Não me chamaram nessa noite, mas já o previra, não iam acreditar em mim sem confirmarem a situação não sei como o fariam, sem alguém fazer o mesmo que eu, em lugar contrário, mas não tínhamos deixado pontas soltas, ninguém sabia nada acerca de mim, a não ser a verdade que disse a Howe, ninguém sabia de Andreza e isso era um descanso na minha alma, ninguém no exército britânico sabia do meu casamento, nem do meu amor por aquela mulher, tinha saudades dela do seu cheiro, do seu jeito doce de olhar, também tinha saudades da sua perseverança, da sua lucidez, dos seus olhos, da sua pele na minha, podia perder-me nela e nunca mais me encontrar, quando tudo terminasse iríamos para Monticello, teríamos uma vida longa pela frente, repleta, senti o meu pénis levantar-se e passei uma mão por mim , como queria estar dentro dela nesse momento, ouvi o relinchar de Hidalgo e uma voz, assomei-me à porta da tenda com o punhal na mão, levantei a lona e vi um índio a passar a mão pelo cavalo.
- Quem é, ao que vem? – disse agarrando o pescoço do homem com um braço e colocando-lhe o punhal na garganta. Ele tentou livrar-se do meu aperto sem sucesso, falava em Tsalagi, perguntei novamente na mesma língua, não o largando.
- Quem é você? Largue o cavalo.
- Bem já foi meu, e fui eu que te o dei. – virei-o lentamente, sabendo de antemão quem era o homem à minha frente.
- Águia no vento – e abracei-o - irmão da minha mãe, meu tio, que fazes aqui?
- O mesmo que tu, eu espero. – meu deus, aguia no vento estava do lado britânico, como sempre estivera apesar de há uns anos lhe ter pedido que lutasse com a sua /nossa tribo do lado continental.
- Claro, claro que sim, estou do teu lado agora tio, do lado britânico. Só não esperava ver-te aqui.
- Ouvi uma história esta tarde sobre determinado coronel da milícia continental, ter virado de lado, vim ver quem seria o traidor e reconheci Hidalgo, nunca esperei que fosses tu, sabia-te do lado de Washington.
-Não podia mais continuar ali, Washington é totalmente lunático e sonhador, os seus ideais de liberdade não são os meus, já não. – convidei-o a entrar na tenda, reparei que a sua mão direita continuava pousada no seu punhal, o meu tio sempre fora um homem desconfiado, e neste caso com razão mas não podia deixar transparecer nada nem mesmo com ele, aliás muito menos com ele.
- Tu podes ter muitos defeitos, o primeiro foi não quereres assumir a tua tribo, a seguir foi ires por um caminho diferente dos restantes, mas nunca te julguei um traidor à tua palavra.
-Não estou aqui como traidor, falei com Washington nunca viraria as costas a um homem como ele, apesar de tudo merece respeito e consideração, quando saí foi a bem. – duvidava que ele acreditasse nisso.
-Um coronel a sair assim. Se tivesses chegado a General ainda acreditava. E não penses que esta ideia é só minha, os outros que estão com Howe é o que estão a pensar. Diz-me a verdade. – não podia.
-Tio, acredite que foi assim. Nada me prende ao lado continental, estou aqui na defesa da legalidade e apenas isso. – olhei para ele, custou-me mentir a este homem que sempre foi meu amigo apesar de tudo, quando saí da tribo para ir viver com o meu pai, foi ele que me levou até à fronteira, me deu Hidalgo e disse-me que não os esquecesse, que se quisesse voltar atrás seria sempre bem recebido. Agora doía-me olhá-lo nos olhos e mentir-lhe, mas não poderia ser de outra forma tinha de continuar a minha farsa e depois de tudo conversaríamos se ainda estivéssemos os dois com os pés assentes neste pedaço de chão. – É a verdade!
- Muito bem sobrinho, acredito em ti. Vou comunicar isso aos outros. – ah tinha vindo encomendado.
- Não tinhas vindo por ouvir dizer? Afinal mandaram-te em missão? – sorriu com a pele das faces quebrada.
- As duas coisas, só soube que eras tu quando vi Hidalgo. Mas mesmo assim não acreditei. – colocou uma mão no meu ombro – que a vida te seja longa meu sobrinho e que as tuas certezas não diminuam, espero sinceramente que a forca não seja o teu fim. – coloquei a minha mão no seu ombro também e apertei.
-Obrigada tio, assim o espero também.
Após o pequeno almoço , que consistia apenas num pedaço de pão duro, um copo de café e uma maçã que guardei para Hidalgo, fui recebido novamente pelo general Howe, dois capitães e o meu tio Águia no vento, disseram que me iam destacar com 200 homens para o campo de batalha, esta iria acontecer no dia seguinte com toda a certeza. Ainda sem Burgoyne, o que era bom. Aprontei tudo e fui conhecer os homens, todos eles olharam meio desconfiados para mim mas depois de um pequeno discurso que lhes chegou ao âmago, fui aceite, não com empolgações mas isso era próprio dos britânicos nunca deixavam a pose militar, muito sérios e mais direitos que uma vara de metal. Partimos para a batalha ao raiar do sol no dia seguinte, nada correu bem nesse dia, pelo menos para o exército continental, não tinha conseguido avisar ninguém, a minha missão tinha falhado precisava avisar Gates que não se rendesse, e que mesmo que esta batalha não desse certo se ele voltasse a carga em menos de uma semana novamente poderíamos sair vitoriosos Nathan teria de interromper Burgoyne, ele não poderia chegar antes da próxima batalha, consegui passar para o lado contrário sem dar nas vistas e encontrei Gates acocorado dentro de uma trincheira.
