Capítulo 30

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As chamas se extinguiram. A feiticeira estava ajoelhada, nua, sobre o chão rachado e fumegante. Adiante dela, escombros deviam ser o que sobrou do golem sinistro. As lágrimas voltaram a correr pelo seu rosto, e seu grito ecoou pela câmara oculta.

O entulho tornou a se mover. O barulho a fez despertar de seus lamentos. Os espíritos continuavam sobrevoando a sua cabeça, como besouros nebulosos, deixando rastros atrás de seus núcleos densos.

Ela se levantou e se aproximou das pedras que se reuniam pouco a pouco. Um dos pedregulhos chamou sua atenção. Ela o tomou nas mãos e viu que havia algo escrito nele.

— Você matou o príncipe.

— Você vai morrer também.

— Não há esperanças para a humanidade.

— É o fim de tua raça.

— A rainha te matará.

— Fuja.

As lágrimas voltaram a rolar.

— Calem a boca seus miseráveis.

Rizadas. Ela estava sendo alvo de chacota de espíritos?

Ela conseguia entender o que estava escrito. Achou estranho, porque nunca soube daquela linguagem. Deveria ser uma escrita antiga dos chacais. Ela entendia. Aquela palavra significava verdade.

— Feiticeira. Vá embora.

Era a voz do Cás?

— É mentira! Não é você.

— Vá embora, feiticeira. É o fim de nossa missão. Se salve. Está tudo perdido.

— Nunca acreditei em você vivo. Não vou acreditar morto.

Ela ergueu o dedo. Uma sombra surgiu na ponta. Era um buraco escuro, igual aquele que viu o velho lobo conjurar. Ela usou a sombra para ferir a rocha, e apagar parte da inscrição. A palavra que lia "verdade" virou "morto". E a pilha de rochas que se formava desmoronou. Os espíritos que a rodeavam sumiram, e ela pode ver um grupo se aproximando.

Correu ao encontro deles, indiferente a estar nua. Correu desesperadamente, sem conter as lágrimas que rolavam pelo rosto, sem ter perguntas, sem acreditar em mentiras ou em verdades, para abraçar um príncipe castanho coberto de feridas, sangrando, também aos prantos, mas vivo. Ele retirou o manto para cobrir a nudês da feiticeira, e eles se beijaram, sem trocar palavras.

Em seguida se abraçaram sorrindo, ao mesmo tempo que aos prantos. Nenhum dos outros membros da comitiva ousou perguntar o que tinha acontecido. Cada um a seu modo, precisou enfrentar os próprios demônios, mas os piores testes foram destinados aos da raça humana.

— Está pronta para o teste final?

— Não acredito que ainda pode haver mais.

— Mas tem. A bacia das almas. Está lá. Precisamos concluir nossa missão.

— Vamos. Se chegamos até aqui, precisamos seguir em frente.

Na outra câmara, diante do lago branco, reparou várias outras portas que traziam para aquele lugar. Devia ser um labirinto. A névoa deveria ter arrastado cada um para um local diferente.

— Como você escapou?

— Meu pai me encontrou. Sem ele, acho que teria sucumbido. Eu pensei que tinha te perdido.

— Eu pensei o mesmo.

— Depois saímos em busca dos outros.

— Você sabia como derrotar os golens?

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