Capítulo 12
Krisha estava completamente imóvel. Ouviu o barulho das mãos de Alfa contra o gelo, que quebrou e cedeu. Uma abertura para a água se revelou e o monstro se entregou ao mergulho.
Logo em seguida, Krisha e a imagem de Alfa se confundiram, e ela se via mergulhando na escuridão, movendo-se naquele líquido espeço, grosso, talvez pela baixa temperatura, por combinações incalculáveis de volume e pressão. Ela não podia ver nada, mas o Lobo sabia o caminho.
Foi mais fundo e mais fundo, e então entrou por uma abertura subterrânea, para no interior dela, mover-se para os lados entre galerias, e em seguida subir. Quando emergia na água, não estavam mais naquela caverna e naquela gruta. Mas ainda era gelado. Um castelo de pedra assolado pelo gelo. Deveria ser o antigo castelo dos Leoninos, que os Celestiais tomaram para si.
Uma voz sussurrou em seu ouvido.
— Meu querido, meu amado. Prometa que vai voltar para a sua senhora. Prometa que vai voltar pra mim.
A voz a inundou de frio, um frio profundo e inimaginável. Ela deveria estar morta naquele momento. Mas não estava. Ela tinha a capacidade de suportar o frio. Ouviu apenas a sua voz dizer, uma voz jovem, forte e decidida.
— Eu prometo, minha amada, minha soberana. Não importa o tempo, não importam os perigos, não importa a morte. Eu sempre estarei ao seu lado, e mesmo que eu me afaste, eu sempre retornarei para a dona do meu coração.
A voz ressoava em sua cabeça e no tempo. Era uma promessa, era um feitiço e também uma maldição. Krisha podia sentir o sorriso gelado. Era estranho o amor dos deuses.
— Eu aceito. Está feito. Estas palavras estão marcadas na sua alma.
— Não é necessário, soberana. Se eu não fosse seu escravo, eu mesmo me escravizaria em seu favor.
— Você me vende a sua alma?
— Eu a dou.
— Não quero receber. Quero comprar. Eu pego a sua e você pega a minha.
Uma jovem de cabelos brancos seguiu diante dele, correndo por uma ponte de pedra sobre o precipício. Seu sorriso inundava todo o ar e as montanhas ao redor. E krisha se viu avançar em direção a essa jovem de gelo e radiante, sobre quatro patas. Ela ultrapassou a jovem, que subiu em suas costas e abraçou com os braços pelo pescoço. E então eles pularam da ponte. Mergulharam no precipício sem medo. Deslizaram pelas paredes de pedra como quem corria pela colina. Eles saltaram e mergulharam novamente no ar, como se fossem possuidores de asas. E no momento seguinte tudo ficou escuro, e foi atingida no peito, transpassada por uma lança.
Estava agora diante de um campo. Era uma plantação de trigo. Vários chacais arrumavam a colheita em carroças. Um jovem Cás estava em pé diante de uma estrada, ao lado de velho chacal com aspecto solene. Cás chorava. Era uma despedida. Alfa talvez não retornasse.
Novamente estava suspensa no meio de uma imensidão viscosa e espessa. Uma luz apareceu diante dela. Krisha nadou pra lá. Emergiu no templo dos Chacais, onde encontraram o Alfa, o demônio celestial lupino. Tudo estava escuro, mas ela podia ver tudo. Avançou para as escadas e subiu os degraus. Repentino, um lobo monstruoso, um animal de quatro patas, não uma fera, avançou contra Krisha. Ela pode sentir as presas passarem próximos ao rosto. O animal então foi puxado. Ele tinha uma grossa coleira de ferro preso a uma corrente.
O animal retornou contrariado. Foi se acomodar atrás de um homem alto, negro, em vestes luxuosas e púrpuras, com bordados dourados nas golas. Seu rosto era familiar. Krisha percebeu que a corrente dava a volta em uma coluna, e que estava presa numa argola diante do homem. ele a olhou com autoridade, parecia esperar as primeiras palavras. Como não vieram, ele interveio.
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O REINO DOS CHACAIS
FantasyNa terra de Algória, governada por uma raça invasora, os humanos são uma espécie decadente. Sem direito a terras, aos ofícios mais nobres, e não tendo defesa, estão sujeitos aos trabalhos mais desprezíveis, desde recolher o lixo até a limpeza de lat...