-Não tenho muito tempo, mas se perdermos esta não se renda e volte à carga na semana que vem.
- Heughan, não posso sujeitar os homens a mais deste sofrimento, é por demais doloroso, não temos muitos mais do que aqui vês, e mais de metade com ferimentos. – puxei-o por um braço com força.
- General, confie em mim eu não me posso arriscar mais aqui consigo, não se renda faça o que lhe digo, a cavalaria de Pulaski? – esse era o homem necessário.
- Atacaram na frente, não o viu? O homem foi destemido, mas não chegou.
- Ouça, Veja se consegue encontrar Nathan ele que salte ao caminho a Burgoyne, o General não pode de forma alguma chegar a Saratoga, vou fazer com que Howe não espere por ele, este exército está bem pior que o nosso, não vão aguentar, a milícia e a cavalaria mais uma vez, Washington que venha e traga os seus homens, confie por uma vez Gates, La Fayette, virá também. Tenho de ir – já me ia a desviar, mas voltei atrás – tem noticias de Valley Forge?
- Nada. Se tiver procurarei por si.
- Não, não mande ninguém ao acampamento. Logo me dirá na semana que vem, procure saber se está tudo bem, ou mesmo Washington me dirá quando o vir. Na semana que vem! Daqui a oito dias, Gates. Vou preparar tudo para que assim seja. – e fui-me embora, não vi, porque desde que ele não quisesse ser visto, ninguém via, Águia no vento detrás de uma árvore viu-me esgueirar para dentro exército britânico como se fosse perseguido por alguém. Não o vi e ele fez-me saber disso nessa noite. Cansado com estava, não comi senão uma sopa que uma das mulheres me trouxe e como não fui chamado à cabana de Howe, resolvi deitar-me um pouco, e estava naquele espaço de tempo entre o sono e o ouvido atento num zumbido de mosquito, quando algo me prendeu os pés e tentou atar-me as mãos, subi os meu joelhos e apliquei um golpe no adversário ao mesmo tempo que o empurrei para trás e me lancei contra ele no chão, ao tentar agarrar-lhe o pescoço notei as contas e colares à sua volta e senti as penas do cabelo picarem-me o rosto.
- Águia, Águia, por favor ouve. Pára!
-Não, não enganaste-me – e continuava a tentar livrar-se do meu aperto. – enganaste todos os que confiaram em ti.
- Ouve-me, por favor pára – Sussurrei ao seu ouvido. – tens de me ouvir. – fui largando o aperto – olha vou confiar, vou-te largar para falarmos. – Senti-o acalmar-se e sentei-me na cama a olhar para ele sentado no chão a arrumar a sua roupa, passei a mão pelos meus cabelos, estava suado do esforço. – Águia, primeiro desculpa por te mentir, mas tanto antes como agora se te contar ponho em causa tudo. A ti próprio.
-Não quero que me contes nada, bastava que não escondesses, não foi o que te ensinaram pelo menos do lado da tua mãe. Sempre confiaste em mim.. Sabes que nunca te trairia, e pensava que tu nunca me mentirias. – estava sentado no chão a olhar para mim desolada mente - que aconteceu à tua dignidade? Ao respeito para com os teus? Ou já não és um Cherokee?
- Sou, serei sempre. Mas se falamos de dignidade o que estás a fazer deste lado da barricada? Achas por um acaso que os britânicos respeitarão os nativos ? – perguntei-lhe
- E tu achas que serão os Americanos a respeitar acordos que nem conhecem? Acredita que isso não vai acontecer. – Levantou-se e sentou-se numa caixa de armas como banco, agarrou os seus joelhos e olhou-me fundo nos olhos – não será nem um lado nem o outro, tenho cá para mim que ninguém quer saber de nada senão deles próprios e nós que somos os verdadeiros “donos” da terra vamos ser os mais prejudicados, a América será um sonho para alguém, mas para nós será sempre um pesadelo. Não vamos ter lugar no mundo novo, e no velho só teremos enquanto os mais velhos se lembraram dos acordos. É por esses que estou aqui. Mas muitos de nós já partiram, não se quiseram misturar, deram-lhe um pedaço de chão. Como se não fosse deles anteriormente...
- Tio, a Declaração de Direitos de Washington já foi conhecida, os homens são considerados todos iguais e isso inclui os nativos. – até mesmo eu acérrimo defensor de Washington e da Declaração de Direitos, sentia nas suas palavras uma razão. – eu tenho de acreditar nisso e enquanto eu e mais um, acreditarmos nisso lutamos por isso.. – Águia estendeu uma mão para mim.
- Não vou falar sobre ti, aos brancos não vou, quero que, aconteça o que acontecer sobre a tua pessoa, não será culpa minha. Faz o que entenderes, mas lembra-te que eu sou teu e tu és meu. Os Cherokees não magoam um ao outro, não te vou impedir, sobrinho. – e saiu, deixando-me sentado e sem conseguir dormir vesti as calças, saí para andar, precisava respirar...
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Onde Tu Fores... Irei
FanfictionUma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem! Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, ser de vez em quando irascível, teimoso... Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.Eu escolh...