Capítulo 28

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Antes que o ânimo e a boa vontade de Baba Durga se desfizessem, Cás a interrompe.

— Baba, tenho mais um pedido para lhe fazer.

— Faça todos, meu querido.

— Precisamos ir até a bacia das almas.

— Já esperava este pedido. Mesmo que os mamutes sejam fortes, ainda são insuficientes para a guerra. E somos pastores, não guerreiros.

— Entende o que faremos?

— Trata daquela magia sinistra do mestre Alfa? Entendo perfeitamente.

— Talvez Oroboro possa nos acompanhar.

— Será impossível.

— Babá Durga vai se recusar a ajudar um neto?

— Você é ardiloso como os humanos, e os celestiais. Não faria isso. Ele tem outras missões. A partir de hoje, ele vai começar a visitar as aldeias distantes para convocar os mamutes jovens para a guerra, levando nosso pedido a cada anciã das comunidades.

— Há a possibilidade de não virem em nosso auxílio?

— Todas as minhas irmãs atenderão ao meu pedido. E tem outro motivo também. A bacia das almas é um território proibido. Tem apenas um mamute que poderá levá-los. Terei que chamá-lo também. E vocês vão precisar convencê-lo.

— Eu pensei que você, criança tinha alguma autoridade sobre a sua espécie. — A voz divina atravessou o ar, chamando a atenção da anciã.

— E tenho autoridade. Mas ser o guardião da bacia das almas prejudica o espírito. Curava é diferente. É preciso ter uma mente rebelde para suportar o encargo. Se ele não for descrente, a bacia vai enlouquecê-lo. Eu o trarei aqui. O resto é com vocês. Desde que mantenham a Celestial com a boca fechada. — A anciã disse para Cás com um sorriso, levando o dedo peludo a boca do jovem, indicando um sinal de silêncio.

Branca não respondeu a provocação, virou-se e saiu da tenda. Krisha também não esperou. Acompanhou a celestial. Cás ainda demorou um pouco, compartilhando com a anciã um abraço caloroso. Thulla veio logo em seguida. Também dividiu um longo abraço. O lobo chegou o mais próximo que podia. Uma anciã não poderia tocar o lobo, sob o perigo da fera lhe roubar o pouco de vida que lhe restava. Oroboro, no entanto, parecia preocupado. Demonstrava acreditar que a anciã poderia sacrificar a própria vida para tocar uma última vez o pelo de seu mestre. O lobo se curvou num cumprimento solene. Lágrimas escorreram pelos olhos da anciã. Ela retribuiu com um gesto de reverência.

Em poucos instantes, estavam todos do lado de fora.

Cás se aproximou da feiticeira.

— Você saiu muito rápido.

— A velha não gostou de mim.

— Ela te adorou. Estava somente te provocando.

Oroboro saiu logo em seguida. Ele parou um instante olhando para o golem de pedra, que não entrou na tenda. Petrus desperta-lhe uma atenção especial.

— Já tinha visto um golem antes? — o príncipe quis saber.

— Já. Quer dizer, não. É difícil explicar.

— Adoraria ouvir.

— Você me entende, golem?

— Claro que entendo, mamute.

— Ele fala! Quem o criou?

— Mestre Alfa.

— Então ele é capaz? Minha baba nunca me disse que ele tinha esse poder. Não é algo que ela poderia ter esquecido. Eu pensava que essa magia era exclusiva de humanos.

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