Tiveram algum trabalho para convencer o lobo, mas por fim, cedeu. Sobre as suas costas, presos às alças na armadura, Cás e Krisha rangiam os dentes pela influência da energia maligna. O couro do bisão fora usado para envolver a espada, de forma que não fossem afetados ao tocar o sue aço. Precisavam apenas suportar o cheiro da carne podre. Não houve tempo para o deixar curtir. Thu vibrava no alto se seu mestre.
Tiveram a impressão que Alfa amentou de tamanho. Sobre as quatro patas, avançava pelo terreno como o monstro que lidara a matilha. Primeiro avançou pela estrada, depois a ignorou por completo. Atravessou montes, adentrou as florestas, e saltou por cima de cânions.
Seguiram em direção a costa, ao norte e a oeste, mas evitaram as praias. Não tinham interesse em visitar aqueles vilarejos. Era raro, mas alguns poderiam ter postos do exército, ou os chefes locais poderiam representar algum problema.
Naquele trecho, as cordilheiras ficaram menos severas, e eles se contentaram em as rodearem a alguns quilômetros do mar.
Abrigados por uma pedra, pararam para descansar. Krisha estava de joelhos no chão, e Cás também recuperava o fôlego. Embora não tivessem corrido, a energia maligna os deixava exaustos.
— Ainda falta muito pra chegarmos?
— Já passamos na metade do dia. No final chegamos ao vilarejo dos gatos.
— Eu pensava que estávamos evitando os vilarejos.
— Esse é diferente. São velhos aliados.
— Gatos? Aliados dos chacais?
— Pra você ver a que ponto chegamos. É o fim do mundo.
A corrida recomeçou. Era como montar um cavalo selvagem. O vento tornava o tempo mais frio. Por vezes, krisha pensou que despencaria. Cás e segurava. Ele parecia acostumado àquela vida. Julgou que deviam lhe restar poucos anos. Entre eles, Thu apurava as narinas. Os ventos traziam cheiros dos mais diversos sentidos. Vilarejos próximos, o cheiro do mar revolto, que os habitantes do continente relutavam em enfrentar, porque estava cheio de monstros marinhos, e as ondas eram indomáveis.
Depois do final do dia, já escuro, o frio estava insuportável. Nada parecia deter o velho lobo. Ele também não precisa de luz para guiar seu caminho. Era uma criatura, e não havia dúvidas que chegaria ao seu destino. Krisha não sabia quando, e se resistiria até lá.
Adiante, Thu avistou algumas luzes. Deveria ser o vilarejo. Pela primeira vez eles se aproximavam da costa. O mar parecia mais agitado ali. Ainda assim, a costa estava de cheia de amplos barcos a remo, com serpentes desenhadas na proa
Alfa deixou de correr. Sua tripulação desceu. Krisha buscou abrigo nos braços do príncipe. Estava tonta. Depois pensou que fez mal em se apoiar em Cás. Ele não devia estar diferente. Thu também desceu. Foi andando na frente do grupo. Alfa foi devagar atrás.
Houve uma movimentação. Um grupo de gatos saiu dos casebres distribuídos. Jovens, nas mais variadas cores, brancos e rajados, negros e cinzas, aparecem. Um gato jovem e forte, pouco mais baixo que Cás, tomou a dianteira.
— Quem são vocês? O que desejam?
Cás se revelou na escuridão.
— Sou sou Cás, o príncipe Castanho, do Reino dos Chacais.
— Quem é esse humano? — Um felino comentou.
— Olhem atrás dele. É o lobo das histórias do nosso avô.
— Não pode ser? Seria verdade?
Krisha sussurrou no ouvido do príncipe:
— Vocês não vieram por aqui?
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O REINO DOS CHACAIS
FantasyNa terra de Algória, governada por uma raça invasora, os humanos são uma espécie decadente. Sem direito a terras, aos ofícios mais nobres, e não tendo defesa, estão sujeitos aos trabalhos mais desprezíveis, desde recolher o lixo até a limpeza de lat...