Capítulo 9
Quanto mais se afastavam do litoral, mais frio o continente ficava. Entre aquele caminho pedregoso, aos pés do paredão íngreme escalado por Alfa e Cás, Thu procurava um abrigo. Ele podia sentir que estavam sendo seguidos. A subida exigia que escalassem. Talvez fosse possível se ocultar entre algumas reentrâncias na rocha. A subida era acidentada, e algumas aberturas poderiam facilmente passar despercebidas. Mas aquilo significava provavelmente sacrificar o bisão e a bagagem. Com eles, seria impossível qualquer manobra. Teriam que esperar até o retorno de seus mestres. Infelizmente, não podia precisar o momento exato do retorno. Thu não poderia supor quantos obstáculos enfrentariam, e qual o estado ao voltarem. Mas confiava em seus mestres. Eles seriam capazes de recuperar tudo, menos sua vida caso a perdesse.
— Mestra, teremos que subir rápido.
— E o bisão?
— Teremos que sacrificá-lo.
— Não podemos.
— Não há outra forma. Não podemos morrer antes dos mestres voltarem. Vou tentar carregá-la.
— Será impossível. Vou tentar levitar. Você me guia para o caminho necessário.
Thu bateu no lombo do bisão que seguiu em disparada, seu trote pesado sobre o chão duro. Em seguida o jovem chacal agarrou-se as pedras e começou a subir. Ele era ágil como uma raposa da montanha. Krisha chegou a duvidar de sua ascendência. Mas a feiticeira continuava presa ao chão.
— Rápido, mestra. Eles vão nos alcançar.
— Droga! É fácil levitar moedas e bolsas. Já uma pessoa, é complicado.
— Mestra, a senhora deve ser pesada.
— Sou leve como uma pluma. É somente mais complexo. Você não entenderia.
Agora vai ter que ir de qualquer jeito.
Krisha sentou no chão com as pernas cruzadas. Estendeu as mãos de palmas para cima sobre as coxas e pronunciou o feitiço.
— Agelus alas!
Um círculo de transmutação se formou debaixo dela, e seu corpo começou a levitar. Thu se esticou e agarrou seu manto, e passou a subir a encosta, com uma rapidez que impressionou Krisha. Ele avançava, pulava de uma pedra protuberante para outra, para a esquerda e para a direita, sempre subindo, até que a própria maga passou a sentir vertigem. A determinada altura, ele foi escalando cada vez mais para a esquerda, até que encontrou uma abertura na rocha, esgueirou-se e percebeu que era grande o suficiente para caber ele e Krisha lá dentro.
— Vamos conseguir nos esconder aqui.
O círculo de transmutação, passou a falhar, até que krisha perdeu as forças por completo. Houve tempo apenas para Thu arrastá-la para o interior da fresta que encontrara, enquanto ela pendeu no ar um breve momento, prestes a despencar no desfiladeiro. No interior da gruta, ela não conseguia conter a curiosidade.
— Me explica melhor o que está acontecendo.
— Eles já vão aparecer. É um grupo que aparentemente está no nosso rastro.
— Cás disse que vocês estão em guerra. Qual o reino que é vizinho de vocês.
— Nossos vizinhos são os mamutes da montanha. Mas não são eles nossos inimigos, mestra.
— Se não são eles, então quem é?
Um grupo já aparecia na estrada abaixo deles. Assim que o grupo apareceu, os dois se esconderam ainda mais para o interior da gruta. Sorrateiramente, tornaram a por a cabeça para fora, para observar o grupo que passava diante deles. Krisha não podia acreditar, mas eram outros gorilas.
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O REINO DOS CHACAIS
FantasiNa terra de Algória, governada por uma raça invasora, os humanos são uma espécie decadente. Sem direito a terras, aos ofícios mais nobres, e não tendo defesa, estão sujeitos aos trabalhos mais desprezíveis, desde recolher o lixo até a limpeza de lat...