22• Congelados

241 9 0
                                    

Will

Acordo com o despertador, de vagar eu vou lembrando que não estava no meu quarto...
Estela ainda dormia. Fico brincando com as mechas do seu cabelo esperando ela acordar pra que eu voltasse pro meu quarto.

-Bom dia. - Ela diz enquanto levanta e me dá um abraço.

Calma Will, estágio 4, esta tudo bem, eu acho.
Corro os olhos pelo quarto até parar nos remédios...Dana...

-Estela eu tenho que ir...

-Volta mais tarde? - Ela faz uma carinha tão fofa que seria impossível dizer não.

-Tudo bem. -Digo sem graça sem saber se eu ia poder voltar

Saio rápido do quarto, se eu ficasse lá zanzando provavelmente Dana ia chegar, perguntar o que eu estava fazendo lá tão cedo e aí eu teria que dizer a verdade...

-Oi Dana. - Digo naturalmente enquanto passo pelo corredor em direção ao laboratório.

-Olá Will, tudo bem? Sabe se a Estela está acordada?

-Ainda não fui ver - Minto e depois entrei no elevador, ajeitando a máscara e os fios de respiração.

Passo pelos exames, meu nível de plaquetas estavam altas e perfeitas, a partir daí eu fico satisfeito, tomo uma injeção de hinoloplatina, perfeito.
Estágio 3 pra 4.
Diminuiu tanto, meu deus, estamos mais perto do que nunca Estela, e eu feito um idiota não acreditava em finais felizes.
Depois de todos os exames eu vou embora, encontro a Estela parada na portaria, observando a neve cair. Nunca nevava, era a primeira vez que nevava em muito tempo, e eu finalmente podia ir.

-Vamos?

-Will eu não...

-Vamos..... por favor?

Ela suspira e anda bem devagar em direção a neve com medo de cair, parecia que nunca tinha feito isso antes.
Depois que se acostuma com a neve seus passos ficam mais firmes. Deita na neve e. fica lá, eu vou junto e pela primeira vez a fibrose não importava tanto assim era como se ela nunca tivesse existido.

-Vemos as luzes?

-Na sacada?

-É só andar até ali Estela.

Eu insisto tanto que ela finalmente começa a andar em direção a estrada.
Depois de uns cinco minutos de caminhada a fibrose da sinal e respirar fica um pouco mais difícil que normalmente.

-Tudo bem?

-Não exatamente - Respondo ajeitando os fios de respiração.

Continuamos andando até o final da estrada, onde as luzes eram tudo que se podia ver.
Nós nunca vamos ver as luzes realmente de perto, bom, também por que as luzes eram um conjunto formado pelas luzes de vários predios e casas, de perto não fazia o menor sentido.
Eu sigo pro lago, era um lago, agora não era mais que puro gelo.
E feito dois idiotas nós ficamos andando em cima do gelo, escorregando, as vezes caindo mas tudo bem.
E era legal, tipo se você nunca andou no gelo antes igual um retardado eu recomendo.
E fica cada vez mais rápido até que o gelo começa a quebrar...

-Fica aí! - Grito pra ela, se déssemos um passo....

-Will... me ajuda aqui.

-Estende as mãos...

Ela estende as mãos e eu tento segura-las, quando consigo eu vou puxando ela de vagar, se esse gelo quebrasse...
Só que nos caímos, eu acho que nos íamos nos afogar e morrer mas simplesmente não acontece nada.
E Estela começa a rir, começo a rir também e depois de cair mais umas dez vezes nos levantamos.

-Dana vai dar pela nossa falta.

-Eh, vamos embora.

Ela vai na frente, segurando na minha mão e me puxando, a vista perfeita para as luzes, escorados na pequena extensão de uma ponte, ficamos um tempo.
Eu queria patinar de novo mas eu não queria me afogar ou aumentar a fibrose então eu fico quieto no meu canto, observando as luzes.

-Você sempre morou aqui e nunca veio ver as luzes?

-Eu não gosto de ficar andando - Ela diz inclinando na varanda.

-Você vai cair esperta. Cuidado.

-Deixa eu aproveitar Will.

-Eu me importo com você,  desce daí.

Desisto de tentar argumentar com ela, levanto da varanda e começo a andar.
Paro quando escuto o barulho de alguém caindo e em seguida rizos com um pedido de ajuda.

-Will... volta aqui Will... me ajuda.

-Estela. - Volto pra ponte, ela tinha caído da varanda.

Eu avisei, lá estava ela, estatelada em cima do gelo.
Como ela estava conseguindo levantar eu volto a andar, e quando estava bem longe eu escuto seu grito abafado...
Volto correndo o máximo que eu podia, e quando eu chego na beira da varanda ela não estava mais no gelo, e eu só conseguia ver a água, de onde o gelo tinha quebrado...

-Estela?

Só o vento me dá resposta, eu corro até o gelo e fico procurando por ela em baixo da água, eu não conseguia ver onde ela estava. Ela não podia morrer, não agora.
A jeito as mangas da blusa e continuo olhando pela água, e quando minhas mãos encontram um casaco vermelho conhecido...
Ela ainda estava respirando, embora muito pouco e quase não tinha pulso, viva graças a deus e com certeza inconsciente.

-Socorro! - Eu grito,enquanto tento fazer ela acordar.

-SOCORRO! - Volto a gritar e eu sei que era perigoso e uma péssima idéia mas...

Me abaixo, e eu não sabia bem como fazer isso, mas bem era só fazer ela acordar...
E eu repito umas três vezes a respiração boca a boca até ela voltar o pulso...
Ela talvez morra... e foi minha culpa.

-SOCORRO!!! - Grito de novo.

Mas não tinha ninguém pra ouvir então eu só vejo o escuro.. Não sei o que veio depois.

A CINCO PASSOS DE....Onde histórias criam vida. Descubra agora