Capítulo Trinta e Três

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Thomas

Sei que não deveria ter escondido tanto tempo dela que já vinha desenhando seu rosto desde que a conheci. Só não sabia como entrar nesse assunto, sem ela reclamar. Ela detesta ter sua privacidade invadida, como assumir que eu fazia isso, e ainda às escondidas? Não sei. Mas isso aconteceu da pior forma possível. Descobriu sem ser de mim.

Passamos o restante da noite calados. Vez ou outra eu notava seu olhar me queimando. Mas não no bom sentido, ela me fuzilava com os olhos. Eu apenas me desviava deles.

A gente se dava tão bem. A gente se fazia bem. A Alessandra, de certa forma, deu uma alavancada na resolução da minha fobia. Eu já vinha melhorando aos poucos, mas depois dela, isso melhorou bastante, e bem mais rápido do que vinha evoluindo. Agora, assumir pra ela, que eu fazia algo escondido, e desse jeito, talvez me faça parecer um pouco... louco?!

Falamos sobre vários assuntos, e entre eles, a possível mudança da Alessandra pra cá, claro, que ela foi neutra. Em momento nenhum demonstrou empolgação, contrário do que imaginei que faria. Isso me incomodou um pouco. E ela, sabe da minha insegurança, sabe o que isso me causa, e só por isso é que escondi dela tanto tempo. Ok, muito tempo por sinal. Ela deve estar mesmo chateada. Acredito que se me colocar no lugar dela, isso me incomodaria bastante. Não se ela tivesse feito nada disso, mas se tivesse escondido de mim.

-Bom galera, vou nessa. Agora moro sozinha, durmo sozinha, e chegar sozinha a essa hora, não é nada seguro. – A Melissa se manifesta. Se levanta e vem até a Alessandra abraçar e beijar.

As duas se despedem rápido, e Alex faz o mesmo.

-Docinho, eu te levo. Vamos mesmo pro lado de lá não é Diego?

-Mas a gente ia...- O Diego para e o Alex lhe lança um olhar mortal, e logo ele sorri –Claro, vamos sim.

-Não se preocupem. Eu deixo a Mel em casa. Vou mesmo pra lá, porque gostaria de conversar com ela. – Gustavo olha pra ela esperando alguma resposta e a Melissa revira os olhos. Droga! Isso parece que pega.

-Pode ser Gustavo. Vamos! – Ela pega a bolsa, agradece a oferta do Alex, e pede pra eles se divertirem.

Todos vão embora, e assim que nós entramos, porque os levamos do lado de fora, a Alessandra passa em disparada para o banheiro, e fica lá por um tempo, trancada. Deve ter passado cerca de vinte minutos por lá. Comecei a ficar preocupado, mas não vou invadir seu espaço.

Tomo uma decisão difícil, mas tem que ser tomada, porque isso pode crescer. Espalho todas as fotos dela, na sequencia, as que tenho desenhadas. Uma ao lado da outra, exatamente na ordem em que desenhei.

Ouço a porta destrancar, mas ela demora em aparecer, portanto, vou atrás dela e a encontro na varanda, apoiada no muro baixo, com os dois braços apoiados, com aquela bunda arrebitada, e claro, antes de me aproximar, tiro uma casquinha admirando.

Me aproximo dela em silêncio, quando penso que ela ainda não me notou ali, ela apenas solta: - Vai ficar aí atrás de mim me olhando, ou comendo minha bunda em seu pensamento ou vai falar alguma coisa? – Wow. Ela poderia ser menos direta às vezes. Nisso tenho que concordar com ela.

-Você se acha, mas está certa. Estava mesmo olhando. Não a comendo, nem mesmo no pensamento, porque isso é bom se fazer de verdade. Mas, em todo caso, vou optar por me aproximar, claro, se você não se importar. – Ela não responde, e eu imagino aqueles pedacinhos do céu, que ela chama de olhos, revirando.

Eu me aproximo mesmo assim. Mas permaneço em silêncio. Ela também. E por cerca de dois minutos, só ouvimos nosso ar sendo puxado com força pra dentro, porque mal dá pra respirar. É muita angústia.

Inocente pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora