XXI

55 9 1
                                    

Na manhã seguinte ao pequeno almoço com todos  reunidos na sala, pedi desculpa, qual mulher resignada e educada, pela minha intrepidez ao invadir a sala de reuniões, em trajes menores. Todos sorriram
-Minha querida, por favor, todos sabemos que o amor nos faz fazer coisas por vezes, que mais ninguém entende senão nós – Disse o Marquês Lá Fayette,  com a sua fala vagarosa piscando o olho – ainda mais uma mulher deveras apaixonada, o coronel Heughan tem muita sorte de a ter por perto, quem me dera a mim que a minha Marie estivesse comigo, casamos há uma meia dúzia de anos mas preferiu ficar em Paris, Versailles tem muitos encantos.
- Com certeza a sua esposa, sente tanto a sua falta como você a dela Marquês, apenas não terá disposição para atravessar o oceano com duas crianças. – disse Sam
- É uma senhora de juízo – declarou Washington.
- Bem não sei o que quererá dizer com isso General – senti-me logo, estaria a chamar-me sem juízo, a mim? – provavelmente considera que eu sou uma pessoa sem juízo? – senti o sangue subir-me à cabeça
- Ah não senhora, por favor, você é um caso à parte, você é uma de nós, a sua ajuda foi e é indispensável, considero uma hora afortunada quando chegou a Monticello, senhora. – aligeirou a voz fazendo uma mesura.
- Eu, realmente fui o mais afortunado, meu amor, de entre todos eles – Sam pegou na minha mão e deu um pequeno beijo, sorri-lhe embevecida.
-Bem, agora que já se elogiaram uns ao outros, gostaria muito de saber se vamos, se ficamos, ou aqui a velhota não tem ordem de saber de nada… ninguém se sente afortunado pelo comer colocado na mesa? , nem das ceroulas lavadas? – Imelda com o seu discurso certeiro fez com que Lá Fayette desse uma valente gargalhada dando várias palmadas na mesa.
- Juro, Imelda que mesmo os imensos anos que nos separam se eu não fosse já um homem casado você seria a minha escolha para companheira.
-Cruzes credo homem, tal não havia de ser, e eu não tinha palavra nesse assunto quer ver? , era só o que me faltava, os meus homens sempre foram homens de ceroulas  de pano, nunca tiveram babados nas ceroulas ah pois não, você seria a minha vergonha quando despisse as calças, homem. – as gargalhadas foram gerais, até Lá Fayette que apesar do seu ar indignado à menção das suas ceroulas com folhos, deu uma risada meio engasgado.
- Imelda – repreendi, mesmo a rir – por favor, esse tema para o café da manhã não é muito apropriado – todos nós rimos, não sei se era dos nervos sobre a missão do dia seguinte, mas não conseguíamos parar de dizer absurdos e rir sobre eles, como que para não falar do que era inadiável, mas Imelda ainda não sabia, depois de Sam ir, eu podia contar, antes não. Não que  desconfiasse daquela alma pura, mais para não desconfiarem de mim.
- Imelda ninguém irá a lugar algum, pelo menos por enquanto, Betsy ofereceu-nos este porto seguro que é a sua casa e ficaremos por aqui mais uns meses, apenas o Coronel Heughan se irá ausentar por uns dias – disse-lhe Washington. Imelda assentiu , olhou para ele de sobrolho franzido e voltou-se para mim.
- E nós vamos ficar aqui Andreza? – Perguntou desconfiada.
- Sim, claro que sim – falei sem olhar para ela com a boca cheia de tarte de maçã, mexendo a cabeça afirmativamente, claro que eu sabia que Imelda não estava a engolir aquela história, ela sabia que eu iria atrás de Sam onde ele fosse nem que fosse por um dia.
-Está bem, então – conformada mas sem acreditar levantou-se da mesa – vou continuar na minha lida, vou ajudar a cozinheira, Sra Betsy acompanha-me? – nem olhou para mim, estaria magoada com certeza, passou pelas portas que nem uma rajada de vento e todos olharam para mim, com pena.
- Tem de ser querida Andreza, tem de ser – disse Washington.
- Sim, eu sei! – pedi licença, levantei-me da mesa e saí da sala.
-Andreza – Sam levantou-se atrás de mim, - espera vou contigo, volto já senhores. – agarrou na minha capa ajudou-me a vesti-la, colocou-me o capuz pela cabeça e vestiu a dele, estava menos frio mas ainda não era primavera, havia neve no chão as cabanas tinham todas as portas fechadas embora a manhã já fosse a meio.
-Não sabes o que me magoa ter de lhe ocultar uma coisa desta gravidade. Imelda é de confiança, ela é para mim como uma mãe, tu sabes. – andava à sua frente como se estivesse atrasada para apanhar a diligência – nunca lhe escondi nada Sam, nada, nem mesmo quando me deitei contigo, lhe escondi, ela nunca nos condenou, não consigo sequer olhar-lhe nos olhos, é muito doloroso para mim e para ela – de braços cruzados sobre o peito continuei a subir o monte sem olhar para ele, apenas sabia que ele vinha atrás de mim porque lhe ouvia os passos estalando os poucos ramos dos pinheiros que ali havia pelo chão. Chegando ao cume do monte virei-me para ele – não dizes nada? Contaste ao teu pai?
- Contei e tens razão Andreza, toda a razão, nunca te poderíamos ter pedido algo assim, eu sei o que Imelda é para ti, compreendo que lhe queiras contar – agarrou-me pela cintura, metendo o seu nariz colado no meu, com a cabeça também dentro do meu capuz – contaremos os dois, hoje à noite chama-la ao nosso quarto e contaremos os dois. Está bem assim? – Agarrei-o pelo pescoço e beijei-lhe os lábios.
- Obrigada, és o melhor homem que conheço.
- Humm e tu a melhor mulher que conheço, sou um homem de sorte, obrigado eu, por me deixares partilhar a vida contigo – beijava-me e passava as mãos por dentro da capa, acariciando-me as costas – amanhã  irei com a certeza que tenho de fazer tudo para voltar, porque não quero viver sem ti  quero ir para Monticello ter muitos filhos contigo.- Beijei-o de volta.
- Muitos? Hummm – franzi o nariz, que ele beijou - quantos?
- Alguns, nunca falamos disso, quantos queres? – beijava-me a orelha, lambendo o lóbulo.
- Bem, dois chegavam – arrepiava-me.
- OK, dois serão. Mas eu não vou deixar de ir para a tua cama, não sou capaz. – dei-lhe o meu pescoço. -É, provavelmente serão mais, E  neste momento senão estivesse tanto frio e não tivesse a certeza que estou totalmente encolhido dentro das calças que mesmo que o procurasses não o encontrarias, começariamos desde já – dei uma gargalhada e lancei a minha mão para baixo metendo-a dentro das calças, ele assustou-se e afastou-se um pouco, rindo também, provei-lhe que estava enganado.
-Está aqui. Encontrei-o. – massagei-o – vês?
- Ahhhhhh, pois está, nem o frio consegue lutar contra ti. – rimo-nos.
- Vamos,? Tenho muito que preparar ainda, logo depois do jantar falamos com Imelda.

Onde Tu Fores... IreiOnde histórias criam vida. Descubra agora