito trabalho, não posso resolver problemas de projetos com clientes, problemas no RH, não posso apresentar propostas, nem acompanhar a obra do governo ou da senadora. Nem mesmo a do prefeito, do seu projeto. Você precisa fazer isso. Quatro dos projetos que estão em andamento agora são seus, Monteiro não quer se responsabilizar por eles, você precisa fazer isso. Eu sinto muito.

Ela parece tão cansada de repente e me sinto péssimo por adicionar mais esse peso à situação nada fácil que está passando agora.

— Tudo bem, amanhã irei até a Reymond, vou verificar as anotações dele, os projetos que estão parados e tentar fazer algo. Mas não sou ele, não sou brilhante e experiente como ele, eles podem não gostar do que vou fazer também.

— Precisamos tentar, sinto muito mesmo. Prometo ajudá-la no que for preciso.

Deixo o hospital sentindo-me ainda pior do que estava quando cheguei. Conversei com Alexandra, a médica de Eros, ele já deveria ter acordado. Não há nada de errado com ele de forma que só nos resta esperar. Essa noite, decido dormir na casa da mamãe, há dias não nos vemos e sinto falta dela. Tenho vontade de contar a ela como me sinto e que Sabrina está me ajudando, mas temo que isso vá magoá-la mais do que me beneficiar por colocar para fora, então deixo para lá e digo a ela que está tudo bem.

Então mando uma mensagem para a pequena bruxa:


Não fui egoísta esta noite.


Logo, vem sua resposta.


Que bom!


Isso é tudo que tem a me dizer?


Acaso você quer um prêmio?


Na verdade, eu merecia. Eu até poderia te dar algumas opções para que vc me presenteie, opções que seriam divertidas para nós dois.


Ela demora cerca de seis minutos a responder. Já espero o texto me chamando de canalha, cafajeste ou algo do tipo, mas o que responde é completamente inesperado.


Vc poderia. Mas foi vc quem disse que não faço seu tipo. Com a quantidade enorme de defeitos que vc tem, imagino que não vá querer adicionar mentiroso a quota.


Porra! Vc sequer sabe brincar. É chata pra caralho!


Ela não responde mais e vou dormir irritado por ter me deixado no vácuo.

---------------------

Até terça, amoras! Tenham um lindo final de semana!

DEGUSTAÇÃO - Quem disse que é amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora