VIII

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-Andreza, podes acompanhar-me? – Sam, aquela voz era inconfundível, olhei para ele e o meu coração pulou, tinha a luz da janela por trás dele,  O que fazia com que os raios solares paracessem que saiam dele, era tão bonito, logo comecei a sentir um calor por mim acima. Retirei o chapéu com mais veemência do que queria.
-Estás aborrecida comigo? – perguntou-me estendendo a mão. – como eu queria agarrar nela e fechar os meus dedos nos dele, cristo por deus, estaria a endoidecer? .
-Não, claro que não, porque estaria?
-Bem talvez por não te ter dito sobre a vinda dos regimentos, -  íamo-nos encaminhando para a biblioteca - mas não foi por mal, também não foi por esquecimento, é que só hoje de manhã tivemos a confirmação de quem viria à reunião, peço desculpa – e vendo que eu não me mexi,  baixou o braço. Ficamos parados, sentei-me e Sam sentou-se perto de mim.
- Sam, não estou zangada de forma alguma, apenas, um pouco dececionada, quando vim para a América vim suspensa na esperança não só de um mundo novo como na esperança da mudança de mentalidades, que a revolução fosse feita para todos e apercebo-me aos poucos que as mulheres continuam a ter o mesmo peso, contamos o mesmo que nada,  contamos o mesmo que os índios, o mesmo que os negros continuam a contar, pensei que a liberdade tão apregoada fosse para todos. – baixei a cabeça olhei para as nossas mãos que se tocavam agora apenas na ponta dos dedos, com a outra mão livre levantou-me o queixo e olhou dentro de mim.
-Andreza se dependesse só de mim… todos serviriam para construir este mundo novo, não só para lutar, como pensa a maioria, mas infelizmente ainda não chegamos aí, por enquanto, mas este é o início de tudo, assim abrem-se as portas para mais, pode parecer pouco, agora, mas quem sabe daqui a uns anos, abrir os portões é o mais difícil, se ganharmos a guerra, estas batalhas, abrimos as mentes para mais. Não acreditas?
-Se não acreditasse não estaria aqui. – senti mais do que o que vi, os seus olhos nos meus, a sua mão na minha face, como que hipnotizada por aquele azul, depositei um beijo na sua mão, puxou-me para ele e assim juntos respirando o mesmo ar aproximamos os nossos lábios e na penumbra da sala, beijamo-nos acariciei-lhe os cabelos tão sedosos senti uma urgência de o tocar, pele na pele, uma das suas mãos agarrou-me o pescoço e baixou até ao meu colo, acariciou-me os seios, por cima do corpete do vestido, nunca antes tinha sentido algo parecido, nunca mais iria ser a mesma, desviei-me ofegante, e procurei no seu olhar o mesmo sentimento, e ali estava, sorrimos um para o outro.
-Quero-te Andreza, quero-te tanto. – Passei os meus dedos nos seus lábios, senti-os húmidos dos meus.
-Nunca senti nada igual na minha vida Sam, também te quero muito.
-Não é o tempo correcto, não há segurança em nada por aqui, mas quero que saibas que estarei sempre do teu lado podes contar comigo para te defender de tudo e todos, estarás comigo nesta luta Andreza, ao meu lado?
-Sempre! – e abracei-o, dando a minha boca novamente, encostei-me no sofá e trouxe-o comigo, senti o seu peso no meu peito, as suas mãos levantaram – me a saia e esgueiraram-se pelas minhas pernas acima. Foi nesse momento que Sam se colocou de pé num salto que me abalou o coração, - Não posso, Cristo não posso, Andreza querida, aceita as minhas desculpas estou-me a portar como um qualquer e a tratar-te não da forma mais correcta. – Dei por mim esparramada no sofá com a vista enovoada e as mãos suspensas, realmente a saia estava um pouco descomposta mas daí a tratar-me como uma qualquer, não seria o caso.
-Oh, Sam – e levantei-me de um pulo arranjando as saias- não estavas só,  eu também tenho culpa, claro, - levantei-me abrindo a distância entre nós, virei-me para a parede para ajeitar os cabelos com as mãos tremulas, senti-o atrás de mim.
-Andreza, - agarrou-me no ombro para me virar com delicadeza e encarei-o. – quero-te da melhor forma que um homem quer uma mulher, mas gostaria de fazer as coisas correctamente e não aproveitar —me de uma situação, nunca me perdoaria.
- Certo! – senti-me zangada e abandonada, a minha perna ainda sentia o formigueiro onde ele antes tinha deixado a mão, queria que ele continuasse? Ali? No sofá da sala, onde qualquer um pudesse entrar? Claro que ele tinha razão, mas eu também tinha, não precisaria de um casamento para me deitar com um homem que desejava. Sabia que não, por isso deveria esperar, a situação apareceria à minha frente. E ele não fugiria..-bem, Sam sabes que não sou dada a convenções, já te o disse, portanto.. Veremos, vamos almoçar —e saí deixando-o plantado na biblioteca.
Fui para a sala onde já estavam todos à espera para o início da refeição
-Andreza, viu o coronel Heughan por aí? – perguntou Washington dirigindo-se para mim pegou na minha mão olhou para o meu rosto –está  doente minha cara? Está muito vermelha, veja se não pegou a sezão, esteve reunida com o pessoal?
-ah, não estou doente General, é o calor, a minha pele ressente-se, só isso. – senti o calor nas faces redobrar.
-Parece que esfregou a cara contra uma parede, minha cara – disse Pulaski, - tem riscos. – De imediato levei as mãos ao rosto, sentindo-me envergonhada baixei os olhos sentei-me, ouvi os passos de Sam ressoarem na sala.
– Bem vamos almoçar, logo chegarão os demais e preciso verificar como estão os quartos, a Sra Osmond disse que iria tratar de tudo, mas não posso deixar tudo em cima dos seus ombros, nem de Imelda não é? – Olhei para Sam que estava carrancudo.
- Coronel Heughan, sente-se perto de mim - disse Pulaski já desviando a cadeira. O sr Heughan, já conhecendo o génio do filho e não o vendo com boa cara, moveu-se primeiro.
- Se me dá a honra General eu sento-me perto de si, temos que conversar.
- Certo Sr. Heughan é um prazer. - Sentou-se cabisbaixo, olhando de soslaio ora para mim ora para Sam, este homenzinho era muito perspicaz, deveria ser por isso o seu sucesso como estratega. A conversa fluiu entre eles de maneira civilizada, só eu e Sam nos mantínhamos calados, apenas sentindo de quando em vez, eu pelo menos, não conseguia fazer com que as palavras  fizessem sentido, os meus malditos olhos atraiçoavam-me, levando-me sempre a olhar para o homem sentado ao meu lado. Senti o olhar de Imelda preso no meu rosto.
- Coronel Heughan – chamava Washington – Coronel Heughan, por Deus, homem que se passa, não me ouve?
- Desculpe General, estou com outra coisa em mente, as minhas desculpas, diga então?
-Estava eu a dizer que o seu discurso amanhã, tem de ser inflamado para chegar aos corações dos nossos companheiros.
-Direi apenas a verdade sobre o que nos trouxe aqui e  sobre o que nos levará mais além, meu General, julgo ser o bastante, para animar as hostes.
-Estou desejando ouvir o que preparou para nós. –disse  Pulaski dobrando-se sobre o seu prato como se quisesse que Sam apenas o visse a ele., Mas Sam, falou como se não o tivesse ouvido, voltado para Washington mesmo ao meu lado sentia-lhe a respiração conforme falava, senti o seu joelho tocar no meu, e um calor logo se repartiu pelo meu corpo, remexi-me na cadeira e vi que Pulaski tinha o seu olhar concentrado em mim, como se me perguntasse se eu tinha bichos carpinteiros.
- Direi o que nos vai na alma, e na deles  com certeza. Falarei para todos, índios, negros, mulheres,  soldados todos somos um só, quero fazê-los sentir que somos um só corpo que todos estamos a defender o que é nosso e do lado certo da justiça, que todos somos poucos.
-Aplaudiria agora, meu filho, mas sinto-me supeito. Eu não diria melhor, concordam senhores, senhora Imelda, senhorita?
- Sam, quer dizer, Coronel Heughan, faço das suas palavras as minhas, saber que apesar de tudo o que possa advir da luta, saber que o fim a alcançar é a justiça e a liberdade, podem contar com a minha casa e com o que necessitarem – voltei-me para Washington – se acaso o fiz pensar o contrário de manhã, foi apenas porque gostaria de ter sido informada antes mas Sam, digo o Coronel Heughan já me explicou que não foi possível, espero que tudo corra pelo melhor e que eu possa fazer parte do processo. Só lhe tenho a agradecer a si General, assim como aos  senhores – e pousei a minha mão na do homem sentado ao meu lado, que não se moveu, mas sorriu-me,  e eu de volta, ficamos uns segundos como se estivéssemos sós ainda com as palavras de cada qual a reverberarem pelos nossos ossos.
- Hum, hum, senhorita – olhei novamente para Washington e para os outros rostos que estavam estupefactos a olharem ora para mim ora para Sam, que ainda estava com a mão por baixo da minha, e deixou ficar e eu também, parecia-me o lugar certo para ela. – agradeço  as suas palavras em nome do exército continental e a sua ajuda não será esquecida, estarei pessoalmente eternamente agradecido pela sua prestação. E pegando nos talheres – Coronel Heughan coma, precisa de forças,  e senhorita Andreza, o coronel precisa das duas mãos, para comer.-  lançou uma pequena gargalhada, que fez com que o Sr. Heughan também dissesse em silencio com o olhar fixo no filho, que estava feliz. Só o General Pulaski, estava de cenho fechado e mandava-me uns olhares de pura consternação.

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